terça-feira, 13 de dezembro de 2011

O Pará não conhece o Pará

VICENTE MALHEIROS DA FONSECA

Fala-se que o Tapajós veio na esteira do Carajás... Talvez seja o contrário... Carajás é que veio na esteira do Tapajós, cujo sonho já existe há mais de 200 anos.
Agora de nada adianta chorar o leite derramado.
Nada vai mudar. O Governo do Pará, aliás, o Governo de Belém, vai continuar ignorando o interior do Estado. Sempre foi assim e, infelizmente, sempre será.
Os latifundiários não querem perder um milímetro de sua propriedade, embora não saibam o que fazer com a imensidão de suas terras.
A grandeza do Pará não está no seu tamanho territorial, mas na inteligência e eficiência de sua administração.
É uma pena que o resultado do plebiscito tenha sido tão antidemocrático aos velhos anseios de emancipação de uma região tão socioculturalmente diferente de Belém.
Santarém – minha terra tão querida – vai continuar sendo a "Pérola do Tapajós"... que Belém precisa conhecer... Conhecer a cultura do povo do Oeste do Pará...
Mas não fiquemos tristes, pois o Brasil, como os paulistas, por exemplo, não conhece o resto de nosso país. Tudo um jogo de poder. E quem paga o pato são sempre os amazônidas, especialmente os nossos caboclos, quase índios... Há quem pense que aqui só tem jacarés e onças.
Mas não é bem assim. Tem música, tem belezas naturais, tem folclore... Só não tem mais saúde, segurança e educação porque o Governo (de Belém) praticamente ignora o outro Pará, sempre abandonado, sempre esquecido.
O resultado do plebiscito demonstrou, mais uma vez, essa dura realidade: o Pará não conhece o Pará!
Não foi uma eleição. Não havia candidatos nem partidos políticos. Tratava-se de uma consulta ao povo. E o povo votou contra o povo. Não permitiu, enfim, a emancipação de uma região já emancipada de fato.
O momento me inspiraria a compor um réquiem para a democracia.
Estamos de luto.
Realmente o Pará não conhece o Pará.

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VICENTE MALHEIROS DA FONSECA, santareno, é magistrado, professor e compositor

5 comentários:

Anônimo disse...

Infelzimnte, Dr. Malheiros, para Belém e região metropolitana, o senhor é forasteiro,alienígena, usurpador, invasor e outros adjetivos utilizados pelos defensores do não e não. O Pará perdeu a oportunidade histórica de conceeder a vocês mocorongos o desenvolvimento. E perdeu a oportunidade de nos livrarmos dos problemas sociais de Carajás, como trabalho escravo, invasões, crimes rurais, elevadíssima violência urbana, roubos a banco, crime organizdo etc., que nenhum minério compensa. Se compensassem, seríamos ricos, afinal esta dita riqueza já pertencem ao Pará. Afinal, Carajás, se criado, seria o mais violento do Brasil, como não foi, o Pará o é.

Anônimo disse...

Para quem quiser saber mais sobre a vida do "forasteiro, alienígena, usurpador e invasor" Dr. Malheiros (como ironicamente insinua o anônimo das 10:31), sugiro que dê uma olhadinha no seu currículo que consta do site do TRT8 na WEB, inclusive a sua gênese santarena e suas longas andanças como magistrado trabalhista por toda a Amazônia...
Olha só:
http://www.trt8.jus.br/index.php?option=com_juizes&task=judge&tipo=1&id=364&Itemid=202

Esse conhece o Pará e a Amazônia. E pode falar de cátedra.
Dá-lhe prof. Malheiros.
O seu artigo é magnífico.
Seu aluno Sandoval Antunes.

Anônimo disse...

Concordo com o Vicente. Realmente o povo paraense não conhece o Pará. O conhecimento liberta, mas muitos paraenses não possuem o conhecimento das diversas realidades dessas regiões. Votei pelo SIM Tapajós, porque sei que isso faria diferença para nosso País, para nossos irmãos brasileiros. É hora de levantar a cabeça e fortalecer em 2012, durante as eleições municípios, novas lideranças que façam a diferença e trabalhem em benefício da cidadania perdida.

Anônimo disse...

Voto contra a divisão do Pará teria vencido mesmo sem contar Belém
Sem contabilizar votos da capital, 'não' teria 58% do total, em vez dos 66%
FONTE: G1

Anônimo disse...

Mas quando se fala em Belém é bom sempre incluir a grande Belém (área metropolitana) e seus arredores (municípios vizinhos ou quase isso), todos sob o controle dos caciques da Capital paraense.