No AMAZÔNIA:
O dia das mães, comemorado ontem, costuma ser um dia de homenagens, almoços, presentes. Mas tudo isso não tem nenhum colorido para mães que perderam seus filhos. Ainda mais quando a perda não é para o destino, para uma fatalidade ou um acidente, mas para a violência que dá as cartas no Pará. Ontem, as mães que coordenam o Movimento pela Vida (Movida), que reúne vítimas da violência no Estado, acordaram cedo e deram plantão na praça da República. Com fotos, cartazes e faixas, elas pediram justiça pelos filhos mortos.
Uma das mães do Movida não pode comparecer porque não passou bem, como acontece todo dia das mães, há três anos. Charlene Pacheco Bentes, de 26 anos, mãe das meninas Bianca Lorrane e Adrielle Bentes, mortas na Pratinha em fevereiro de 2006, não teve forças para ir à praça, e foi representada pela irmã, Ivanice Pamplona.
Segundo a irmã, Charlene estava 'arrasada', como tem ficado nos últimos três anos em cada data comemorativa, em especial no dia das mães. 'A Charlene fica muito mal nesse dia, não consegue sair de casa, não consegue reagir. E o que podemos fazer é dar apoio para ela, dar forças', contou Ivanice.
Os acusados pelas mortes, Rogério Santos dos Santos, de 28 anos, conhecido como 'Carvoeiro', e Denilson Gama Coelho, o 'Besourinho', serão julgados no próximo dia 29. Um outro acusado de envolvimento no crime, Eliézer da Silva Pereira, será julgado separadamente, pois entrou com recurso. Os três são acusados de homicídio triplamente qualificado, por motivo fútil, praticado de forma cruel e sem chance de defesa para as vítimas.
Andrelina Pereira, mãe de Bruno Abner, morto aos 26 anos na frente da casa onde morava, conseguiu a condenação dos acusados, que juntos pegaram mais de 80 anos de prisão. Mesmo assim, ela acompanha o movimento e luta pela justiça nos demais casos que ainda precisam ser julgados. 'Eu não sei o que seria de mim se não participasse do Movida, porque não posso ficar só, sem o apoio dessas mães e também sem prestar o meu apoio', conta Andrelina.
Junto com ela estava Iranilde Russo, mãe de Gustavo Russo, o promotor de eventos morto por engano durante uma perseguição policial, aos 27 anos. Vera Anilza de Lima, mãe de Lewis, também estava na praça. Ela luta pela recaptura do assassino de seu filho, Manoel Sabino Carvalho, condenado a 18 anos de prisão. Depois de várias progressões de pena, ele começou a receber indultos, até que no último Natal não voltou para a prisão e está foragido.
Do trio elétrico estacionado na praça para festejar o dia das mães, as mulheres do Movida receberam homenagens de outra mãe do movimento, Eliana Cardoso, mãe de Anderson Augusto, morto por uma gangue aos 17 anos, logo depois de ser aprovado para ingressar no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), uma das universidades de tecnologia mais concorridas do País.
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