sábado, 6 de junho de 2009

A dor, o medo… e os números

Na VEJA:

Nada do que se vai ler aqui consola quem perdeu um filho, o pai, a namorada, o marido ou toda a família na queda do Airbus da Air France que fazia o voo 447 entre o Rio de Janeiro e Paris no domingo passado. O que vai pelas próximas doze páginas procura mostrar que os mais espetaculares avanços tecnológicos, as expectativas e ambições mais justas, as apostas de vida e carreira mais acertadas, os relacionamentos mais recompensadores podem desaparecer em questão de minutos. Mostra também que para os que ficam se inicia uma repentina e não planejada jornada interior em busca de uma explicação para suas perdas, algo que vai levá-los a questionamentos e a incursões cada vez mais profundas nos labirintos da alma onde moram a religiosidade, o afeto e as lembranças indeléveis, tudo o que humaniza e dá sentido à vida.
No mundo exterior dos familiares das vítimas começa também a frenética e disciplinada busca dos corpos e das partes do avião que possam ser estudadas para reconstituir a tragédia e evitar que ela se repita. As pessoas voam por necessidade, comodidade, por prazer e pela segurança proporcionada por esses canudos de alumínio impulsionados por turbinas alimentadas a querosene capazes de levar uma massa de 200 toneladas à velocidade de 900 quilômetros por hora. Em um dia qualquer, 13 milhões de pessoas cortam os céus do planeta a bordo de jatos comerciais. Essa metrópole voadora só perde em população para Mumbai e Xangai. Os números mostram que esses 13 milhões de terráqueos voadores estão mais seguros do que os pedestres parados em uma esquina noturna do Rio de Janeiro, de São Paulo, atravessando a rua em Nova York, ou, como gostam de lembrar os pilotos, eles correm menos riscos do que um pacato apicultor, já que mais pessoas morrem a cada ano vítimas de picadas de abelhas do que em desastres aéreos.
Ocorre que a dor e o medo são processados em áreas do cérebro bem distantes daquelas que analisam os números. E, mesmo informados de que o acidente do AF 447 é o primeiro naquela rota em sessenta anos, os passageiros continuarão tendo medo de voar, a estremecer de pavor durante as turbulências e a rezar para que os pilotos lá na frente evitem aquele trecho de tempestades fatídicas do céu sobre o Oceano Atlântico.

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