Na FOLHA DE S.PAULO:
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva sugeriu que por trás da instauração de uma Comissão Parlamentar de Inquérito sobre a Petrobras podem estar uma tentativa de desviar o foco de denúncias no Senado ou interesses eleitorais "menores".
Em entrevista coletiva em Riad, na Arábia Saudita, Lula voltou a criticar os senadores que apoiaram a CPI criada, na sexta, para investigar supostas irregularidades cometidas pela Petrobras e pela ANP (Agência Nacional do Petróleo).
"Eu não sei o que está por trás disso. Talvez alguns dos que assinaram [o requerimento] estavam querendo tirar das suas costas todo esse debate que a imprensa está fazendo sobre o Senado. Outros, possivelmente, estejam preocupados com o processo eleitoral de 2010", disse o presidente.
O Congresso enfrenta, desde o início do ano, uma sucessão de escândalos, como mau uso de verbas públicas, excesso de gastos, falta de transparência na prestação de contas, uso de funcionários fantasmas ou desvios de função nos gabinetes.
Em pelo menos um episódio (deputados que usaram cotas de passagem aérea para beneficiar terceiros), o presidente Lula defendeu publicamente o Congresso, chamando de "hipocrisia" o tratamento dado pela imprensa ao caso.
Lula abriu a entrevista de ontem, que encerrou sua visita -a primeira de um chefe de Estado brasileiro à Arábia Saudita-, pedindo aos jornalistas que evitassem assuntos de política nacional. Ainda assim, quando questionado sobre a CPI, disparou contra os membros do Senado que a apoiaram.
Das 32 assinaturas recolhidas para abrir a CPI (são necessárias 27), 7 eram de governistas. O Senado tem 81 membros.
Lula lamentou que a investigação ocorra quando a indústria do petróleo vive "um momento de ouro", no qual o governo está prestes a iniciar um debate nacional sobre o novo marco regulatório do setor.
"Eu acho que você não pode transformar uma questão político-eleitoral possivelmente menor, envolvendo a empresa mais importante que o Brasil tem", afirmou Lula. "Se as pessoas que a assinaram não tem outra coisa para fazer, que façam. Nós vamos continuar tocando o barco."
Diante de jornalistas brasileiros e estrangeiros, numa sala da ampla residência do embaixador brasileiro na capital saudita, o presidente disse que não pensava mais na possibilidade de a CPI ser evitada e disse que não tinha tempo para ficar discutindo "coisas menores".
O presidente afirmou que vai se concentrar nos projetos do governo, entre eles um PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) 2011-2015, que pretende anunciar no próximo ano. A ideia é dar continuidade aos investimentos em infraestrutura depois que deixar a Presidência, no fim de 2010.
Em seguida, emendou com críticas aos antecessores, afirmando que, desde o governo Geisel (1974-79) até o início de seu mandato (2003), não houve projetos de infraestrutura.
Este projeto de continuidade poderia beneficiar um governo de continuidade. "Estou convencido de que farei meu sucessor", afirmou, complementando, porém, que será um erro abandonar os planos seja qual for o desfecho da sucessão.
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