domingo, 24 de maio de 2009

Gripe suína: pandemia ou alarme falso?


Tudo leva a crer que o medo da gripe suína se espalha. Há na memória coletiva e nos livros de história quatro pandemias razoavelmente recentes de gripes, em 1889, 1918, 1957 e 1968. A pior delas, a gripe espanhola, de 1918, matou cerca de 40 milhões de pessoas no mundo inteiro. Um terço da população do planeta, então com 1,5 bilhão de pessoas, fora infectada. As vítimas não foram apenas pessoas idosas e bebês, mas adultos jovens e bem alimentados.
Um novo surto é esperado (e temido) há décadas. Eis que, do nada, surgiu a gripe suína. Há um mês, sabia-se muito pouco ou quase nada da doença. Agora, ela está nas páginas de todos os jornais e em pelo menos 30 países de quatro continentes. É o início de uma perigosa pandemia ou apenas um alarme falso?
Onde tudo começou? No México. Parece até uma sina: gripe, narcotráfico e terremotos inibem o turismo no país. O México passa por um momento de muita tribulação. À eclosão da gripe suína, cujos primeiros casos e mortes brotaram ali, somam-se problemas mais antigos e renitentes, como a onda de violência gerada pelo narcotráfico e os sucessivos - ainda que não tão fortes - terremotos. Resultado: o país, destino clássico de turismo, pode sair temporariamente do mapa.
O turismo é a terceira fonte de renda do México e o governo está planejando um fundo a fim de ajudar o setor. No total, destinará US$ 380 milhões para empresas em dificuldades. O fechamento do comércio por 18 dias resultou em prejuízo diário de US$ 100 milhões no setor hoteleiro do país. As praias mexicanas, principalmente na península de Yucatán, estavam desertas depois do cancelamento de 70% das reservas. As agências americanas vêm recomendando a clientes que troquem Cancún pela Jamaica ou pela República Dominicana.

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“O vírus suíno é mais contagioso. Após 1º de maio, no mundo inteiro, quase três mil suspeitas da doença, 141 casos confirmados.”
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Será mesmo que se trata de uma pandemia? Há controvérsias. O vírus da gripe é altamente mutante. Ao ser combinado com outras cepas, pode se tornar um novo tipo, mais letal e imprevisível. O vírus da gripe suína possui as duas qualidades necessárias para disseminar uma pandemia: espalha-se rapidamente, no caso pelo ar, e é altamente letal.
O vírus da gripe aviária, um dos componentes dessa nova cepa, provocou pânico em 2005. Em poucos meses saiu de países asiáticos, como China, Vietnã e Indonésia (o maior arquipélago do mundo), passou para a Rússia e chegaram ao Oriente Médio, África e Europa. Só não tinha ainda cruzado o Oceano Atlântico. Mas o vírus não adquiriu a habilidade de enganar defesas do organismo humano - até hoje foram contaminadas apenas 421 pessoas, das quais cerca de 60% morreram.
O vírus suíno é mais contagioso. Após 1º de maio, no mundo inteiro, quase três mil suspeitas da doença, 141 casos confirmados. No início de maio, no Brasil, havia dois casos suspeitos e 36 pessoas estavam sendo monitoradas, já que apresentavam somente alguns sintomas. A pior situação é a do México com milhares de casos suspeitos e oito mortes confirmadas e sete mortes sob suspeita. Não se sabe ainda por que foi lá onde o vírus ganhou força.
Nas ruas da capital mexicana, uma das cinco maiores cidades do mundo, as pessoas circulavam com máscaras cirúrgicas descartáveis e luvas de látex, distribuídas pelo governo. Os hotéis tinham um décimo de ocupação. As escolas foram fechadas. Os restaurantes foram proibidos de receber clientes. Os boatos se alastram mais rapidamente que o vírus.
Uma comparação histórica sugere que uma nova pandemia dificilmente acontecerá – pelo menos não nas mesmas proporções de 1918. Naquele tempo não existiam antivirais. O mundo vivia uma guerra, com tropas em deslocamento e em péssimas condições de higiene. Os desastres passados deixaram lições. Os números de mortes e suspeitas até são bastante altos, sim - mas não alarmantes.
A gripe espanhola também começou devagar. Todo novo vírus demora a aprender como invadir as células humanas. O perigo oferecido inicialmente é menor. Os primeiros passos para a produção de uma vacina, em um esforço global, já foram dados. Na melhor das hipóteses levará quatro meses até que se consiga produzir a vacina em quantidade suficiente para proteger a maior parte da população. A corrida começou.

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SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com

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