segunda-feira, 25 de outubro de 2010
Rastros de desconfiança
A cúpula do Partido dos Trabalhadores parece que ainda não digeriu e nem se livrou inteiramente da "Síndrome do Impacto Eleitoral" de que foi acometida após o resultado inesperado do primeiro turno. Com uma forte base eleitoral em 18 estados, a militância permanecia anestesiada nas duas primeiras semanas após a eleição. Só mesmo a vitória de Dilma Rousseff evitará a entrega da conta que será apresentada.
Por que tanta ingratidão? E não é que Sérgio Cabral, governador reeleito no Rio de Janeiro, à vista do segundo turno, se mandou para Paris? Será que foi dar uma mãozinha ao presidente da França, Nicolas Sarkozy, num momento em que pipoca greve em todo o país devido à Reforma da Previdência? Na imaginação de Luiz Inácio, são rastros de desalento.
A pequena vantagem que Dilma mantém sobre José Serra desativou o plano do Nosso Guia de se licenciar da Presidência para assumir o comando da campanha de Dilma. Obviamente, o projeto, repensado no calor do resultado do primeiro turno, retornou à gaveta. Mas, se for necessário, será reativado.
Nesta eleição para o maior cargo majoritário do País, o sucesso de Marina Silva gerou a ilusão de uma "Onda Verde" invadindo a política, a partir do mar de votos que ela obteve. Deve-se estar atento e não cair nessa "Onda". Ela é como a tradução de uma gíria do passado: "ilusão". No ir e vir das eleições, os verdes continuam com baixa densidade nos Legislativos estaduais e no Congresso, onde conseguiram, agora, manter a pequena bancada de 15 deputados. Como a versão é mais simpática do que o fato, a Imprensa em geral adota a versão.
Nos corredores da Rádio Observatório, há rastros de suspeição. Há muita tergiversação. As palavras evocam um sem-número do imaginário político. Marina pode até ficar neutra, contudo, bem mais da metade de seus eleitores optou e acredita-se estarem engajados na defesa da candidatura de Serra.
Todos sabem e as evidências mostram que Dilma foi empurrada para o Coliseu pelo próprio presidente Luiz Inácio. Dilma terá que buscar mais nitidez, sair da sombra do criador e demonstrar que tem qualidades. Nosso Guia, por sua vez, construiu uma história encantada para explicar a opção que fez. O perfil do próximo presidente brasileiro será feminino a partir de muitos fatores. Mas resultado também do desempenho da própria candidata. Isso pode ser determinante, mas faz parte receita do sucesso. Hum!
Chama à atenção nesta eleição a importância que Aécio Neves tem neste pleito. Nos jornais há rastros frequentes de desconfiança que soam como advertências públicas para Aécio, de que não se entregaria tanto a campanha de Serra como fez na reta final da eleição mineira. Por que duvidam do compromisso de Aécio com a eleição de Serra? Não há dúvidas, em Minas, de que uma vitória de Serra acabaria com o sonho de Aécio de disputar a Presidência em 2014. Eleito, Serra passaria a ser a força maior no PSDB de forma incontrastável. Luiz Inácio seria empurrado de volta à cena para enfrentar Serra no próximo pleito.
Há quem explore em torno de um compromisso firmado entre mineiros e paulistas. Serra teria sinalizado isso ao falar que era pelo fim da reeleição com a introdução do mandato de cinco anos. Nesse cenário, a sucessão se deslocaria para 2015. Seria, então, a vez de Aécio. Como não há futuro sem presente, o ex- governador mineiro se arrisca de ser protagonista para tornar-se coadjuvante.
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SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com
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