Da leitora Jacqueline Oliveira, pedagoga, sobre a postagem Estudantes ficam sem casa:
Há mais ou menos quatro anos acompanho a saga das meninas da casa de estudantes de Abaetetuba. Tais heroínas, enfrentam bravamente as adversidades para construir habilidades e no futuro não passar por certas situações que hoje vivem.
Digo heroínas, sim! Pois lutam sempre por melhores condições de vida. Durante um tempo, tiveram que conviver em uma casa onde os ratos também eram os moradores. Aí vocês devem perguntar: não havia higiene entre as moradoras?
Muito pelos contrario, todas dividem muito bem suas atividades dentro do espaço; no entanto, os arredores da casa tinham todas as condições propícias para criar "certos visitantes". Depois mudaram e uma nova batalha tiveram que enfrentar a de conviver em um bairro rodeados de bandidos, no qual muitas foram vítimas de constantes assaltos.
Agora, quando enfim encontraram um espaço para se estabilizarem e seguirem seus estudos, as estudantes precisam travar uma nova batalha e com quem menos esperavam; com a "ilustríssima" prefeita que pretende colocá-las para fora da casa. Mas pergunto à senhora: será que você sempre estará em seu berço de ouro? Talvez nunca tenha sentido dificuldades para estudar, caso contrário, não estaria colocando tantas dificuldades para manter uma tradição que há anos perdura.
Sua incompetência não vos deixa ver que essas meninas que hoje choram por um teto para poder ter condições de estudo, pode ser o futuro de Abaetetuba no que se refere ao retorno de serviços de qualidade ao município.
Quantas enfermeiras, advogadas, engenheiras, relações públicas, dentre outras profissionais a casa não está ajudando a formar e quantas outras deixarão de manter por pura "birra infantil".
"Está na hora da senhora, ilustríssima prefeita, rever certos conceitos" para que Abaetetuba não seja reconhecida apenas como o município que encarcera meninas em celas com homens, nem tampouco como o município que apresenta o pior desenvolvimento educacional em avaliações nacionais, mas também que possibilita o crescimento educacional de seus jovens, como o município que prima pelo avanço socioeconômico, cultural e cientifico de sua população, como o município que tenta mudar sua realidade com estratégias inteligentes e não com teimosias infantis.
Certa vez, Platão disse "Não espere por uma crise para descobrir o que é importante em sua vida.". Por isso, senhora prefeita, não espere que essa crise de sua imagem e governo piore e mostre humildade para aceitar que a decisão mais acertada é manter o sonho dessas meninas de buscarem melhores condições de qualidade de vida.
Aquele mesmo filósofo disse: "Tente mover o mundo, o primeiro passo será mover a si mesmo." Remova tais conceitos medíocres para poder governar com coerência, com sapiência. Só assim serás reconhecida pelo seu trabalho e não pela sua burrice. Muito me admira o senhor vice-prefeito Ronald Sobrinho ao apoiar tal decisão, justo você, que já fez uso das instalações da casa de estudantes masculina de Abaetetuba durante sua vida acadêmica. Sua submissão a essa decisão demonstra seu esquecimento de suas reais origens, hoje esta ocupando um belo cargo público, mas se isso foi possível foi porque, em um passado, você utilizou de um espaço para manter-se, mas vejo que esqueceu uma importante fase de sua vida.
Termino este desabafo com uma frase de um grande pensador da área de educação, para que seja instrumento de reflexão a todas que tiverem acesso a esta manifestação de repúdio “Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens educam-se entre si mediatizados pelo mundo.” (Paulo Freire, Pedagogia do Oprimido).
JACQUELINE OLIVEIRA
Pedagoga - Belém-PA
Um comentário:
Tenho uma aluna, a qual oriento o TCC, que mora (ou morava) nesta casa.
Faz fisioterapia em Belém na UEPA e mora em Abaetetuba.
Dia desses estávamos estimando por baixo, se ela tivesse que vir e voltar de Abaeté todos os dias, além do tempo e desgaste fisico, gastaria por baixo um salário mínimo por mes em transporte.
A prefeita de Abaeté é Psicóloga, um dia foi estudante e sabe bem as dificuldades que por que passa quem mora em municípios e vai estudar em outro.
Me sinto no dever de ser solidário a estas meninas e por sua luta.
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