quarta-feira, 27 de novembro de 2013
Os fingimentos da política
Na vida pública, o desagradável e indecoroso não é apenas roubar. Mentir na cara de pau e ser hipócrita também é feio. O político que assim age, é marcado pela despersonalização - respeitadas as exceções. Agora mesmo, ganha notoriedade nacional mais um caso de roubalheira. É muita grana e afeta a coletividade toda. A viúva está à mingua e uma turma de criminosos lavando a burra. O esquema começou a funcionar antes, ainda na administração de José Serra (PSDB). Esses ladrões dos cofres públicos maculam o exercício da política, desvirtuam-na. É uma caterva descompromissada com um ideário mínimo e primam pela falta de escrúpulos.
Esse escândalo dos chamados “vendedores de acessibilidade”, faz da corrupção a impressionante extensão e as relações políticas de mais uma máfia, agora, a máfia dos fiscais instalada na prefeitura de São Paulo, e muito bem instalada, que está colocando em rota de colisão o prefeito Fernando Haddad (PT) desde que foi deflagrada a operação contra o esquema de corrupção na prefeitura da capital paulista, o ex-prefeito Gilberto Kassab, presidente nacional do PSD, que ficou indignado com Haddad por causa da politização da apuração do esquema de propina.
Após ganhar os holofotes da mídia, a investigação da máfia dos fiscais em São Paulo caminha para uma nada amistosa disputa política. De um lado, os emplumados tentam alvejar os secretários petistas Antonio Donato (Governo), citado em conversas telefônicas comprometedoras por integrantes da quadrilha, e Jilmar Tatto (Transportes), cuja esposa é sócia de um dos auditores fiscais denunciados em um estacionamento da capital. De outro, o prefeito Haddad sai em defesa de seus subordinados e lembra que a denúncia não apenas partiu de sua equipe como os cofres públicos foram lesados pelo bando, impunemente, nas administrações de Serra e de Kassab.
Numa investigação conjunta com a Controladoria-Geral do Município, o Ministério Público montou uma operação para prender quatro servidores, três ocuparam cargos de confiança na gestão Kassab, entre eles Ronilson Bezerra Rodrigues, ex-subsecretário da Receita Municipal, que apresenta sinais de riqueza incompatíveis com sua renda. Dono de vários imóveis, motos, barcos e carros de luxo, os auditores amealharam um patrimônio estimado em mais de R$ 100 milhões. Apenas o agente de fiscalização Luis Alexandre Magalhães conseguiu sair da cadeia, beneficiado por um acordo de delação.
A “derrubação” mais escancarada e mais escandalosa começou a ser “entregue” pelo depoimento de Magalhães, que afirmou: “o esquema era do conhecimento de todos do mercado da construção civil”. As empresas pagavam propina para reduzir o valor do ISS, imposto municipal. Como exemplo da trapaça, a Promotoria cita o caso de uma empreiteira que recolheu, em uma guia, R$ 17,9 mil reais, e no dia seguinte depositou R$ 630 mil na conta de um dos servidores acusados.
Uma semana antes da delação de Magalhães, um diretor da Brookfield confirmou o pagamento de R$ 4 milhões aos auditores fiscais, embora alegue ser vítima da extorsão da quadrilha. Ademais, a ex-companheira de Magalhães, Vanessa Carolina Alcântara, em escutas telefônicas autorizadas pela justiça, ameaça-o de denunciar por estar insatisfeita com o valor de sua pensão alimentícia, R$ 700,00. A TV Liberal mostrou em um desses áudios, vazados para a mídia, ela cita o pagamento de R$ 200 mil para a campanha de Donato a vereador em 2008. Versão confirmada pela servidora Paula Sayuri Nagamati, afastada por suspeita de envolvimento com o esquema.
Agora, ninguém é culpado. Pois é, a coisa parece que vai longe e isso é apenas a ponta do iceberg. Afinal, os dilapidadores dos cofres públicos acumulam, em regra, apreciáveis patrimônios e vivem na mordomia, no conforto, no fausto. É por isso que a rapinagem dificilmente é contida.
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SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com
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