No Quinta Emenda, sob o título acima:
O economista Fernando Coutinho Jorge despede-se amanhã da presidência do Tribunal de Contas do Estado. Aos 70 anos, sai da vida pública encerrando uma longa e venturosa carreira iniciada nos anos 60.
Deve-se a ele o que muitos reputam como o melhor documento de planejamento já construído pelo Sistema Estadual de Planejamento do Pará, por ele implantado - As Doze Teses do Planejamento Estadual - elaborado por uma equipe sob sua coordenação no final dos 70. Particularmente, nada de melhor li sobre o tema do que os trabalhos do prof. Roberto Santos.
Com excelente formação para os padrões daquela época, Coutinho Jorge deixa uma fama de trabalho, competência e decência, a última arranhada em dezembro de 2008 quando até o site do TCE do Distrito Federal registrou as críticas à sua recalcitrância em demitir parentes e aderentes em diversos setores da Corte. Orgulha-se de ter formado uma geração de economistas, o ex-governador Simão Jatene à frente.
Professor Titular da UFPA, secretário de estado, deputado, senador, ministro, prefeito da capital e conselheiro, Coutinho conversou com alguns interlocutores deste blog nas últimas semanas, que concluíram que ele vai pra casa decepcionado, insatisfeito, amargurado com a cena paroara, o Tribunal inclusive.
Identificaram, nas entrelinhas de Coutinho, a mais completa descoordenação num governo que Ana Julia comanda a cota da DS no executivo, nada interferindo nas outras áreas ocupadas pelos demais grupos do PT e aliados.
Acham que o presidente do TCE não reconhece diretrizes na gestão do governo, não percebe projetos estruturantes para o estado, e avalia como gravíssima a situação do Pará. Concluem que Coutinho nunca viu nada igual, uma espécie de estado à deriva.
Acostumado a receber prefeitos e deputados em seu gabinete, ouve que o TCE não distingue gestores e parlamentares corruptos dos ingênuos ou despreparados, não raro invertendo o tratamento dispensado à estes e aqueles.
As fontes do blog não garantem que Coutinho registre a presença de normas e padrões para as atividades de conselheiros daquela Corte de contas, cada um fazendo seu trabalho sem visualizar o todo do Tribunal. Seus pares trabalhariam totalmente desconectados de uma ação comum e integrada na fiscalização das contas públicas.
Coutinho nada falou sobre corrupção ou nepotismo, dentro da Corte ou do governo, mas certamente se absterá de reproduzir amanhã, na transmisão do cargo, com a presença da governadora e de seus pares Conselheiros, a eles olhando de frente, este entendimento que tiveram os interlocutores do blog.
Uma pena. Coutinho Jorge daria uma bela contribuição para, ao menos, socializar as informações que tem e sinalizar ao povo do Pará o que acha que pode vir pela frente. Teria autoridade e credibilidade para tal e não frustaria a esperança que nós, cidadãos, temos, de que críticas assim possam por em brios o Poder Público Estadual e as elites (dirigentes e governantes).
De todo modo, perde o estado um servidor de relevância, de uma geração composta de poucos quadros como ele.
2 comentários:
Prezado Bemerguy,
Relutei muito em escrever este comentário sobre Fernando Coutinho Jorge.
O faço para que isso fique como registro.
Trabalhei diuturnamente com Fernando - assim lhe chamava na intimidade - embora seu nome politico fosse Coutinho Jorge.
Foram mais de 15 anos atuando na assessoria dele.
Por isso, posso dar meu testemunho.
Fernando foi um visionário, acima de tudo. Vislumbrou um Pará desenvolvido, ecologicamente sustentável, uma administração descentralizada na prática e não em discurso de campanha.
Se Mosqueiro ainda é uma ilha balneária, Belém lhe deve esse tributo. Se não fosse sua pronta intervenção, a fábrica da Albras/Alunorte seria instalada lá.
Fernando contou com um aliado importante, o professor Aloysio Chaves.
Não cheguei a trabalhar com Fernando quando o doutor Aloysio governava o estado, mas de tanto ler documentos e ouvir relatos de Fernando, conheci muito dos bastidores da administração pública paraense.
Outro dia, escrevi a Humberto Cunha, relembrando o episódio da votação pela Cãmara de Vereadores, em 1986, do projeto de lei que instituia a eleição direta para diretores de escolas municipais. Hoje, falar disso, não causa mais impacto. Mas, àquela altura, mesmo que na Nova República, não era qualquer um no PMDB que tinha o topete de abraçar uma bandeira da esquerda. Mas, por ironia do destino, seu próprio partido, o PMDB, o derrotou na Cãmara e o projeto foi rejeitado. Os vereadores preferiram que o prefeito continuasse a nomear livremente os diretores, atendendo a critérios políicos. Fernando acatou a decisão da Câmara, mas exonerou no mesmo dia todos os diretores, estimulando que a comunidade escolar, mesmo que informalmente, indicasse três nomes de onde sairia o diretor nomeado. E assim foi feito.
Fico aqui, relembrando estes dois episodios marcantes de sua vida político-administrativa para homenagear um homem público que dedicou-se à política sem tirar proveito pessoal dela.
Mas sei, que mesmo cuidando dos netos, Fernando continuará amando o Pará como sempre amou.
Miguel Oliveira
Bem-vindo, Miguel.
Amanhã postarei na ribalta.
Abs.
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