segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Adolescentes pagam preço alto para viver em cárcere privado

No AMAZÔNIA:

Os apartamentos nos quais os meninos são amontoados, as ruas onde trabalham e a perseguição a que são submetidos existem para manter ordenada a servidão por dívida. E eles devem muito. 'Tudo que elas (cafetinas) gastam com a gente é cobrado em dobro', disse Pedro*, adolescente de 17 anos, recentemente aliciado. Com viagem marcada para o final do mês, o menino sabe que vai chegar devendo. 'A passagem custa R$ 360 e ela (cafetina) manda mais R$ 40 para eu gastar na viagem. Só que eu vou pagar o dobro', explicou.
Além de servirem para 'guardar' os adolescentes quando eles não estão trabalhando, o Esther, o Andorinhas, o Los Angeles e o Século XX são parte considerável dos ganhos dos aliciadores, que pagam uma média de R$ 300 pelo aluguel, mas cobram de cada menino uma diária de R$ 20 - R$ 600 por mês de cada um, lembrando que cada apartamento abriga pelo menos cinco adolescentes.
No apartamento que custa para cada menino R$ 600 por mês não há camas ou mobílias. Os meninos dormem amontoados em colchões finos e puídos, espalhados pelo chão, sem colchas, lençol ou qualquer conforto. As portas de muitos apartamentos, sem fechaduras, são 'amarradas' com correntes atravessadas entre buracos nas maçanetas e paredes.
Do lado de fora, nos corredores, homens jovens, fortes, tatuados, de olhar frio e intimidatório vigiam os adolescentes. Diante da menor possibilidade de fuga ou contato com pessoas estranhas eles se posicionam nas portas dos quitinetes, impedindo qualquer aproximação. O aprisionamento é testemunhado por várias pessoas que moram ou trabalham próximo aos prédios. 'Eu nunca vejo esses meninos. Eles só saem daí no início da noite, já vestidos de mulher', disse o balconista de uma lanchonete próxima ao Andorinhas.
Claudio*, adolescente traficado para São Paulo aos 15 anos, sabe bem como funcionava o aprisionamento por dívida. 'A gente passava a noite toda trabalhando e durante o dia dormia. Quando não conseguíamos o dinheiro da cafetina, éramos obrigados a fazer programas de dia, embaixo de viaduto', disse o jovem, que já retornou para Belém. Atualmente com 21 anos, Claudio* 'trabalha' na rodovia BR-316 e não pensa em voltar pra São Paulo. 'Sofri muito naquela cidade. Apanhei na cara de cafetinas'.

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