terça-feira, 23 de dezembro de 2014
A tez indelével do mouro
Por acaso alguém já parou para pensar por que os italianos são mais morenos que os indivíduos dos países nórdicos? E os espanhóis e portugueses, por que são menos brancos que os louros islandeses ou finlandeses? Ora, tal fato se deve nada menos do que à mestiçagem de genótipo negro. É que o sul da Europa, banhado pelo Mar Mediterrâneo, está próximo ao norte da África, também banhado por esse mar. Existe uma gradação racial; o sul da África, chamado África Negra, tem característica racial mais negra que o norte, onde estão, por exemplo, Líbia e Egito e que, apesar de não se chamar África Branca, pois seu povo é mestiço, tem população predominante não negra.
Foi no século VIII d.C. que começaram as invasões árabes ao sul da Europa e elas marcaram profundamente as artes, a ciência e a própria feição racial do continente europeu. Mas foi em 710 d.C. que o mouro Tariq ibn Ziyad, com 12 mil soldados árabes e berberes, partindo do Marrocos, invadiu o sul da Europa, desembarcou no rochedo que, mais tarde, receberia o nome de Gibraltar. Em seis anos, toda a Espanha foi conquistada, tendo-se formado, assim, o califado de Córdoba. Um domínio que se estendeu por 700 anos. Os muçulmanos sufocaram o comércio entre o Oriente e o Ocidente. A prática da pirataria, aliada às “razzias” - saques -, imperava.
A invasão moura da Europa veio principalmente do Marrocos e da Argélia. A palavra “mouro” vem do latim “maures” e está relacionada com os termos “marrom e moreno”, caracterizando, assim, a tez daquele povo. Foi a aversão à religião muçulmana (que prega, por exemplo, que Cristo não foi crucificado) que levou à resistência contra os mouros. As lutas contra a ocupação começaram principalmente no século XI, a partir do norte do que hoje é a Espanha. Foi o afamado herói El Cid quem, a partir do Reino de Castela, que viria a formar a Espanha, junto aos reinos de Aragão e Navarra, promoveu a resistência. Por volta de 1250, os cristãos haviam conseguido recuperar a maior parte da Península Ibérica. Os invasores só cederam em 1492.
A Itália também foi invadida. A Península Itálica sofreu, assim, profunda influência moura, e monumentos e outras pistas dão testemunho da ocupação. Agrimento, Selinunte, Siracusa, Segesta e Taormina são sítios arqueológicos de importância fundamental para a compreensão dos acontecimentos daquela remota época, de seus costumes, da cultura árabe e mediterrânea. O primeiro assentamento muçulmano na Itália foi em Mazara, ocupada em 827. No ano de 902, começou o efetivo controle mouro sobre a Sicília. O Emirado da Sicília durou de 965 até 1061. A ilha da Sicília, principal sítio ocupado, não o foi somente, a parte continental da Itália, também. A Península Itálica foi ocupada com incursões que se estenderam até Roma e o Piemonte, ao norte.
Apesar de a ocupação predominante ter a feição moura, outros povos perpetraram as incursões. Era uma campanha de disputa entre cristãos e muçulmanos, mas forças cristãs bizantinas, por exemplo, entraram em conflito com cristãos francos e normandos. Escaramuças aconteceram por mais de 400 anos com assentamentos árabes em Taormina, conquistas normandas em Messina, até que, em 1280, o islamismo foi banido da Sicília. Em 1245, os sarracenos, tendo sido deportados para Lucera, viram, finalmente, destruído (em 1300) esse assentamento muçulmano, com o que findou a presença islâmica na Itália. A França passou por tentativas de invasão pelos mouros, que foram derrotados na Batalha de Tours.
É inegável a riqueza da influência cultural dos mouros, que eram a vanguarda do conhecimento naquela época. Sua engenharia naval influenciou portugueses e espanhóis no tempo das grandes navegações. Aperfeiçoaram o Astrolábio. A música espanhola e portuguesa com o flamenco e o fado. O violão é de origem moura, descendente da cítara, termo do qual se origina a palavra “guitarra”. Os árabes têm, sim, sangue africano.
Feliz Natal!
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SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com
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