segunda-feira, 27 de agosto de 2012
A educação é vítima da banalização
Nesta última década, desligaram o motor da educação. E isso tem marcado a sociedade brasileira. A desigualdade neste País de dimensão continental é de assustar. E a inquietação aumenta quando vários aspectos são considerados. O capitalismo costuma banalizar temas fundamentais para a sociedade, com o intuito de parecer que realmente se importa com eles. A educação é uma das vítimas dessa banalização.
Reportagens que relacionam educação, emprego e a produtividade brasileira mostram que de 1 milhão de vagas de empregos, apenas um quinto foi ocupado por falta de mão de obra devidamente qualificada. Nessa perspectiva, o que conta é a ampliação numérica de vagas no ensino, sem a preocupação efetiva com um padrão de qualidade. O movimento dos professores brasileiros é um chamado para nossa população refletir sobre esse ponto vital para o nosso desenvolvimento. O governo insiste em obedecer ao viés economicista sobre a educação e, em vez de repensar nosso modelo educacional, desqualifica o professor.
Nada disso é falso, mas tudo isso, colocado dessa maneira, esconde alguns fatos importantes. A greve dos professores é um mecanismo clássico de luta operária, porém, o seu sentido vem sendo reposto na História pelos movimentos sociais em prol não apenas dos direitos trabalhistas, mas também dos direitos civis e dos direitos sociais (educação e saúde). A própria legislação (Consolidação das Leis do Trabalho) reconhece que a palavra greve refere- se, por extensão, à interrupção coletiva e voluntária de qualquer atividade, remunerada ou não, para protestar contra algo. Nada impede que se faça greve até mesmo pelo direito de trabalhar, quando essa atividade estiver ameaçada em sua dignidade ou na possibilidade de sua continuação.
O problema é que a educação comparece no discurso oficial como uma reles peça orçamentária, mensurável apenas por estatísticas de matrículas, avaliações e recursos. Deixa-se de lado o essencial em todo e qualquer processo educacional, ou seja, o professor e seus históricos fronts republicanos - cultura, pedagogia e democracia. Sem a formulação de projetos político-pedagógicos em níveis nacionais, vê-se prosperar uma subcultura avaliativa, decorrência lógica da presença de tecnoburocratas, em vez de pedagogos e pensadores, na esfera clássica da educação.
Ademais, é essa subcultura, que alimenta as organizações internacionais (OCDE, Banco Mundial, Comissão Europeia) empenhadas na constituição de um mercado mundial de educação. O discurso globalista consegue estar à frente da parolagem governamental, onde a palavra educação circula como um fetiche economicista. Mesmo apoiado no limitado escopo empresarial do capital humano, o discurso globalista não abre mão da valorização do professor. Este é o ponto central do movimento grevista em curso: um novo plano de carreira e um salário sem os “penduricalhos” instáveis, obtidos ao longo de anos de lutas. O reajuste salarial está atrelado a esse plano, sintomaticamente rejeitado pelo atual governo.
É admissível pensar que esta greve dos professores universitários tem algo de pedagógico numa sociedade de fraca participação coletiva, mobilizada apenas por programas estéreis nas tevês em horário nobre: uma aula pública de indignação diante da hipocrisia oficial para com a educação e um apelo à mobilização da sociedade. Dado o déficit educacional e cultural que se instalou no país ao longo dos anos, precisamos estimular a “transgressão” do ensino como um todo, por meio do encantamento, da busca pelo saber de forma natural e do impulso ao espírito crítico.
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SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com
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