"Se permitirmos que usem o Estatuto [do Torcedor] para calar a torcida, logo estarão prendendo passistas por causa dos trajes mínimos no Carnaval e os tuiteiros por usarem a hashtag #foraricardoteixeira"
Demóstenes Torres, senador (DEM-GO) - na foto -, em apoio declarado ao "Fora Ricardo Teixeira", que pretende forçar o presidente da CBF vazar da entidade. Isso é tão difícil quanto o Íbis, o pior time do mundo, ganhar do Barcelona. Mas não custa nada tentar.
Um comentário:
Prezado PB,
As estruturas do futebol brasileiro - e mundial - precisam ser democratizadas com certa urgência.
Minha convicção é de que, no caso brasileiro, os torcedores ignoram completamente que eles são os destinatários de toda a legislação desportiva. É o que diz, por exemplo, o Estatuto do Torcedor. O regramento ali contido diz que o torcedor, como destinatário do futebol como produto de consumo, tem direitos que podem, e devem, ser reclamados das instituições que organizam o futebol, a saber, CBF e federações.
Mas vou um pouco mais longe: na estrutura administrativa criada pelo Estatuto do Torcedor e legislação desportiva nacional, a única instituição que pode controlar os atos eventualmente ilegais praticados pelas federações e CBF é o Judiciário Desportivo.
No entanto, o Judiciário Desportivo é visto como uma instituição menor ou, o que é muito pior, como um braço auxiliar das federações e CBF até por quem faz parte dele.
Um Judiciário Desportivo eficaz deve ser necessariamente interventivo, cobrando das federações e CBF um tratamento mais digno para os torcedores.
Repare que, aos poucos e em todo o Brasil, o Ministério Público tem assumido um papel que cabe originariamente ao Judiciário Desportivo, determinando, por exemplo, a interdição de estádios em péssimo estado de conservação, cobrando providências das federações que resultem em maior proteção dos torcedores, etc.
Ainda há um longo caminho a ser percorrido, mas a realização da Copa do Mundo no Brasil vai lançar certamente mais luzes sobre o funcionamento, até aqui, inadequado ou insuficiente das instituições que cuidam do futebol.
Por seu turno, os clubes brasileiros precisam igualmente se modernizar, permitindo, por exemplo, que todos os sócios votem diretamente na escolha de seus dirigentes, assim como devem criar mecanismos que tornem as ações das diretorias mais transparentes.
Do jeito como os clubes são administrados hoje, os dirigentes de clubes são, por assim dizer, irresponsáveis diante dos sócios. Democratizar pressupõe criar mecanismos de controle horizontal, ou seja, permitir que os sócios acompanhem as ações dos dirigentes, apontando-lhes os erros e eventualmente responsabilizando-os pelas ilegalidades cometidas.
A imprensa tem um papel muito relevante nisso tudo, pois, além de informar, precisa ter consciência de que o futebol profissional, no contexto do capitalismo global, implica em gestão capitalista eficiente dos clubes e democratização urgente das instituições que cuidam do futebol, tudo com a finalidade de proteger (e satisfazer) aquele que deve ser o destinatário de tudo isso - o torcedor.
André Silva de Oliveira.
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