No AMAZÔNIA:
Apesar de não faltar problemas de infra-estrutura, avaliação e gestão, a formação de professores é a área mais crítica dos municípios com os piores indicadores educacionais do País. É o que apontam relatórios preenchidos sob orientação de técnicos do Ministério da Educação e de universidades pelas cidades com menor Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), calculado a partir de taxas de aprovação e de notas de alunos na Prova Brasil, que avalia português e matemática.
Cachoeira do Piriá, que registra o quarto Ideb mais baixo do País (nota 1,8), é um exemplo. A secretária de Educação, Elma da Silva Bezerra, não tem dúvida ao afirmar que a preparação dos professores é um dos fatores principais para o nível alcançado pelos alunos na avaliação do MEC. 'O nosso quadro de funcionários não tem o perfil exigido. A maioria é de nível médio, cerca de 80% ou mais. Eles atuam de 1ª a 4ª série em salas multisseriadas, com total falta de preparação', diz. Segundo ela, por mais que a prefeitura promova, semestralmente, cursos de formação continuada, 'nunca será capaz, em tão pouco tempo, de realmente preparar o docente para ensinar os alunos'.
Elma ressalta que, atualmente, foi feita uma parceria entre uma faculdade particular do município e a secretaria de Educação para que os professores pudessem se graduar em pedagogia. A prefeitura deu o espaço físico de uma escola municipal para aulas aos fins de semana e a faculdade participou com o corpo acadêmico. Apesar dos descontos, que reduziu a mensalidade em cerca de 70%, a iniciativa despertou o interesse de 23 professores somente. 'Nosso quadro atual são 183 professores, além desses 23 que estão cursando o segundo período de pedagogia, ainda temos uns 30 com nível superior. Mesmo assim a defasagem de professores graduados é muito grande'. Na atual gestão, só um concurso público foi realizado e não foi exigido nível superior. Para uma jornada de 40h semanais, um professor de Cachoeira do Piriá recebe cerca de R$ 800.
Essa realidade é comum nos outros três municípios do Pará listados no ranking das 19 localidades com os piores índices educacionais do Brasil. Em Chaves, ao norte do Marajó, a responsável pela pasta da Educação, Luiza Vasconcelos, afirma que o problema é quase totalitário no município. É próximo dos 100%, fora que a rede municipal é, na sua maioria, multisseriada. 'Além da formação deficiente, esses professores trabalham do infantil à 4ª série, no mesmo local e horário. É uma realidade muito difícil, que podem fazer o que for, mas do jeito que está não vai melhorar'.
Portel, que registrou nota 2 no Ideb (como Chaves e Anajás), tenta reverter esse número intensificando cursos de aperfeiçoamento e com convênios com as universidades federais. Segundo a secretária Rozangela Fialho, os números apresentados pelo MEC durante o Fórum de secretários municipais, a respeito do déficit de professores graduados, estão deficitários. Ela garante que o município não conta com somente 17 professores graduados, como foi constatado em 2005. Pela sua estimativa, cerca de 60% do quadro atual tem nível superior. 'Apesar dessa evolução, ainda temos muita dificuldade dentro das questões pedagógicas, no que diz respeito a equipamentos e espaço para que os professores possam desenvolver ações de qualificação'.
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