segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013
Conspiração no ministério de Bento XVI
A notícia pegou todo mundo de surpresa. O anúncio chocou toda a comunidade católica. Na segunda-feira, 11, ao término da vinheta do Jornal Hoje (TV Liberal), a jornalista e apresentadora Sandra Annenberg anuncia: O papa Bento XVI renuncia ao papado e a data para o encerramento será dia 28 de fevereiro, às 17h00min (horário do Vaticano). O motivo para deixar o cargo segundo o pontífice é que sua saúde está fragilizada. Ao que se sabe o sucessor de Pedro já foi vítima de dois AVCs (Acidente Vascular Cerebral), usa marca- passo e recentemente fez procedimento cirúrgico para troca de bateria, teve fratura no punho direito, apresenta sinais de artrose em várias articulações com ênfase no tronco, cada vez mais inclinado para frente, que lhe confere a característica típica do velhinho que vai perdendo as forças. Apesar de usar um tipo de andador, o pontífice na missa depois do anúncio da renúncia conduz cerimônia sem demonstrar esgotamento físico.
O que faz o Sumo Pontífice? O papa do século XXI é a principal autoridade legal e espiritual da Igreja Católica Romana, maior denominação cristã do mundo, com mais de 1 bilhão de fiéis, e, com certeza, a mais verticalmente integrada. Na verdade, contudo, as exigências do cargo são muitíssimo maiores. Exige-se de um papa contemporâneo que seja um intelectual, um politico, um pastor e uma estrela da mídia. Deve produzir documentos complexos que determinem o pensamento da Igreja Católica sobre os mais angustiantes problemas da humanidade. O papa precisa ser uma figura pública hábil que saiba usar a indústria global de comunicação em vez de ser usado por ela. O Bispo de Roma deve administrar os recursos humanos e financeiros de grande organização religiosa multinacional. Como governar é escolher, já disse de Gaulle, algumas dessas escolhas estão fadadas a desagradar a alguém.
Além disso, sabe-se que a sede do poder papal sempre foi um espaço de atividades clandestinas e operações secretas. Não poucas vezes, importantes personalidades da cúpula eclesiástica estiveram envolvidas. A grande maioria dessas ações voltou-se contra o pontífice e não a seu favor. Quem vinha observando o semblante do papa constatava um rosto sofrido, disperso e com uma voz quase inaudível. A verdade é que tudo começou com irregularidades no Banco do Vaticano após vazamento de documentos.
Ademais, as acusações de vazamentos dos documentos mostram confrontos travados sobre o Banco do Vaticano em cumprir normas internacionais
de transparência. O presidente do banco, Ettore Gotti Tedeschi, foi retirado do posto. As acusações de vazamentos recaíram sobre o mordomo de Bento XVI, Paolo Gabrielle. Ele confessou o roubo de documentos justificando que “queria provocar um choque para colocar a Igreja no bom caminho”. Acredite se quiser! Em entrevista a Graciliano Rocha à Folha de São Paulo, o jornalista italiano Gianluigi Nuzzi, um dos responsáveis pelas denúncias que deflagraram o escândalo conhecido por “Vatileaks” – o vazamento de documentos secretos da Santa Sé – o jornalista disse que a renúncia de Bento XVI foi causada pela perda de poder do papa para reformar a cúpula da Igreja e que o Vaticano está rachado por intrigas, suspeitas de corrupção e pela divisão no corpo eclesial.
Nuzzi aponta um crescente antagonismo entre o papa e o número dois do Vaticano, o Secretário de Estado, Tarcisio Bertoni, de conspirar contra Bento XVI ao promover uma campanha para afastar o arcebispo Carlo Maria Viganò, responsável pelas licitações do Vaticano, que havia denunciado casos de corrupção.
Bento XVI foi sábio e humilde. O Ministério Petrino vai continuar. Um novo Bispo vai calçar as “Sandálias do Pescador”. A Igreja tem mais de dois mil anos e não quer pressa.
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SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com
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