terça-feira, 20 de outubro de 2015
Por que não seguir bons exemplos?
Os maiores defeitos do governo Dilma são a hesitação no porvir e confiança em indivíduos e instituições que respeitam mais o lucro que o povo, mais o ter que o ser. Isso explica a sabotagem e o antagonismo que faz de si mesma, da sua história e ideais de esquerda. Trocando em miúdos, ninguém faz oposição melhor do que Dilma. Foi incapaz de negociar com a oposição, fazer algumas concessões, a fim de garantir um mínimo de governabilidade. Em compensação a oposição é pra lá de ruim.
A presidente não teve a habilidade do bom discurso motivacional. Quando se trata de governantes, a história mostra grandes exemplos, os maiores líderes são aqueles capazes de reconhecer problemas e removê-los do caminho com habilidade e tenacidade. O País precisa voltar a crescer e fluir. Os dutos da intolerância, da inflação e do desemprego, males que afligem principalmente a população mais pobre - é o Estado que não cabe na arrecadação. Por esse e outros motivos a agência Standard & Poor's, numa tacada só, desmoralizou a política econômica da presidente Dilma, colocou pressão adicional em um governo aturdido e escancarou para o mundo inteiro o buraco em que o País mergulhou.
Nesse ambiente estranho que estamos vivendo, o governo é incapaz, não se dá nem ao trabalho de manter as aparências. Tais problemas já desafiaram outros líderes em outras paragens. No palco do teatro da política quando Bill Clinton assumiu a Presidência dos Estados Unidos, em 1992, encontrou uma taxa de desemprego de 7,5%, alarmante para os padrões americanos. A solução fácil para abrir postos de trabalho, na tradição de seu Partido Democrata, seria aumentar gastos públicos e criar barreiras contra produtos estrangeiros. Resistiu à pressão e entrou para a história como um líder negociador, flexível e inteligente.
Clinton fracassou em seu primeiro mandato como governador de Arkansas. Sem dinheiro em caixa para executar seu plano, adotou um impopular aumento de impostos que lhe custou a reeleição. Após esse governo desastroso, em 1982, quando voltou ao poder, apelou para plebiscitos para decidir prioridades e dividir a responsabilidade por decisões amargas. Governou o Arkansas por mais quatro mandatos, até chegar a Presidência. Na Casa Branca, mobilizou a maioria no Congresso para aprovar uma reforma na Saúde. Perdeu a batalha e, nas eleições parlamentares, perdeu a maioria. Aprendeu a governar em minoria.
Em vez de se sentir acuado, buscou apoio na oposição e capturou para seu partido o centro da política americana - um movimento que não foi desfeito até hoje. Convidou egressos do mercado financeiro para o Banco Central. Convenceu a oposição que a reforma da assistência social atendia o Partido dos Republicanos. Enfrentou o sindicato dos metalúrgicos ao assinar o tratado de livre comércio com Canadá e México etc. Nunca um governo americano criou tantos empregos: 23 milhões - 92 % deles na iniciativa privada.
Quando Margareth Thatcher se tornou primeira-ministra do Reino Unido, em 1979, encontrou desafios igualmente formidáveis. Havia oito anos que lutava para reduzir os gastos públicos, em 1987. Ela havia feito um forte ajuste na economia - a inflação caíra de 13% para menos de 5% ao ano, e o orçamento público chegava perto do primeiro saldo positivo. A firmeza de convicções não dispensa um bom líder de fazer persuadir. Em 1971, como secretaria de Educação garantiu acesso ao ensino superior de todo cidadão apto para isso. Tinha visão de Estado, de futuro, persuasão e persistência, convicta das reformas que precisava fazer.
Clinton e Thatcher foram líderes que iluminaram o caminho. Mostraram que há formas diferentes, embora igualmente eficazes, de liderar. Mostraram também que a boa liderança, longe de caber numa fórmula única, pode ser alcançada por meio de diferentes conjuntos de qualidades, desde que preservados os pilares da governança moderna: democracia e responsabilidade fiscal.
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SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com
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