domingo, 4 de janeiro de 2009

O grande embate político do ano


A crise econômica internacional abriu o pano de boca do teatro político para a oposição nas eleições presidenciais de 2010. Em 2009, Nosso Guia será pressionado a agir em ambiente adverso. O governo não poderá errar, pois qualquer vacilo pode custar muito caro ao PT na sucessão. Mas a oposição tem pela frente um grande desafio de forjar uma candidatura que unifique o PSDB, dividido entre os governadores José Serra (SP) e Aécio Neves (MG).
A divisão entre os tucanos impediu que em passado recente o partido tivesse melhor desempenho eleitoral em 2002 e 2006, lembram? Lideranças do partido pareciam anestesiadas e cruzaram os braços nas duas eleições. Será que a história se repetirá?
Fortalecido pelos resultados das eleições municipais e com maior índice de lembrança de nome nas pesquisas de opinião pública, Serra tem um comportamento de candidato natural e usa a força da máquina partidária paulista para se impor.
Embalado pelo sentimento unânime dos mineiros de eleger um presidente da República, Aécio faz o estilo "quieto", fez do estímulo ao sentimento difuso contra o predomínio dos paulistas seu mote. Serra quer que a candidatura seja fruto do consenso das principais lideranças de oposição, Aécio quer que ela seja construída num processo de eleições prévias em que o País seria ouvido.
Em recente pesquisa, o Ibope dá Serra como favorito para 2010. A popularidade do Nosso Guia é insuficiente, claro, até aqui, para garantir a eleição de 2010, de um sucessor que seja de seu partido. A grande esfinge da sucessão de agora até 2010 ainda está indecifrável. Por quê? Ninguém sabe se o presidente da República conseguirá transferir o apoio que hoje tem para seu candidato. É bom colocar em prática o seguinte raciocínio: Lula é Lula e Dilma é Dilma, a preferida do Nosso Guia, não chega a alcançar 10% do eleitorado nos diferentes cenários da pesquisa.

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“Vamos assistir à batalha entre os que defendem "conservar para melhorar" e os que preferem "mudar para melhorar. Nosso Guia, enquanto acompanha o duelo interno no PSDB, já definiu sua estratégia: governar.”
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No momento em que o presidente Lula fala aos quatro ventos e decide firmar a ministra Dilma Rousseff (PT) como sua opção para a sucessão de 2010, a terceira via de sempre, o deputado Ciro Gomes (PSB-CE), dá novos tons a um discurso de independência em relação ao governo e ao PT. Ciro está em segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto para presidente e diz que pode ser candidato a tudo e a nada. Especialistas afirmam que não passará de um coadjuvante.
Ciro afirma: "A crise econômica vai influenciar a eleição porque a crise financeira internacional ainda não revelou seu rosto nem superficialmente, e os seus efeitos sobre a vida do povo brasileiro. E os efeitos virão. Isso vai afetar o nível de avaliação do governo.”
Ambos, Serra e Aécio, precisam estar unidos se quiserem que os tucanos entrem na sucessão presidencial com uma candidatura competitiva. Por isso, terão que ser cautelosos na luta interna que travarão. Ao mesmo tempo, eles adotaram um discurso comum sobre o tratamento a ser dado ao Nosso Guia. Têm evitado bater e soprar, naquele que é o presidente mais popular da história recente do País; por ora, somente sopram.
Os tucanos sabem que precisam transcender a oposição, 35% do eleitorado brasileiro, se quiserem vencer. Precisam capturar aquela parcela que se converteu ao lulismo, mas não morre de amores pelo "jeito petista de governar".
Uma crise econômica pode acabar com governos. Mas ela, por si só, não basta para minar sua credibilidade. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso se reelegeu em 1998 diante de uma grave crise internacional se beneficiando do medo da mudança. Já em 2002, mesmo diante da deterioração econômica do País, provocada pelo chamado "efeito Lula" que traduzia o medo da parcela dos agentes no mercado com a vitória petista, a sociedade optou pela mudança.
Vamos assistir à batalha entre os que defendem "conservar para melhorar" e os que preferem "mudar para melhorar. Nosso Guia, enquanto acompanha o duelo interno no PSDB, já definiu sua estratégia: governar. Repete exatamente a tática de 2005, no auge do escândalo do mensalão. Para o petista, no final do túnel da crise há uma luz. E, quando ela vier, a julgar pela versão do Nosso Guia, os programas sociais e as obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) precisam estar de pé e Dilma se tornar uma candidata competitiva.

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SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com

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