domingo, 21 de dezembro de 2008
O custo de uma eleição
O Brasil continua sendo o país em que o famoso jargão: "Todo político bom ou ruim é um oportunista ambicioso", não perdeu a classe na cultura do vale-tudo.
Essa afirmativa se encaixa perfeitamente no momento em que se aproximam as eleições para as duas Casas do Congresso, mais precisamente do Senado. O candidato Tião Viana (PT-AC) enfrenta ameaça de rebelião dos colegas peemedebistas.
Nosso Guia sempre procurou manter uma estratégica e prudente distância das disputas figadais que envolvem os partidos políticos da base aliada do governo. Só interfere diretamente quando a situação está se degenerando. Discurso não é cartão de visita de político, mas as circunstâncias, sim.
A circunstância desse momento é a ameaça do PMDB de lançar um candidato próprio à presidência do Congresso, o que poderia inviabilizar a eleição do senador Tião Viana. Nosso Guia convocou as principais lideranças e selou um "acordo de paz" - nos moldes peemedebistas, evidentemente. Em troca do apoio do PT, o PMDB como agremiação pejada, apresentou sua lista de desejos para 2009.
O partido reivindicou apenas a manutenção do que já está sob seu comando. Em vista da voracidade notória do PMDB, o apetite pareceu até comedido. Acordo fechado? Não. Seguindo sua velha tradição, o PMDB fez a proposta, mas colocou o boi à sombra, e se arma para dobrar o pedido.
Ademais, o partido conta com a atuação de sua "ala de rebeldes", liderada pelo senador Renan Calheiros. Desde que renunciou à presidência do Congresso para não ser cassado, no ano passado, Calheiros tenta recuperar poder que lhe escapou sob pesadas nuvens que escondem seus contornos, cujos horizontes deveriam levá-lo a consultar o Oráculo de Zeus ou o da Corte dos tempos modernos: as pesquisas de opinião pública, que levantam os véus do futuro nada promissores para sua insaciável sede de poder.
Nosso Guia, em sua investida para assegurar a eleição de Tião Viana, negociou diretamente com três caciques do PMDB. Ao senador José Sarney, prometeu a manutenção de seus afilhados no comando do setor elétrico. Ao senador Valdir Raupp, o atual líder do PMDB no Senado garantiu a vice-presidência do Congresso na chapa de Tião Viana. Com o senador Romero Jucá, comprometeu-se a apoiá-lo para a presidência do partido.
Faltou falar com Renan Calheiros - que quer infernizar, custe o que custar, a vida de Tião, por motivos sobejamente conhecidos -, que comentou com amigos os favores que o governo lhe deve e acha que merece ser tratado com mais deferência. Para mostrar que não é líder dele mesmo - temos óleo de peroba e flanela, vai? Renan convocou uma reunião da qual participaram os senadores que haviam acabado de acertar o acordo com Nosso Guia. Ao final, Calheiros anunciou que o partido vai lançar um candidato próprio para enfrentar Tião Viana.
Quem entende de PMDB conhece bem esse mise en scène. Ela é vendida como uma insurreição de rebeldes do partido, mas ao mesmo tempo o governo é alertado de que o "movimento pode crescer". Nessas horas, sempre surge um nome inesperado para emprestar seriedade ao jogo.
Só que, desta vez, não deu e saiu da cartola o nome do senador gaúcho Pedro Simon - provavelmente como "boi de piranha". Pelo jeito, contra a vontade dele. "Eu me recuso a fazer papel de espantalho para assustar o governo. Desautorizo o uso de meu nome", reagiu Simon na reunião. Apresentaram-se então mais uma das "surpresas" típicas do PMDB, e quem se apresentou como voluntário para a missão? Adivinhem? José Sarney. Mas não havia sido Sarney que, dias antes, fechara um acordo com Nosso Guia? Sim.
Agora, em mais um ato de rebeldia para com o governo, a bancada do PMDB do Senado reúne-se para formalizar a candidatura do presidente do Senado, Garibaldi Alves (PMDB-RN). É mais uma maquinação dessa agremiação, que usa o conhecimento sobre o que virá para ajustar condutas, preencher espaços e tirar proveitos de situações.
Contudo, a política é volátil como as nuvens. A eleição para o Congresso ocorrerá no início de fevereiro e, até lá, as nuvens peemedebistas vão continuar se mexendo até que chova tudo o que eles querem na horta do partido. Nesse disse-me-disse, Tião Viana deverá ser o presidente do Senado, mas a conta será mais alta.
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SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com
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