Essa senhora é Elzita Santa Cruz Oliveira.
Ela morreu aos 105 anos, em junho passado.
Morreu na madrugada do dia 25 de junho, no Rio.
Levou com ela uma pergunta, que não parava de
fazer havia 45 anos. "Onde está meu filho?".
"É justo, é humano, é cristão que um órgão
de segurança encarcere, depois de sequestrar, um jovem que trabalhava e
estudava, sem que à sua família seja dada qualquer informação sobre o seu
paradeiro e as acusações que lhe são imputadas? Que direi ao meu neto quando
jovem for e quando me indagar que fim levou o seu pai, se ele não tiver a
felicidade de ver seu regresso? Direi que foi executado sem julgamento? Sem
defesa? Às escondidas, por crime que não cometeu?", escreveu dona Elzita numa
carta ao marechal Juarez Távora, em maio de 1974.
A espera pelo filho fez a mãe resistir a
qualquer mudança: a casa e o número de telefone permaneceram os mesmos quatro
décadas depois do desaparecimento. Também manteve o quarto do filho. Ela ainda
aguardava um contato.
O filho de dona Elzita, que ela morreu sem nunca
mais ter visto, é Fernando Santa Cruz.
Preso pelos órgãos de repressão à ditadura militar
em 22 de fevereiro de 1974, ele nunca mais apareceu.
Fernando
Santa Cruz é aquele cuja memória foi envilecida, agredida e humilhada pelo
presidente Jair Bolsonaro, aquele a quem
a verdade envilece, agride e humilha.
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