Então é assim.
Dois personagens com pouca projeção na vida pública do Pará se encontram.
Um deles está com um gravador.
Seu interlocutor solta a língua.
Fala pelos cotovelos. Sem peias nem freios.
Fala sem escrúpulos - ou com escrúpulos postos em ocasião de relaxamento absoluto -, num ambiente em que se trocam informações e se emitem juízos pessoais durante encontro privado.
Na conversa, o personagem que acionou o gravador induz o interlocutor - claramente induz - a expelir o que sabe.
O sujeito que fala pelos cotovelos parece, como se diz, pegar corda.
E fala.
E cita pessoas.
E menciona cifras.
E fala em propinas.
Tudo com uma banalidade que assusta até mesmo os habituados a participar de transgressões legais, algumas assustadoras, outras também.
E aí?
O teor dessa conversa vai parar na internet. Pronto. O mundo é o limite.
E tudo aquilo que se falou numa conversa privada é despejado no mundo virtual e escorre para a Imprensa.
Depois, com os excrementos verbais disseminando odores e olores por toda parte, vêm à tona certos escrúpulos, se é que escrúpulos ainda restam em situação que tais.
E haja desmentidos. E haja negações. E haja coisas do tipo "não sei, não vi, não falei e não escutei."
Esse roteiro não é fictício.
É real.
Envolve o ex-prefeito de Marituba, Antônio Armando (PSDB), e o prefeito - por enquanto cassado - de Marabá, João Salame (PROS).
Ambos se encontraram.
Salame estava com um gravador.
Gravou o que quis, enquanto Antônio Armando contava histórias e mais histórias sobre o suposto oferecimento de propinas a integrantes do TRE.
Mencionaram-se cifras.
Citaram-se nomes.
Nomes foram trocados. Criminosamente trocados.
Claramente induzido por Salame a expelir o que supostamente deveria saber, Antônio Armando se regala em contar histórias. Praticamente o faz em meio a devaneios.
Durante a tertúlia a dois, os personagens divertem-se rememorando coisas e delineando cenários em que pacotes de dinheiro - é o que se presume - teriam sido distribuídos a rodo.
Revelado o teor das gravações, vem Antônio Armando à luz do dia para dizer que nem sequer reconhece, como sua, a voz do elemento que conta histórias de tenebrosas transações.
Ao contrário, Salame afirma que seu interlocutor é mesmo Antônio Armando.
Seja lá quem tiver sido, o estrago já foi feito.
Está por aí, rolando neste mundo virtual sem fim, o teor de conversas gravadas que caíram no poço sem fundo das precipitações e do sensacionalismo.
Honras foram feridas. Sofreram sérios gravames.
É uma pena que, neste momento, bem poucos - sejam profissionais do jornalismo, sejam simples integrantes de redes sociais que têm a audiência de milhares e milhões - tenham discernimento e elementos factuais indispensáveis para evitar que fossem lançados à execração pública pessoas que jamais se envolveram e nem se envolveriam em condutas reprováveis, como as mencionadas nas gravações que a Polícia Federal investiga e cuja íntegra, muito mais ampla, da que está presente aí pela internet.
Salame pretendia enredar, agrilhoar, literalmente enrolar o TRE numa teia de suspeitos e suspeitas. Tudo para dizer depois: "Viram? Eu bem que avisei que não seria julgado de maneira isenta".
Antônio Armando ofereceu-se como o veículo falante para externar, acerca do Tribunal, os juízos que Salame nem precisou externar. Somente as histórias contadas já serviram para ilustrá-los.
Ambos são protagonistas de um enredo que escolheram a dedo para servir a propósitos que os dois ainda não explicitaram.
Terão oportunidade de fazê-lo no âmbito de interpelações que serão ajuizadas.
Dificilmente escaparão ilesos das responsabilizações penais e morais que o caso enseja.
Dificilmente.
3 comentários:
E a justiça, o poder, não será arranhado?!!
Não foi arranhado? Nunca esteve?
Não foi enxovalhado?
Alguém nunca escutou algo parecido sobre a atuação, nas sombras, da justiça?
Não há controvérsias?
Ai ai...
Versão "A": João, malandro e malicioso, percebeu que Antônio poderia estar Armando. Marcou um encontro, levou o gravador. João, também um invejável bom de bico, gravador ligado, papo vai e papo vem conseguiu estimular Antônio a falar, abrir a mente e acessar a memória e, generosamente, "abrir o coração desarmado e amigo". Antônio extravasou lembranças e até devaneios retidos, ficou aliviado e quase numa espécie de "após êxtase". João, malandro e malicioso, depois que se despediu do Antônio não perdeu tempo, fez do seu Salame e "crau!" no falastrão Armando e, "por tabela", também em outros que ele queria se vingar e reaver "proveitos" perdidos em maracutaias passadas.
Eu tô certo, ou tô errado?
Versão "B": João, um malandro cheio de malícia, ladino e cara de pau , capaz de praticar safadezas de provocar sofrimentos e prejuízos materiais em seus pares e adversários, contratou um ator de circo mambembe. Bolaram a duas cabeças e quatro mãos o "script". Quando tudo foi acertado e ensaiado, gravador ligado e entabularam toda essa bombástica conversa em que o “Antônio” foi quem mais falou. João e o ator seguiram ao pé da letra o script rico em relatos de malfeitorias, dando nomes aos bois, digo, autores e cúmplices. João fez isso, por quê? Porque percebeu que poderia usar o Antônio, que de “Armando” ainda tem muito o que aprender. Podendo João, de posse desse rico material, o áudio gravado em um smartphone de última geração, mais uma vez fazer jus ao seu nome João Salame, perpetrando sem dó e piedade algo escandaloso e ao mesmo tempo lucrativo. Dito e feito: com uma só Salamada, "crau!" e ferrou com Antônio, um sacana - porém, lerdo, atingindo o que ele considerava o alvo: também ferrando todos aqueles que ele queria se vingar e, então, conseguir reaver "proveitos" perdidos em maracutaias passadas
Eu tô certo, ou tô errado?
O tiro saiu pela culatra:Vejam só. O João antes do seu julgamento gravou esse áudio. entregou pro seu advogado que no dia em que ficou 2X0 pro cassação, falou ao presidente que tudo era bombástico. Confessadamente, o objetivo da gravação era engessar o tribunal, para blindar o salame.O advogado, vendo a causa perdida. Distribuiu o áudio, pra tudo quanto é blogueiro, para atingir todos os seus desafetos, que não são poucos. Porque pela culatra: Todos os que divulgaram fatos, pela forma jactada pelo Armando -so pode ser sabidamente inverídico, respondem por crime de calunia, injuria e difamação, na medida em que usaram meios como a internet para dar a mais ampla divulgação.Ainda tem os danos morais, vai sobrar pro salame, pro advogado e pra quem mais divulgou;. Gente estúpida que pensa que é sabida
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