terça-feira, 12 de maio de 2009

Emasculador está na cadeia

No AMAZÔNIA:

O médico Anísio Ferreira de Souza, condenado por participação no crime de emasculação de crianças em Altamira, foi conduzido ontem para o Presídio Estadual Metropolitano (PEM I), em Marituba. Foragido desde o julgamento, em 2003, ele foi preso na quinta-feira, no município de Porto Franco, no Maranhão. Anísio começa a cumprir aos 67 anos de idade a pena a que foi condenado de 77 anos de reclusão. Já com a saúde debilitada, o médico se diz 'vítima de injustiça' e se compara a Jesus Cristo quando fala da 'perseguição' que tem sofrido.
Anísio foi transferido para Belém de avião, sob escolta de policiais militares no final da manhã de ontem. O promotor de Justiça Milton Menezes, coordenador do Grupo Especial de Repressão e Prevenção às Organizações Criminosas (Geproc), do Ministério Público, acompanhou a transferência. O médico era foragido da Justiça paraense desde 2005 e foi localizado em uma ação conjunta do Geproc e do Grupo Especial de Combate ao Crime Organizado do Maranhão (Gecoc) no início de maio. Ele foi preso na quinta-feira passada no município de Porto Franco, distante 100 quilômetros de Imperatriz, no Maranhão.
Anísio alegou que não sabia que estava sob a condição de foragido e que estava no Maranhão para resolver questões pessoais. 'Eu me acho injustiçado, perseguido. Mas sofreu Cristo', disse, no momento do desembarque em Belém. 'Eu não sou foragido. Só fiquei sabendo que a Justiça estava atrás de mim na semana passada, quando me mostraram o mandado. Mas é um equívoco, vocês vão ver que é um equívoco. Um dia todos vocês verão que eu sou inocente', repetiu.
Informações colhidas na localidade de Porto Franco e repassadas ao promotor de justiça Milton Menezes, do Geproc, apontam para a atuação médica de Anísio na cidade. Ele nega, afirmando que desde o julgamento não mais exerceu a atividade clínica. 'São quatorze anos de tempestade que eu tenho passado dia após dia', diz. Anísio conta que o único envolvimento com a medicina no tempo seguinte ao julgamento foi um curso sobre ultrassonografia em Ribeirão Preto, São Paulo.
Antes de seguir para o presídio de Marituba, onde começa a cumprir pena, Anísio foi submetido a exames de corpo de delito no Centro de Perícias Científicas Renato Chaves. A idade avançada e o corpo debilitado, segundo o promotor de justiça Milton Menezes, não devem servir para o abrandamento da pena ou a diminuição dos anos de condenação.
No julgamento, em 2003, além de Anísio, foram considerados culpados o ex-policial militar Carlos Alberto dos Santos Lima, o médico Césio Brandão e Amailton Madeira Gomes. Os quatro recorreram da sentença, mas só três deles (Anísio, Césio e Amailton) puderam aguardar o julgamento do recurso em liberdade, sob habeas corpus. Em 2004, o Superior Tribunal de Justiça manteve a decisão da Justiça do Pará, que os condenava a mais de 30 anos de prisão cada. Césio Brandão e Amailton Madeira continuam foragidos da Justiça.
A principal acusada e tida como mentora do crimes, Valentina de Andrade Muñoz, acabou livre em função da demora da Justiça na marcação de um novo julgamento. O crime prescreveu e não cabe recurso contra a decisão do Supremo Tribunal de Justiça (STJ). O julgamento de Valentina, realizado em 2003, foi anulado, a partir do pedido do Ministério Público do Estado (MPE), que alegou quebra de incomunicabilidade entre os jurados.
Os crimes de emasculação em Altamira ocorreram no período de 1989 e 1993 e as vítimas, meninos entre 8 e 14 anos, tiveram os órgãos sexuais extirpados.

Nenhum comentário: