segunda-feira, 21 de outubro de 2013
Marina Silva e o plano B
A presidenciável Marina Silva anunciou a sua filiação ao PSB, de Eduardo Campos. Parece ter sido um erro. Além de ficar sem discurso em uma legenda até ontem da base aliada, Marina escolheu um partido que já tem candidato. Servirá apenas como linha auxiliar, pulverizando os quase 20 milhões de votos recebidos em 2010. Na verdade, a ação política de Marina na sua aliança ao PSB permite muitas leituras. Derreteu uma parcela de seus apoiadores ao contradizer seu discurso moralista de condenação aos demais partidos.
Essa jogada política feita por Marina, expoente do “primeiro partido clandestino da democracia”, a Rede Sustentabilidade, que agora recebe abrigo no PSB de Campos, vem nos mostrar o quanto a política ainda é interessante a ponto de sermos surpreendidos sempre. Até quem está por anos nesse meio tomou um susto. Será que a “jogada de mestre” da ex-senadora foi um tiro no pé. Agora, há que se concordar que é chegada a hora de acabar com a famosa polarização de poder dos últimos anos entre PT e PSDB. Quem ganha com isso é o eleitor, que poderá desfrutar de novos debates políticos.
Será que essa “jogada de mestre” vai fazer bem para o Brasil? Perdemos ou ganhamos com isso? Fizeram política ou politicagem? Marina representa ou pelo menos representava a nova política, já Campos representa para certa corrente política pernambucana o velho Miguel Arrais e a política do rabo preso. É bom não esquecer e usar de bom senso e ver que as manifestações de junho estão apenas decorando o discurso proselitista dos políticos para 2014.
O marqueteiro João Santana lançou uma profecia, ou digamos assim, uma adivinhação e dia desses disse à revista Época: “Dilma vai ganhar no primeiro turno em 2014, porque ocorrerá uma antropofagia de anões. Eles vão se comer, lá embaixo, e ela, sobranceira, vai planar no Olimpo”. A frase cabalística abre notável perfil a respeito de Santana, considerado novo gênio do marketing político no Brasil, responsável pela eleição de muita gente que está aí mandando - a presidente Dilma Rousseff, inclusive.
Agora, vamos ao jogo ou aos fatos. Dias depois de se filiar ao PSB, Marina começou a dar declarações, digamos, ambíguas que confirmam (e muito rapidamente) as projeções de Santana. Sintetizando. O PSB tinha como candidatíssimo único à Presidência da República o governador de Pernambuco, Campos. Ao pedir registro no partido de Campos, Marina parecia investir num gesto de humildade: abriria mão de sua própria candidatura e até aceitaria figurar como vice de Campos na chapa do ano que vem. Agora, diz que tanto ela como Campos são possibilidades abertas.
Deduzindo: está posto o impasse onde não havia impasse algum. Vem aí uma disputa interna no PSB - ou, nos termos de Santana, vem aí uma “antropofagia de anões” entre os socialistas. Ainda sobre os “anões”, também o modo como José Serra permaneceu no PSDB carrega o horizonte de mais ambiguidades. Ele apoiará mesmo Aécio Neves? Ou ainda pelejará para encabeçar a chapa tucana?
A bem da verdade e longe das “antropofagias”, Dilma vai recuperando os bons índices de popularidade que perdera com as manifestações de junho - como, aliás, o próprio Santana previra. Eles se sentem à vontade com seus diagnósticos de futurólogo. No perfil publicado por Época, Santana aparece como alguém dado a espiritualidades e fala como adivinho, senhor das premonições. Ao mesmo tempo, ninguém mais pragmático que ele. Santana funciona, ganha eleições e instala seus clientes no “Olimpo”. O termo Olimpo, morada de Zeus e de outros deuses gregos, pode soar meio cafona, mas vem a calhar.
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SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com
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