segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Seduc, Sespa e Sema, três criadouros de casos interessantes

A debandada de secretários em ritmo acelerado, neste final do governo Ana Júlia, tem outra coisa em comum, além do fato das exonerações terem sido efetivadas sem maiores e esclarecedoras explicações e justificativas.
O ponto em comum é que tanto a Seduc, de onde se exonerou Luiz Cavalcante; a Sespa, de onde saiu Sílvia Cumaru, e a Sema, de onde picou a mula o doutor Aníbal Picanço, sempre foram pontos, digamos, dos mais nevrálgicos do governo Ana Júlia.
Nessas três pastas estão o germe, a gênese, a origem de algumas coisas das mais interessantes, das mais excepcionalmente vistosas do governo Ana Júlia.
As coisas que se passaram nessas três pastas caberiam num blog inteirinho para cada uma, tantas e tão curiosas elas são.
Mas podem ser resumidas.
A Seduc, por exemplo, bateu um recorde.
Nunca antes, jamais, em tempo algum na História deste Estado – desde que aqui aportou Francisco Caldeira Castelo Branco, em 1616 -, uma secretaria teve tantos secretários no período de quatro anos como a Seduc na era Ana Júlia.
Foram cinco até agora: Mário Cardoso, Iracy Bila Gallo, Socorro Coelho, Luiz Cavalcante e agora Ana Lúcia Lima dos Santos, a adjunta que, acredita-se, ficará até o dia 31 de dezembro.
Bila foi a protagonista daquilo que pode ter sido a coisa mais interessante, mais engenhosa do governo Ana Júlia.
O caso dos kits escolares, levantando tintim por tintim por este blog.
Na foto aí de cima, aparecem o então chefe da Casa Civil, Cláudio Puty, a governadora Ana Júlia e lá na ponta direita a doutora Bila Gallo. Rodeiam-nos várias crianças.
Suspeita-se que o superfaturamento superou a casa dos R$ 7 milhões.
Essa engenhosa engenharia administrativa foi parar no Ministério Público e daí no Poder Judiciário.
E caberia à professora Socorro Coelho, que substituiu Bila Gallo, fazer revelações das mais interessantes.
Tão interessantes que a professora, logo depois de deixar a Seduc, foi espairecer por algumas semanas no Rio, para ficar longe do furacão das repercussões.
E a Sespa?
Bem, na Sespa, o primeiro inquilino do governo Ana Júlia, o doutor Halmélio Sobral, é réu numa ação por improbidade administrativa que tramita na Justiça Federal em Santarém. Acompanhe os lances – vários – aqui, aqui e aqui.
A Auditoria Geral do Estado – do próprio governo Ana Júlia – ficou assustada com o que viu por lá.
Depois, passou pela Sespa a doutora Laura Rossetti.
Foi na gestão dela que estabeleceu a crise do Hospital Ophir Loyola, que começou a configurar, concretamente, o afastamento do PMDB do governo Ana Júlia até o rompimento definitivo.
A Sespa também esteve, não se esqueçam, no centro das atenções nacionais no caso da mortandade de bebês na Santa Casa.
E por último, mas não menos importante, o que se diz é que uma das razões da saída da última secretária, a dra. Sílvia Cumaru, tem a ver com o pagamento a fornecedores.
E tem ainda, é claro, a Sema, a pasta que cuida do campo minado que é o meio ambiente, onde florescem o desmatamento, a exploração desenfreada de madeira e as polêmicas concessões de licenças ambientais.
Aníbal Picanço, o secretário que picou a mula de lá na semana passada – dizque a pedido – é homem da mais estrita ou, se quiserem, irrestrita confiança de Marcílio Monteiro.
Monteiro, titular Secretaria de Estado de Projetos Estratégicos (Sepe), é um dos mais vistosos integrantes do chamado núcleo duro do governo Ana Júlia, formado por quatro condestáveis e tido por quase todo o PT de ser um dos mais fortes responsáveis pela derrota da governadora nas eleições deste ano.
Pois é.
Aníbal Picanço, segundo informou a “Folha de S.Paulo”, está sendo investigado pela Polícia Federal por ter dado uma "autorização especial" para transporte de toras leiloadas, documento que não é reconhecido pela legislação ambiental.
Diz um trecho da matéria, publicada em julho deste ano:

“Nos últimos 12 meses, o governo do Pará aumentou em 76% a liberação de planos de manejo para exploração legal de madeira no Estado, que é considerado recordista em desmatamento.
“Mas 90% dessas autorizações são fraudulentas, segundo disseram à Folha dois funcionários da Sema (Secretaria do Meio Ambiente do Estado do Pará), um ex-integrante da cúpula da pasta e dois servidores do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis). De acordo com eles, essas liberações irregulares servem apenas para "esquentar" toras cortadas ilegalmente na Amazônia.”


Picanço afirmou ao jornal que as acusações contra sua pasta são levianas e carecem de provas. Ele reafirma a legalidade dos planos que assinou.
Como se vê, as exonerações de secretários, em ritmo aceleradíssimo, no finalzinho do governo Ana Júlia podem até ser surpreendentes.
Mas nem tanto.

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