Na ÉPOCA:
O travesseiro da universitária Cibele Lima, de 23 anos, vibra às 6h30 todas as manhãs. E não pára de tremer até que ela aperte uma tecla verde localizada debaixo dele. O confortável travesseiro de espuma não é a última novidade tecnológica do mercado. Tampouco tem alarme. Mas embaixo dele repousa um despertador especial: seu celular. Cibele não sabe explicar por que o coloca ali. Diz que se sente bem em tê-lo ao alcance das mãos. “Sinto por ele o mesmo que sentia por minha boneca favorita, que eu costumava levar para o berço”, diz. “Ele me dá segurança.”
O celular de Cibele fica ligado dia e noite. A bateria, segundo ela, acabou no máximo três vezes nos últimos 365 dias. Ficar sem ele é um sacrifício, diz Cibele. Ela ainda se lembra, em detalhes, do dia em que passou 12 horas longe de seu celular: “Era como se eu vivesse uma profunda crise de abstinência”. A jovem esqueceu o aparelho em casa. Só se deu conta quando já estava dentro do ônibus, a caminho da faculdade. Passou o dia sem falar com as pessoas. De vez em quando andava de um lado para o outro, vasculhava a bolsa. “Eu até ouvia ele tocar baixinho. Mas acho que era minha imaginação.”
Para Cibele, o celular é o objeto mais importante na vida. É mais valioso que seus documentos, que o relógio de pulso e até que sua câmera fotográfica. Ela não está sozinha: 18% dos brasileiros se sentem viciados em seus celulares, de acordo com a empresa de pesquisas Ipsos, num estudo divulgado com exclusividade por ÉPOCA. A taxa é superior à de vários países desenvolvidos. A pesquisa, realizada com 6 mil pessoas de todas as classes sociais, avalia o impacto da mobilidade no cotidiano. Ela replicou aqui um levantamento feito em cinco países da Europa: Reino Unido, Suécia, Espanha, Alemanha e França. As respostas às questões elaboradas pela London School of Economics and Political Science, o mais importante centro de pesquisas e debates políticos da Europa, mostram como o celular está modificando comportamentos da sociedade. Os brasileiros na faixa de 16 a 24 anos fazem 30% mais ligações e mandam 50% mais mensagens de texto que a geração de 45 a 59 anos. Entre as pessoas de meia-idade, 11% dizem que se sentem indesejadas se o celular não toca pelo menos uma vez por dia. Esse sentimento é relatado por 30% dos jovens. A média geral dos brasileiros é 22%. “Os jovens estão na ponta de um novo estilo de comportamento, que deve virar o padrão nas próximas décadas”, diz a socióloga americana Noelle Chesley, da Universidade Cambridge, que estuda como as gerações reagem diferentemente à tecnologia.
A principal característica da nova geração é sua mobilidade. A partir do momento em que não faz mais diferença estar em algum lugar para ter, a todo momento, acesso a serviços, pessoas ou informações, mudamos o jeito de nos relacionar com o espaço. O antropólogo James Katz, chefe do Departamento de Comunicação da Universidade Rutgers, nos Estados Unidos, compara os novos usuários de celular às tribos tuaregues que cruzam o Saara em cima de seus camelos. “Somos nômades modernos”, diz. A diferença, segundo ele, é que os tuaregues estão à procura de novas pastagens para o gado. E os nômades modernos estão em busca de novos espaços físicos para estudar, trabalhar e se relacionar.
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