sábado, 23 de maio de 2009

Na galeria, cada clarão

WALMIR BRELAZ

No segundo andar do plenário da Assembleia Legislativa encontra-se a maior parte de sua galeria de três andares, com aproximadas 100 cadeiras. É o espaço destinado à galera.
Antigamente, mas ainda valendo para o nosso tempo, a galeria era o setor do teatro mais distante do palco e por isso mais barato. Ali ficavam os escravos, que acompanhavam seus senhores. A galera pode também ser considerada como um grupo de pessoas ou de amigos. Nos grandes estádios de futebol, a galera é a própria torcida.
Mas, na galeria da Assembleia Legislativa, há algo que chama atenção: o seu imenso vazio, um grande clarão. Pelo menos no segundo andar e na maioria dos dias. O primeiro não conta, já que frequentado pelos mais próximos dos deputados: assessores, amigos, correligionários e os famélicos por favores concretos.
O vazio da galeria é um fato; o motivo, uma incógnita. Como não há povo na "Casa do Povo"? Seria por considerar-se tão representado por seus eleitos? Provavelmente, não.
A Assembleia Legislativa é, em tese, o lugar para legislar, fiscalizar os atos do Executivo e, ainda, para promover debates sobre temas relevantes da sociedade: para parlar. Porém, como acontecer tudo isso distante do povo?

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“Como não há povo na "Casa do Povo"? Seria por considerar-se tão representado por seus eleitos? Provavelmente, não.”
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Ser informado das atividades parlamentares por outros meios de comunicação não é a mesma coisa que estar presente. É como assistir a uma peça teatral pela televisão ou acompanhar uma partida de futebol pelo rádio. Por mais que haja qualidade nas transmissões, não é a mesma coisa. Com certeza, não.
Por outro lado, os atores e atrizes de uma peça teatral não a encenariam sem o público, de preferência concentrado a contemplar sua arte. E os jogadores? Como fazer um gol e partir em direção da arquibancada vazia? Como não correr para a galera? Trata-se, portanto, de dependência mútua. Um jamais sobreviveria sem o outro.
No Parlamento deveria ser assim. Mas não é, ou não está sendo. O povo não vai ao plenário, e isso é um fato. O deputado pode até precisar dele. Contudo, não é o que parece. No terceiro andar da galeria, construiu-se uma unidade burocrática do Poder, na outra parte implantou-se um departamento de televisão. Neste caso, talvez para que o povo possa, enfim, assistir aos acalorados debates. Distante.

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WALMIR BRELAZ é advogado

Um comentário:

Anônimo disse...

Isso, lamentavelmente, ocorre na maioria das Casas de Leis.