segunda-feira, 9 de abril de 2012

Inclinada a endurecer


Pelo amplo noticiário que gerou na Corte, a troca de suas lideranças no Congresso na tentativa de conter a insatisfação crescente e espraiada da base parlamentar, a presidente Dilma Rousseff quer recuperar o controle. Dilma mostra disposição de imprimir sua marca no governo. É uma resposta destemida, mas com alta dose de risco. FHC e Lula passaram pelos mesmos problemas que Dilma está passando em relação à base aliada. Coincidentemente, o PMDB foi e é a principal fonte da discórdia. Entra semana, sai semana, os aliados no Congresso comportam-se como inimigos: se ofendem, se apunhalam, promovem vendetas e chantageiam. E mais, em ano eleitoral, a turbulência sempre tende a ficar pior. É o que a presidente tem experimentado neste início de 2012.
As queixas, como sempre, são as mesmas: a presidente não recebe os aliados, não consulta ninguém na hora de tomar decisões, não negocia emendas e cargos, mais valorizados à medida que se aproximam as eleições. Dilma, ao que tudo indica, não está disposta a ceder. Ao contrário, parece inclinada a endurecer.
Em clara retaliação à rebeldia no Congresso, apeou do cargo o eterno líder do governo Romero Jucá, do PMDB de Rondônia, que estava na função por longos 12 anos, desde o governo FHC, entre idas e vindas. Jucá foi pego de surpresa com a notícia por meio do presidente do Senado, José Sarney. Mas a insatisfação com o eterno líder vinha de longe. Não foram raras as votações em que o Executivo notou o escasso empenho do Senador. Dilma e Jucá quase nunca se falavam e as idas do parlamentar ao Planalto foram, no dizer de um assessor, “apenas protocolares”.
Na Câmara, os pedetistas não receberam bem a indicação de Arlindo Chinaglia para a liderança do governo em substituição a Cândido Vaccarezza. Chinaglia tem seus adversários na Casa, mesmo na base governista, desde que ocupou a presidência e era visto como “arrogante” e “antipático”. Mais de um aliado pôs em dúvida sua capacidade de negociar. Ao mesmo tempo, há quem aponte um avanço: Chinaglia não seria tão cabeça quente quanto Vaccarezza.
A ideia de alternar os líderes partiu da ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti. Por causa das mudanças intempestivas e do alvoroço causado, especulou-se a respeito da demissão da ministra. Mas tudo leva a crer que Ideli se fortaleceu no episódio. Coube à articuladora política do governo o chega para lá definitivo no PR, que ainda sonhava em recuperar, com plenos poderes, o Ministério dos Transportes. Já contrariado pela indicação à liderança do governo de Eduardo Braga (PMDB-AM), inimigo figadal do presidente do partido e ex-titular da pasta dos Transportes, Alfredo Nascimento, o PR anunciou o abandono da base aliada. Não se sabe por quanto tempo.
Só os néscios pensariam o contrário. Para entender a insatisfação dos partidos, é preciso lembrar que as eleições municipais são quase irrelevantes na definição de quem ocupa o Palácio do Planalto, mas são decisivas na renovação dos mandatos no Congresso. Deputados e senadores que “não levam nada” para seus redutos ficam fracos. E se enfurecem quando percebem que um adversário conseguiu nomear um protegido ou fazer com que uma obra saísse do papel.
O pano de fundo da “crise” é a eleição municipal, pois dela depende o tamanho das bancadas no Congresso e seu peso na Esplanada dos Ministérios. Com os últimos atos da presidente, essa relação de amor e ódio está ganhando contornos que podem trazer benefícios para o povo brasileiro.

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SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com