No AMAZÔNIA:
A reserva indígena Tembé, na região do Alto Rio Guamá, no nordeste paraense, vive o drama da invasão pelos madeireiros. Metada da área de 297 mil hectares está devastada pela extração ilegal de madeira, que iniciou com o empresário Mejer Kabacznik, já falecido, e continua com os herdeiros do pioneiro do desmatamento, segundo os índios. Até uma estrada de terra já foi aberta na reserva em quatro décadas de exploração, tendo se incorporado ao traçado da região com linhas de ônibus intermunicipais e escoamento da produção agrícola.
Técnicos da Fundação Nacional do Índio (Funai) acusam os índios de coniventes com o desmatamento. Os caciques das etnias Tembé e kaapo seriam os mais próximos dos madeireiros. O próprio ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, durante a visita em Paragominas, disse que 'não se pode tapar o sol com a peneira', e que 'muitos caciques se aliam aos madeireiros ilegais, e depois compram carros e outros bens, deixando o restante da aldeia na miséria'.
O ministro prometeu entendimentos com a Funai no sentido de aumentar a fiscalização dentro das reservas. O objetivo é impedir a entrada de madeireiros ilegais. 'Temos que impedir que a ingenuidade dos caciques seja utilizada por essas pessoas sem escrúpulos que acham que podem peitar a autoridade', disse o ministro.
Caciques das 13 aldeias Tembé e Kaapo, onde vivem cerca de 1.300 índios, já manifestaram, no início deste ano, em reunião com o prefeito de Paragominas, Adnan Demachki, o desejo de implantar projetos de manejo para extrair a madeira de forma legal. Pedido até hoje ignorado pelas autoridades. Na reunião com o prefeito, que discutiu a participação dos índios no projeto de tornar o município no primeiro a alcançar o desmatamento zero na Amazônia, os caciques confirmaram a liberação de áreas da reserva por uma quantidade ínfima de dinheiro. Foram retiradas da floresta milhares de metros cúbicos de maçaranduba, ipê, tauari. Ano passado, disse um desses caciques que abriram as porteiras para o madeireiro ilegal, foram retirados madeira de mais de 20 mil hectares de área.
Além do plano de manejo florestal, os índios querem recursos para tocar uma atividade econômica que os sustentem e também gere renda, através de uma roça mecanizada, acabando de vez com a agricultura de 'toco'. 'Fomos obrigados e vender madeira para poder sobreviver. Só produzimos pra gente se alimentar, a caça e a pesca estão ficando cada dia mais difíceis. Muita gente nos prometeu ajuda, os governadores, o governo federal, mas não aconteceu nada, ninguém dá alternativa para nossa sobrevivência', desabafou o cacique Sérgio Muxi Tembé.
Hoje a devastação na reserva Tembé amplia-se mais, como a que está sendo praticada nos mais de 33% de área da reserva que dá para o lado de Paragominas. A disputa pela riqueza florestal dentro da reserva Tembé já provocou e continua provocando sérios conflitos entre invasores e índios.
Nenhum comentário:
Postar um comentário