Os conflitos árabes foram os que mais recentemente se notabilizaram em termos bélicos e mais chamaram a atenção do mundo ultimamente. A ideia mais forte, é que o passado nunca volta. Sempre que se quer voltar ao velho, o novo tenta se impor. A democracia nos exige exercício constante, é uma peça em vários atos, com infinitos recuos e subtramas. Franceses, ingleses e americanos a aperfeiçoam há mais de 200 anos. Em alguns países, credita-se, ao esforço incansável do dialogo. Ao Oriente Médio, ela teima em nunca chegar. Mas o grande barril de pólvora acontece no Estado de Israel.
A questão da Palestina é a maior ameaça para Israel. Mas faltam lideranças corajosas para levar adiante as negociações de paz com os palestinos. Há uma grande esperança no Partido Trabalhista de Israel para retomar um protagonismo. Os trabalhistas dominaram a política em Israel dos anos 1970 até o começo dos anos 2000. Seus líderes - entre eles Yitzhak Rabin, Shimon Peres e Ehud Barak - estiveram à frente das mais bem-sucedidas negociações de paz com os palestinos. Com a ascensão da direita israelense, os trabalhistas, assim como as negociações de paz, perderam espaço. Israel precisa tirar a cabeça da areia, reconhecer o Estado palestino e voltar a negociar. O impasse político em Israel é maior do que nunca, enquanto Jerusalém queima.
Nenhum Estado é construído apenas com palavras. O sonho palestino de um Estado próprio também deve ser o sonho de Israel. Não apenas para fazer os palestinos felizes, mas para garantir um futuro melhor para os israelenses. Uma situação muito séria se apresenta: historiador e professor da Universidade de Tel-Aviv, autor de um dos livros mais provocativos deste ano "Como Deixei de Ser Judeu", Shlomo Sand revela: "os sionistas consideram a identidade judaica como algo à parte, uma etnia e mesmo às vezes com bases raciais". E informa: "Na Universidade de Tel-Aviv, há laboratórios que pesquisam o DNA judeu para provar que os judeus são um povo-raça". Não é por aí que se avança politicamente.
A atual coalizão que governa Israel tem muitos obstáculos internos para negociar. Um deles é o Hamas, que é o único governo no mundo que é, ao mesmo tempo, uma organização terrorista. Em 2005, Israel se retirou de Gaza, para permitir que as pessoas de lá tivessem o direito de se governar. O Hamas se elegeu e, em vez de construir casas, hospitais e escolas, gastou bilhões de dólares dados pelo Catar para comprar armamentos e foguetes. O Hamas tem de fazer a metamorfose que o Fatah fez anos atrás, deixar de ser uma organização terrorista para se tornar um ator político legítimo. Ou fazer com que se chegue a um acordo, apenas com Mahmoud Abbas, o presidente de fato de todos os palestinos.
Mas nem tudo está perdido. A Tunísia é o mais bem-sucedido entre os países protagonistas, há quatro anos, da Primavera Árabe. Dia desses, o país promoveu a segunda eleição livre e direta desde a revolução que derrubou a ditadura de Ben Ali, em janeiro de 2011. O segundo turno da eleição presidencial, em 28 de dezembro, será entre Beji Caid Essebi, de 87 anos, líder do partido secular Nida Tunis, e Moncef Marzouki, de 69, ativista de direitos humanos. Antes, a Tunísia já realizara eleições parlamentares e adotara uma Constituição democrática moderna, que garante os direitos da mulher e a liberdade de crença e religião, além de proibir o incitamento à violência e as excomunhões religiosas.
Ao contrário de seus vizinhos, a Tunísia tem uma sociedade mais coesa, sem divisões sectárias. Com a modernização que remonta ao século XIX, a população tunisiana é em larga medida urbanizada, com nível de educação alto e uma classe média ampla. A Tunísia tem também graves problemas, como o desemprego de 18% e a inflação de 6,1%. Vive sob o espectro da infiltração dos extremistas islâmicos e da crescente crise na vizinha Líbia. Apesar disso, demonstra que a Primavera Árabe deu frutos.
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SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com
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