segunda-feira, 29 de junho de 2009

Duas éticas


A todo instante, somos desafiados a mostrar nossa ética, mas sem dúvida que o político é o sujeito mais provocado nesse campo, especialmente quando portador de mandato eletivo. Vamos abordar o tema em função desse último agente.
Indagamos: é possível a existência de duas éticas para o político? Conforme demonstra a realidade do País, somos obrigados a sustentar, sem gosto, uma resposta positiva, já que a divisão dos valores no ser (pessoa) é a exceção.
Sem generalizar, há para essa gente uma ética toda particular, em que procuram obter direitos comuns ao meio social, e outra política, na qual se servem sempre que necessitam ingressar ou se sustentar no Poder.
Surge, então, outra questão: a par dessa existência as duas éticas podem coexistir? A resposta, infelizmente, também não será negativa. A uma, porque para a classe política o ser (pessoa) é diferente do dever-ser (pessoa na política). E a duas, porque para eles não somos, e sim apenas formamos uma coletividade eleitoral apta a ser manipulada, a fim de depositar neles os votos necessários para alcançar o Poder.
Estaremos diante da ética política toda vez que alguém discursa prometendo um mundo melhor e quando eleito esquece o compromisso assumido.
Maquiavel, na obra O Príncipe, esclareceu que "entre como se vive (na política) e como se devia viver (na ética) há tamanha diferença, que aquele que despreza o que se faz (realismo político) pelo que se deveria fazer (conforme as regras da ética) aprende antes a trabalhar em prol da sua ruína do que da sua conservação". Talvez por isso a classe política brasileira tenha optado por usar duas éticas.
Os escândalos no Senado brasileiro, que até o momento resultaram somente em uma infeliz declaração do chefe do Poder Executivo Federal (de que o presidente daquela Casa Legislativa não deveria ser julgado como um homem comum), demonstram a existência e a coexistência de duas éticas na política nacional, sem qualquer preocupação.
Tomara que os príncipes do caso tenham em mente que uma das coisas que estragam o político é o ódio sustentado por seus vassalos, que, cansados do egoísmo dos suseranos, decidem romper com eles porque não suportam amparar uma ética na qual os desonestos sobrevivem.

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ROBERTO DA PAIXÃO Junior é bacharel em Direito
roberto.jr@orm.com.br

Um comentário:

Anônimo disse...

Roberto, concordo com seu artigo. Talvez se estivessemos em outro país não, mas se tratando do Brasil, eu concordo em gênero, número e grau.