segunda-feira, 5 de março de 2018

A macabra matemática norueguesa: 4 mil empregos por 60 mil vidas


ISMAEL MORAES – advogado socioambiental

O primeiro ministro inglês Winston Churchill, ao resistir ao nazismo, fez a humanidade acreditar que, mesmo diante das maiores dificuldades, o bem pode vencer o mal.
Nas suas “Memórias da Segunda Guerra Mundial”, obras pelas quais recebeu o Nobel de Literatura em 1953, há uma passagem onde revela o caráter hipócrita de alguns noruegueses: enquanto a Inglaterra ameaçava a Alemanha caso invadisse a Noruega, uma missão da Marinha britânica flagrou militares noruegueses dando cobertura, por meio de mentiras, a alemães que mantinham 300 marinheiros ingleses aprisionados nos porões de uma embarcação de Hitler. E o governo da Noruega sabia de tudo e colaborava com os nazistas.
Nestas últimas semanas, os Ministérios Públicos Federal e Estadual flagraram diversos crimes contra a humanidade perpetrados pela mineradora noruguesa Hydro, após mais um de uma série de dezenas de vazamentos/derramamentos de rejeitos químicos em que ela sempre sai impune, sem pagar qualquer multa ou sem que algum dos seus executivos, brasileiros ou noruegueses, seja preso.
Foi descoberto um dreno/sangradouro por onde a Hydro despejava diretamente rejeitos químicos contendo enorme quantidade de metais pesados (em especial o chumbo, veneno causador de câncer e diabetes) em rios e igarapés que banham dezenas de comunidades em Barcarena, águas que também se espalham pelas bacias hidrográficas e chegam às torneiras da população da Grande Belém. Mesmo diante das evidências que a própria mineradora foi obrigada a reconhecer, o governador Simão Jatene em pessoa continua a afirmar inexistir irregularidades na empresa e afirma que a poluição e as doenças são causadas pelas chuvas.
Foi necessário que o Ministro do Meio Ambiente determinasse ao IBAMA o embargo das atividades da mineradora, assim como o juiz de Direito de Barcarena Iran Sampaio.
Agora, a Fiepa e o governo Jatene estão fazendo coro em tentar convencer a população do Pará a aceitar o produto de uma matemática macabra dos noruegueses da Hydro: a mineradora ameaça demitir 4 mil empregados (detalhe, quase todos não são paraenses) se o Ibama e o juiz de direito de Barcarena Iran Sampaio continuarem a impedir que ela siga despejando nos rios e igarapés os rejeitos químicos da bacia DRS 2.  Começa-se a perceber que uma parte da imprensa começou a fazer coro, ressaltando a perda dos empregos, e quase nada dizendo ou dando pouca importância ao envenenamento humano, ao risco de desastre ambiental e a toda a corrupção governamental envolvida na questão.
Em 1940, quando tudo parecia perdido diante da mortífera máquina de guerra nazista, Winston Churchill fez um memorável discurso que elevou o moral do povo inglês. Disse que os britânicos lutariam em todo e qualquer lugar, de qualquer forma. E resumiu: “Nós nunca vamos nos render” (We shall never surrender).
Aos executivos da Hydro, que envenenam nossas águas com a mesma frieza letal dos nazistas, nós paraenses e brasileiros devemos mostrar que também nós nunca vamos nos render!

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