No blog do Castagna Maia
Advoguei pouquíssimo na área de família. Nas poucas vezes, dizia respeito a problema de algum amigo ou amiga, ou a alguma situação que me comovesse ou me revoltasse. É comum nessa área assistir à formação de brigas “sem limite”. Não raro os casais perdem o controle, e não raro as crianças acabam sendo prejudicadas.
II
Há questões sagradas. Filhos são a primeira delas. Achei que nunca teria pena ou simpatia por Antônio Carlos Magalhães. E tive pena daquele homem quando faleceu o Deputado Federal Luiz Eduardo, seu filho. Ali estava o pai, desesperado, em uma situação trágica, em uma situação limite, em um desamparo mesclado com o desespero.
III
Por maior que seja a desavença, o desentendimento, é preciso respeitar a humanidade das pessoas. É preciso romper a escalada de desumanidade quando ela começa a se instalar, a “escalada bélica” entre as pessoas. Alguém tem que tomar a iniciativa de não revidar, de buscar apaziguar, de buscar no outro o que ele tem de melhor - e não de provocar para que o pior venha à tona.
IV
Faço aqui críticas constantes a questões do governo Lula, a começar pela taxa de juros, pela questão do petróleo, pela falta de rumo da previdência complementar, dentre outras. E faço elogios ao Bolsa Família, ao PAC, a outros projetos do governo.
V
Digo isso por causa da Ministra Dilma. Tenho admiração pela Ministra, pelo que é e pelo que foi. Uma menina de 19 anos de idade que se revoltou contra a derrubada, pela força, de um governo eleito, e que foi barbaramente torturada quando mal saía da adolescência. Sobreviveu, conseguiu se reconstruir apesar de tudo: apesar da dor, da humilhação, da quebra da própria dignidade a que foi submetida.
VI
Não há uma só crítica envolvendo a postura de Dilma, envolvendo sua integridade, sua honestidade. De vez em quando se vê um ou outro email depreciativo, provavelmente feito pelos mesmos torturadores que a brutalizaram quando buscava entrar na vida adulta. Dilma, hoje, está doente.
VII
Independente das opiniões políticas sobre a atuação da Ministra, a mulher Dilma está doente. Está com uma doença grave, mas com excelente prognóstico segundo disseram os médicos especialistas. Mesmo doente manteve um ritmo de trabalho febril para quem está em cargo de ponta em qualquer instituição, em qualquer governo. E foi internada porque sofreu um efeito colateral do tratamento a que vem sendo submetida.
VIII
É um ser humano que está doente. É uma mulher valorosa, íntegra, de quem podemos discordar ou não, que podemos apoiar ou não. Mas é um ser humano, uma mulher, uma pessoa que, de acordo com as suas convicções, entende que está ajudando o Brasil e seu povo.
IX
Alguns textos a respeito das conseqüências da doença de Dilma têm sido desrespeitosos. A doença de Dilma, embora com bom prognóstico, não é uma banalidade. É uma doença grave. E aí temos o ser humano lutando contra a finitude física quando está no auge de sua vida, quando entende que está contribuindo da forma como antes nunca pode contribuir. Alguns textos publicados, no entanto, a pretexto de fazer avaliações políticas, são de uma crueldade imensa. Tratam a luta do ser humano contra a doença como se já fosse perdida. E aí tecem comentários sobre alternativas políticas a partir da premissa da derrota.
X
É um ser humano que está enfrentando um momento difícil na vida. Que já enfrentou, em outras oportunidades, a proximidade da morte. Agora, no entanto, se trata de uma doença, de uma grave doença. E é preciso apoiar a luta do ser humano pela vida, não permitir que uma visão cruel se apodere, não permitir que esse tipo de situação seja contaminada por uma visão apequenada, mesquinha, que se aproveita da fragilidade física para construir cenários sobre um hipotético desaparecimento de um ser humano.
XI
Concorde-se ou não com as idéias políticas de Dilma, é preciso respeitar a sua dor e a sua luta. É preciso impedir que a disputa política, assim como a disputa de alguns casais que se separam, seja sem limite, seja uma escalada destruidora não das idéias, mas do próprio ser humano. É preciso impedir a crueldade.
XII
É preciso torcer, sempre, pela vida. É preciso evitar que os comentários mesquinhos, apequenados, se avolumem. E é preciso que isso seja uma regra sempre: a regra do respeito humano, a torcida permanente pela vida. Daí a torcida, a fé em Dilma. O apoio à luta do ser humano, a solidariedade à sua dor, e a confiança na sua recuperação.
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