terça-feira, 29 de outubro de 2013
Reforma na Cúria
No início de outubro, pela primeira vez, o papa Francisco se reuniu com os oito cardeais conselheiros - os chamados oito sábios - com os quais pretende iniciar uma reforma na Igreja, que deseja mais engajada socialmente, que dialogue com os não crentes e totalmente livre de corrupção. Francisco critica o “centralismo” do Vaticano e diz que a “corte é a lepra do papado”. Ele quer uma Igreja concebida como uma organização não somente vertical, mas também horizontal. Anunciou que fará o possível para mudar isso.
As sugestões foram chegando e agrupadas em 80 documentos, essas propostas foram distribuídas a cada um dos membros. Na reunião, Francisco explicou que a vida do cristão deve ter por base a força do Evangelho. E fica muito claro quando, o Evangelho chega ao ponto mais alto na humilhação de Jesus, humildade que se torna humilhação. Francisco quer modernizar a Igreja, quer reavivá-la, é em si uma revolução. Citou o cardeal jesuíta italiano Carlo Maria Martini, à frente dos reformistas e falecido em 2012, que havia acusado a Igreja de “ter 200 anos de atraso”.
O Papa festejou São Francisco de Assis, em Assis, em 4 de outubro, que lhe inspirou o nome e os principais temas de seu papado: o cuidado pastoral dos necessitados, a defesa da paz e a preservação do meio ambiente. Falando para mais de 100 mil pessoas disse: “Infelizmente a sociedade está poluída pela cultura do desperdício, que se opõe à cultura do acolhimento. E as vítimas da cultura do desperdício são precisamente as pessoas mais frágeis”.
Francisco convocou uma assembleia extraordinária do sínodo da Igreja para tratar dos desafios que a família católica enfrenta, anunciou o presbítero Federico Lombardi, porta-voz da Santa Sé. Os desafios pastorais da família no contexto da evangelização serão o tema desta assembleia, que será realizado entre 5 e 19 de outubro de 2014 e agrupará um total de 150 pessoas, entre elas presidentes de conferências episcopais de todo mundo e especialistas. Esta é a terceira vez que é convocada uma assembleia extraordinária do sínodo de bispos desde sua criação, depois do Concílio Vaticano II (1962-65).
A diocese alemã de Freiburg tomou a decisão de abrir a possibilidade de comunhão a divorciados casados de novo. O Vaticano criticou a decisão. “É um documento puramente local”, afirmou o padre Federico Lombardi. Mas o papa Francisco recomendou aprofundar na reflexão sobre este doloroso tema, que já se encontra na ordem do dia do conselho consultivo dos cardeais e que será abordado no próximo sínodo extraordinário em 2014 sobre a pastoral familiar e matrimonial.
Francisco quer uma Igreja pobre para os pobres, escancara as portas da tolerância para os não crentes, recomenda que o jogo político passe ao largo do Vaticano. Mais, Francisco, a provar sua determinação de reformar a Cúria porque nela hão de atuar servos de Deus em lugar de cortesãos, e manda despedir 900 correntistas do IOR, o banco do Vaticano, entre eles quatro embaixadas, ao deixar claro que questões morais orientam a dispensa sumária.
Pois é, o IOR, que foi do monsenhor Marcinkus, protegido de João Paulo II. Marcinkus acompanhou Wojtyla na viagem ao Brasil no fim de 1979 como figura mais destacada do séquito, aquele volumoso bispo notoriamente mulherengo, bom de uísque, tênis, golfe, negociações mafiosas, etc. Anotações a respeito dos seus deslizes, digamos assim, pousavam sobre o criado-mudo de João Paulo I ao lado de uma chávena de chá na noite que faleceu de mal súbito, não melhor especificado, e sem direito a autópsia.
O Vaticano anunciou ter adotado uma nova lei em termos de transparência, vigilância e informações financeiras, adaptando sua legislação às exigências dos organismos internacionais de controle. Aumentou assim a vigilância sobre suas operações e serviços financeiros, na luta contra o exagero e a lavagem de dinheiro.
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SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com
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