A “grande novidade” do microcrédito

No Blog do Castagna Maia, sob o título acima:

Foi na década de 90 que surgiu a “grande novidade”: o microcrédito. Era o crédito solidário, inspirado em um banco indiano. Finalmente o crédito era acessível aos pobres, aos miseráveis.

II

Falei abaixo de Brizola. A Caixa Econômica Estadual do Rio Grande do Sul, criada por Brizola, tinha, por exemplo, linha de crédito para que o operário pudesse comprar sua bicicleta e se deslocar até o trabalho. Tinha linha de crédito para a compra de máquina de costura, para que a mulher do trabalhador pudesse ajudar a sustentar a família. E não era só isso, era muito mais.

III

Isso foi em 1958. Isso se perdeu. Com o golpe militar de 1964, viu-se a primeira onda brutal de concentração bancária. E essa concentração continuou. As poucas caixas econômicas que restavam foram privatizadas.

IV

É impressionante o que uma pequena quantidade de recursos permite. Quanto custa uma carrocinha de pipoca? Uma carrocinha de cachorro-quente? Quanto custa uma fritadeira? A carrocinha de pipoca custa R$ 1.500,00. Ou seja, se o sujeito dispuser de 1.500, terá trabalho, terá como sustentar a família.

V

Normalmente não temos essa visão: a de que 1.500 na vida de alguém podem salvar a vida, podem ser a diferença entre ter ou não ter trabalho, podem ser o que permitirá sustentar a família. Normalmente não temos a visão de como um crédito tão pequeno poderá mudar a vida de alguém. E há ocupações que exigem ainda menor investimento, que exigem menos de mil reais para comprar um freezer, uma fritadeira.

VI

E o curioso é isso: falar em “microcrédito”, em “grande novidade” importada da Índia, quando aqui dentro já tivemos experiências interessantíssimas de crédito popular, mas isso tudo foi soterrado pelo gigantismo do sistema financeiro e porque era necessário esconder tudo o que Brizola havia feito. As caixas estaduais serviam para esses pequenos empréstimos, mas deixaram de ser “modernas”. Eram um símbolo do atraso. E aí não houve mais crédito para o trabalhador comprar a bicicleta com a qual vai trabalhar, para sua esposa comprar a máquina de costura. Provavelmente porque isso também não era “moderno”.