quinta-feira, 28 de maio de 2009

Fraudes em secretaria do Pará

No AMAZÔNIA:

Uma autorização para exploração florestal emitida e devidamente autorizada pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema), protocolada em 2007 e que passou por análise técnica em 13 de agosto de 2008 se transformou, misteriosamente, em uma autorização para exploração de um volume de madeira quatro vezes maior.
O projeto saltou de 12.271,3871 para 55.618,5506 metros cúbicos no dia 27 de abril deste ano, às 18h45. No câmbio negro do 'papel' de madeira, cada metro cúbico custa hoje em torno de R$ 125,00. Somente neste caso, o esquema teria gerado mais de R$ 5 milhões. Mas o valor estimado do esquema nos cinco primeiros meses do ano é de mais de R$ 50 milhões.
A senha utilizada para processar as adulterações no projeto de uma fazenda chamada Deus é Grande, de propriedade de Antônio Gomes da Costa, que fica no município de Pacajá, região da Transamazônica, é do engenheiro agrônomo Marcelo Silva Auzier. Ele era o titular da Gerência de Sistemas de Comercialização e Transporte de Produtos Florestais (Gesflora) até uma semana atrás. Documentos que estão em poder do Ministério Público Federal e Polícia Federal mostram que o esquema era relativamente eficiente. A estratégia consistia em inserir créditos em planos de manejos já explorados, como o caso da fazenda Deus é Grande, cuja validade para exploração expiraria em 30 de setembro deste ano.
Em muitos casos, as investigações apontam que os beneficiados com o aumento das autorizações de explorações de madeira nem tomavam conhecimento do crime. A fraude era feita com a criação de créditos 'podres' ou documentos frios para comercialização de madeira em tora, que estariam sendo vendidos tanto em território paraense quanto em outros Estados.
O gerente do sistema, Marcelo Auzier, está no epicentro das denúncias, mas dispara que está, na verdade, como vítima de madeireiros clandestinos, que nunca deixaram de fazer pressão para aprovação de projetos tecnicamente impraticáveis.
Mas, a metralhadora da PF e MPF está na mira de Auzier. Como o sistema exige assinatura digital, a senha que aparece com maior frequência nas adulterações é a do próprio titular da Gesflora.
Por conta desses documentos rastreados no sistema e analisados pelo Ministério Público Federal é que, há sete dias, o ainda secretário Valmir Ortega mandou publicar no Diário Oficial do Estado a exoneração do engenheiro agrônomo e de toda a sua equipe.
Ibama - Polícia Federal e MPF montaram acampamento na Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema) e apuram, também, por quais razões o Ibama, que expede o Documento de Origem Florestal (DOF), não rastreou o esquema antes de se tornar escândalo.
O próprio Ibama, em tese, teria condições de bloquear as empresas fantasmas que compraram o crédito 'podre'. As investigações desejam chegar aos nomes dessas empresas, que teriam sido beneficiadas para atuar ilegalmente.
Antonio Gomes da Costa, dono do plano de manejo da fazenda Deus é Grande, em Pacajá, só soube da alteração em seu plano de manejo quando foi intimado a prestar esclarecimentos ao Ministério Público Federal. Exigindo retratação formal da Sema, Auzier avisa que vai ingressar na justiça para se defender das acusações. 'Se ele falar, cai muita gente. Pode cair o governo inteiro', diz um servidor que prefere o anonimato, já que recebeu ameaças de morte por não concordar com o esquema.

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