quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Conte os dias


Parece-me que ontem escrevi o artigo "Feliz vida planejada!", publicado nos últimos dias de 2008, e estamos novamente à espera do Ano Novo. O tempo é mesmo um mistério para o ser humano. Ele nos traz e nos leva. Tem o poder de escrever e de apagar nomes. Carrega em suas costas a História.
Desde o berço, a humanidade considera a Terra sua casa. Cada geração que se levanta enxerga o mundo como algo feito exclusivamente para si. Mas, não obstante o movimento dos corpos celestes, é como se o tempo fosse de natureza estática. Seria como uma régua fixa, sobre a qual gerações marcham cegamente.
Segundo essa figura, cada geração é chamada a ocupar uma pequena divisão na régua. Há limites, fronteiras que não podemos retroagir nem avançar. É o nosso tempo. Não há invasão de faixas. Quem já percorreu seu segmento não pode esticar o percurso. Quem está chegando, jamais pisar um dia de quem findou. A divisão é perfeita.
Toda nossa obra está voltada para frente. Vivemos hoje e podemos influenciar o amanhã. Mas nada podemos fazer pela geração que passou. Este sentimento é muito forte para milhões de membros da Assembleia de Deus nestes dias. Em 2011, a maior denominação evangélica do País - fundada aqui em Belém, como sabemos - celebrará um século de existência. Sua história é tão recente, alguns de seus antigos templos dividem espaço com a efervescente cidade, dois de seus oito pastores respiram conosco. Porém, quanta coisa houve desde que o navio "Clement" II aportou em Belém, trazendo dois missionários suecos! Todavia, apesar do fascínio pela história, o que podemos fazer pela igreja que partiu? Nada. Nem orar. Cada um laborou em seu tempo. Agora é a nossa vez.

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“A nós, cabe agradecer a Deus e planejar a vida. Sem jamais esquecer que o projeto será executado a cada nascer do Sol. Essa é a nossa parte.”
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Entretanto, em nossa visão macro, é como se o mundo fosse feito mesmo apenas para nós. Olhamos, e tudo nos parece tão original, único. Isso é bom, desde que não esqueçamos nossa finitude. É este conhecimento que nos fará entender o sentido de nossa passagem. A sabedoria.
Contar os dias é um bom exercício contra o orgulho e a prepotência. É uma conta simples, que nos faz enxergar a verdade sobre o que de fato somos e temos. Assim, esquecendo anos bissextos, um século representa 36.500 dias. Poucos conseguem a cifra. Niemeyer é uma exceção, ao comemorar 102 anos recentemente. Grande parte cruza a fronteira na faixa dos 25.550 dias (70 anos) ou, mais robustos, alcançam 29.200 (80 anos). Chegar a 32.850 dias (90 anos) é viver bem acima da média brasileira.
Deus dividiu o tempo em dias para não esquecermos que a vida tem marcos estabelecidos. A cada 24 horas, Ele nos lembra que há tempo para nascer e tempo para partir. É necessária essa percepção. Sem ela, podemos repetir o erro de tantos. De tantos que chegaram ao último dia com as mãos cheias de ouro, mas a alma agonizando em trevas. De homens que viveram para si mesmos e contra todos. De tantos que construíram impérios e morreram nus.
Cada dia que nasce é um convite único para viver. Viver bem, um dia de cada vez. Viver bem essa fantástica aventura. Nada de ideias além da realidade. Nada de raízes além da respiração.
A nós, cabe agradecer a Deus e planejar a vida. Sem jamais esquecer que o projeto será executado a cada nascer do Sol. Essa é a nossa parte. Qualquer ideia de retroceder ou avançar no tempo nos faz adoecer. Gera depressão ou ansiedade. A vida é uma simples conta. Somos todos viajantes e peregrinos no mundo. Precisamos fazer valer a pena nossa curta temporada. Feliz 2010!

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RUI RAIOL é pastor e escritor (www.ruiraiol.com.br)

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