Instalação do hospital de campanha entregue em Santarém: quando acabar esta segunda onda, ele será desativado, mesmo que novas ondas venham por aí? (foto Agência Pará) |
Para uma região que acaba de sair do lockdown e que ainda se vê às voltas com o virtual colapso no atendimento médico, tanto na rede hospitalar pública como na particular, dez leitos a mais já fariam uma enorme diferença. Imaginem, então, 60.
A entrega deste novo hospital, portanto, é uma providência ótima. É oportuna. É salutar. E concorre, decisivamente, para salvar vidas e evitar que as UTIs (também elas abarrotadas de contaminados pela doença) venham a ser sobrecarregadas de pacientes que tiveram seu estado de saúde agravado porque não conseguiram um tratamento eficaz nos estágios iniciais da Covid. Isso é um fato.
Mas convém que algumas perguntas sejam feitas, ainda que não sejam respondidas por quem deverá respondê-las (e quase certamente não serão mesmo respondidas).
Até quando o hospital de campanha de Santarém vai continuar montado e apto para receber pacientes que são vítimas da pandemia?
Por que não deixar esse hospital montado até a 15ª onda dessa pandemia, que ninguém quando virá (mas, dizem os especialistas, é certo que virá)?
Se um hospital de campanha do porte desse, agora entregue em Santarém, não pode passar muito tempo inativo, ou seja, sem receber um número mínimo de pacientes, porque isso demanda custos para a Administração, alguém pode dizer quais os custos - inclusive em perda de vidas humanas - de não termos leitos disponíveis, a tempo e a hora, a cada nova onda que vai chegando e colapsando o sistema hospitalar?
O hospital de campanha de Santarém, montado pelo governo do estado durante a primeira onda da Covid-19, iniciou suas atividades no dia 22 de abril de 2020 e encerrou-as precisamente no dia 27 de setembro, segundo informação oficialíssima que consta do site da Agência Pará. Foram atendidas cerca de 800 pessoas. Ao ser fechado, estava com uma ocupação de 8%. Pouquísismo, né? Pois é.
E este novo hospital de campanha entregue agora? Será fechado também quando estiver com 8%, 4% ou 1% de leitos ocupados? Chegando a esse nível, as autoridades estaduais vão sentir-se seguras e convictas de que poderão fechá-lo? Ou, antes de fechá-lo, vão procurar primeiro ter um mínimo de certeza sobre quando virá a terceira, a quarta, a quinta e a sexta ondas dessa pandemia horrorosa?
Por que, insista-se na pergunta, não manter o hospital de campanha montado até o ano de 2950, mesmo que nenhum paciente seja atendido lá e mesmo que os custos de manutenção sejam eventualmente consideráveis, mas certamente menores, muito menores do que chegar uma nova onda, não termos leitos extras e assistirmos à mortandade, ao desespero e à tragédia de pessoas morrendo por falta de leitos? Por quê?
Nenhuma autoridade, certamente nenhuma, haverá de sentir-se no dever de justificar o erro que foi encerrar completamente as atividades do hospital de campanha de Santarém, em setembro do ano passado.
Espera-se, pelo menos, que tais autoridades tenham aprendido com esse enorme erro. E que não insistam em repeti-lo, desativando o novo hospital assim que a pandemia aliviar.
Convém que nossos heróis ajam com os olhos postos no futuro. E olhar para o futuro implica avaliar quando virão essas novas ondas da pandemia do coronavírus.
Sobrevindo as novas ondas, precisaremos de leitos extras disponíveis para suportar demandas extras, não é assim?
Nossos heróis, tenham certeza, precisam estender seus olhares para além da onda atual.
Muito além.
Para que vidas sejam preservadas.
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