domingo, 31 de maio de 2009

Fissuras e estragos na oposição


O acatamento e a credibilidade que o cidadão tinha pelo Congresso Nacional, não chega a surpreender o povo brasileiro de olho à forma como os parlamentares utilizam habitualmente o dinheiro público. Hoje, o Senado é olhado sempre com certa reserva, pois semanalmente é palco de escândalos. Que confiabilidade pode impor uma Casa que já foi comandada por pessoas de probidade comprovada, mas volta ao tempo com um com José Sarney na presidência e, pasmem, ao lado de uma dupla que traz o peso do aviltamento moral da segunda administração do senador Renan Calheiros e de um passado nada recomendável como o do ex-presidente Fernando Collor de Mello?
A vaidade de Sarney é maior do que sua estatura, e ele sabe que não mais aglutina, muito pelo contrário, desagrega. A eleição do ex-presidente Sarney para o comando do Senado não só deixou sequelas na base governista como também fez estragos na oposição. O fato é que a relação entre PSDB e DEM, antigos aliados, não é mais a mesma, desde que os tucanos optaram por defender a candidatura do senador petista Tião Viana para a presidência do Senado, enquanto os democratas apoiaram Sarney. Nas duas últimas semanas, as divergências entre os dois partidos voltaram a se explicitar por causa da criação da CPI da Petrobras.
A turma do deixa-disso - os bombeiros de plantão - resolveram entrar em campo para evitar que essas rusgas possam comprometer a aliança estratégica de tucanos e democratas para a eleição de 2010. O deputado democrata Rodrigo Maia, presidente do DEM, disse à Imprensa: "Tivemos realmente dias atrás um problema, mas foi superado. Foi mais um problema de comunicação do que uma divergência de posição em relação à CPI. Nem sempre teremos posições iguais, caso contrário, partiríamos para uma fusão. Nosso partido principal continua sendo o PSDB.”
Receosos da dobradinha cada vez mais evidente do DEM com o PMDB. Os tucanos estão tendo de se esforçar para superar os últimos acontecimentos, que levaram o senador Heráclito Fortes, primeiro secretário, a assumir o comando da sessão para impedir a leitura do requerimento de Álvaro Dias, que propunha a CPI da Petrobras. Essa CPI foi criada para investigar contratos suspeitos, é tomada de assalto pela turma que gosta de cargos - principalmente na própria estatal. Mas não se subestime a esperteza do atual Congresso. Instalada a CPI, as raposas trataram de lucrar pessoalmente com ela.

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“Que confiabilidade pode impor uma Casa que já foi comandada por pessoas de probidade comprovada, mas volta ao tempo com um com José Sarney na presidência.”
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Para se ter uma ideia do tipo de manobra em curso, o candidato a investigador-mor da CPI é ninguém menos que o ex-presidente Fernando Collor, derrubado da Presidência da República em 1992 por corrupção, graças justamente aos trabalhos de uma CPI. Secundando Collor, aparece outro notório parlamentar, o senador Renan Calheiros, um tipo que só se move por interesse próprio e de seu nebuloso grupo político-empresarial. Está o tempo todo em busca de cargos e acesso ao Erário.
Por mais que tenha argumentado que estaria cumprindo um acordo com o colégio de líderes, a postura do senador piauiense foi bastante criticada nos bastidores. Já há quem identifique por trás dessa sintonia com o PMDB uma tentativa dos democratas de não perderem o comando de parte da máquina administrativa do Senado.
Para o senador mineiro Wellington Salgado, não há dúvida de que a nova força política do senado é formada hoje pelo PMDB e pelo DEM. Na opinião do parlamentar, as duas legendas só ganharam com essa parceria. "Acho que o DEM cansou de perder com PSDB", cutucou Salgado.
Publicado em sua coluna, com destaque, no caderno opinião de O LIBERAL, o jornalista Elio Gaspari faz uma alusão à geminação das duas siglas, o PSDEM, segundo ele, um malicioso observador da vida partidária brasileira começou a desconfiar que esteja em andamento algum tipo de conversa para fundir o PSDB com o DEM. Pelo menos um cardeal do DEM admitiu essa hipótese, ressalvando que isso aconteceria depois da eleição de 2010. É apenas desconfiança, mas será divertido ver Fernando Henrique Cardoso no ex-PFL, ex-PDS e ex-Arena.
No mais, deixando as metáforas (talvez melhor devesse dizer os labirintos), vamos fechar o raciocínio. A CPI é controlada pelo aliado do governo, o PMDB, aquele que, conforme o desabafo de um de seus próceres mais ilustres, o senador Jarbas Vasconcelos, "só pensa em cargos e corrupção". O PMDB não brinca em serviço. Considerado pelo Nosso Guia o seu maior companheiro no Congresso, no governo (seis ministérios) e na sucessão presidencial, o partido apresentou algumas faturas na semana passada. E o presidente Lula não hesita em pagá-las.

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SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com

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