sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Ana Júlia age como quem fura o sinal na frente do guarda

Olhem só.
A governadora Ana Júlia, candidata à reeleição, é a mais privilegiada dentre todos os seus concorrentes.
Sua arrecadação de campanha é a maior – R$ 47 milhões, segundo ela mesma estimou.
Seu tempo no rádio e na televisão é o maior.
A coligação que a apoia é a maior – são 14 partidos.
Até mesmo na área jurídica Sua Excelência é privilegiada.
Como governadora, ela tem à sua disposição toda a estrutura da Consultoria Geral do Estado. E conta também com a Procuradoria Geral do Estado.
Como candidata, dispõe de um corpo de advogados que cuidam de questões especificamente relacionadas à sua campanha.
Pois é.
Por ser privilegiada, é inadmissível que a governadora incorra em erros como o de assinar um contrato para comprar e distribuir 5 mil cestas básicas.
Um contrato, vejam bem, publicado no Diário Oficial do Estado.
Com todas as letras.
Com todos os efes e erres.
Um contrato que atraiu os olhares do Ministério Público Eleitoral.
Ah, sim.
Ontem à tarde, a governadora anunciou em seu Twitter:

“Tomei decisão. Não haverá distribuição de nenhuma cesta básica no período eleitoral. Se houver situação de emergência a Defesa Civil atende.”

Ótimo.
Mas era necessária toda essa repercussão negativa para a governadora voltar atrás?
Por que não evitar – simplesmente evitar – de fazer o que foi feito, para não ter de voltar atrás?
Era evidente que essa distribuição de cestas básicas em pleno período eleitoral configurava uma conduta flagrantemente, notoriamente, clamorosamente, escandalosamente questionável do ponto de vista de sua oportunidade e de sua conformidade com a lei.
E mais do que isso, era evidente que os assessores de Sua Excelência – sobretudo os da área jurídica – devem ter sido animados a agir com a mesma inspiração com age o motorista que vai furar um sinal vermelho.
Ele, o furão, sabe que não pode fazer aquilo. E como sabe que não pode, adota sempre uma certa cautela. A primeira coisa que faz é observar se não há um guarda por perto. Se não houver, ele ultrapassa o sinal vermelho.
Mas um ato como esse, publicado no Diário Oficial da União, equivale mais ou menos ao do sujeito que fura o sinal vermelho às 13h de um dia útil qualquer, no cruzamento da Presidente Vargas com a Carlos Gomes, assistido ao vivo e em cores por 400 mil guardas de trânsito, postados em fila, de um lado e de outro da rua.
Putz!
Que coisa!
E olhem só: a resposta do governo do Estado para explicar a publicação do ato no Diário Oficial é totalmente implausível.
Vejam aqui: "Os prazos de conclusão do processo licitatório [para a compra das cestas] variam de acordo com o atendimento de todas as exigências do certame. No ano passado, o processo encerrou em julho. Este ano, em agosto", diz o texto. E acrescenta que as cestas só serão distribuídas "em casos emergenciais, como incêndios".
Então pronto.
Por que se insistiu em fazer a compra este ano, um ano eleitoral, o que fatalmente ensejaria especulações?
Por que não agir apenas se uma emergência clamorosa exigisse?
Vocês acham que não era possível evitar essa ação atabalhoada?
Era sim.
E tanto era que a governadora, acossada, acuada, criticada e confrontada com o erro, decidiu: “Não haverá distribuição de nenhuma cesta básica no período eleitoral. Se houver situação de emergência a Defesa Civil atende.”
Se isso pôde ser feito depois da repercussão negativa, porque não poderia ser feito antes, de forma a evitar especulações que depõem contra a imagem do governo e da governadora?

6 comentários:

Anônimo disse...

"Tomei decisão" soa como se ela fosse uma rainha que pudesse dispor do governo como bem quisesse. Não pode. A Administração Pública é impessoal e o gestor público tem sua atuação jungida pelas regras constitucionais.
Ela recuou porque era contra a lei, pegou mal e, mais tarde, seria alcançada pelo braço da lei.

Euzinha disse...

Só não chegamos ao fundo do poço porque roubaram o poço. Que tenha fim este governo de descalabros de toda a ordem.
Paulo, texto perfeito.
Abs.

Anônimo disse...

Ainda dá tempo para que a Governadora criar a Secretaria de Estado contra a Burrice. Para economia para o Estado ela aproveitaria estes DAS para trabalharem em um projeto contra as besteiras que este Governo faz.

Anônimo disse...

Quanta falta faz a "Secretaria de Vai dar Merda", né não?...
Alertaria a gov pra não fazer essas estrepolias.
Aspones-cumpanherus tem até demais, sobrando.
Toda semana são carradas de nomeações de "a$$e$$ore$" mais do que especiais.
Pra nada, só pra pegar no pacuru e fazer campanha.
Bem poderiam ficar de plantão na Secretaria D.V.D.M.

Claude Lago disse...

já que o governo cancelou a compra das cestas básicas, bem que poderia tentar consertar algumas tantas outras até o final do ano...

que tal o poster fazer uma pesquisa/votação? ou um TOP FIVE? valendo... uma cesta básica!

bom final de semana a todos.

Anônimo disse...

Caro Editor
O problema é que os recalcados não lembram que "aquele que já foi e não será mais" podia ter ficado e não ficou, preferiu pescar e cantar. E "aquele que não foi e nunca será" foi reprovado em Altamira quando foi o que não deveria ter sido. VAMOS DEIXAR AS MULHERES TRABALHAR.