sábado, 10 de janeiro de 2009

O combate à criminalidade tem eficácia? Em que nível?

O secretário de Estado de Segurança Pública (Segup), Geraldo Araújo (na foto de Elcimar Neves, da Agência Pará), manifestou-se, em declarações reproduzidas em O LIBERAL de ontem, sobre o aumento avassalador da criminalidade em Belém.
Reconheceu que o número de crimes contra o patrimônio tem aumentado. “Mas também está aumentando a reação e a resposta a esses crimes”, contrapôs o secretário.
Ele admitiu sem retoques, sem meias palavras que não há “sensação de insegurança”, referência à expressão cunhada pelo ex-governador tucanos Almir Gabriel na campanha eleitoral de 2006 para minimizar o aumento da violência no Estado. O que há mesmo, reconheceu o secretário, é insegurança de fato. “A expressão sensação de insegurança foi riscada do meu dicionário. A situação é grave, mas não é só em Belém, é nacional”, disse Geraldo Araújo.
E as mortes em sequência? O secretário ofereceu uma resposta e, mais do que isso, um modo pessoal de avaliar a repercussão da violência: “Quando morre um cidadão, ninguém repercurte. Mas quando é alguém da sociedade, a repercussão é grande. Segurança pública não se faz da noite para o dia”, observou o secretário.
Disse muito mais, o secretário.
Mas essas suas três observações merecem atenção especial.

A reação aos crimes contra o patrimônio
Ao mesmo tempo em que reconheceu o aumento das ocorrências criminosas contra o patrimônio (roubos e furtos), o secretário fala em aumento da reação e da resposta a esses delitos.
Não duvidemos do secretário.
Geraldo Araújo é um servidor sério. É técnico. Tem serenidade. A governadora Ana Júlia acertou em integrá-lo à sua equipe. Quem já manteve contato com doutor Geraldo – o poster já manteve – sabe da sua educação e da cortesia com que trata os interlocutores.
Não duvidemos de que o doutor Geraldo disponha de elementos para afirmar que aumentou a reação aos crimes contra o patrimônio e a resposta a esses crimes.
É preciso, no entanto, que esses dados sejam divulgados.
É preciso, estatisticamente, que a Segurança Pública os revele.
Enquanto esses números não são revelados, fica uma grande interrogação no ar.
Se aumentou o número de delitos contra o patrimônio, mas aumentou também a reação, a eficácia da reação tem sido proporcional ao crescente índice de crimes contra o patrimônio?
A Segurança Pública deve dispor desses dados. Que os revele, portanto.

Devemos cuidar dos nossos quintais
Faz bem o secretário Geraldo Araújo em falar claramente.
Não temos mesmo apenas a sensação de insegurança.
Ou por outra, temos sim uma elevada sensação de insegurança porque a insegurança pública é generalizada.
Há uma onda de crimes, de ocorrências delituosas que expõem todos os cidadãos, em qualquer bairro de Belém, a uma enorme, desconfortável, constrangedora insegurança.
“A expressão sensação de insegurança foi riscada do meu dicionário. A situação é grave, mas não é só em Belém, é nacional”, diz o secretário.
Ponto pra ele.
Ponto nas duas primeiras partes: ao riscar de seu dicionário a expressão sensação de insegurança e ao reconhecer que “a situação é grave”.
O finalzinho, a parte final da declaração é que seria dispensável, doutor Geraldo.
Que a situação da violência é grave em todo o País, sobre isso todos sabemos.
Mas temos que cuidar do nosso quintal.
Moramos em Belém, estamos expostos a bandidos que agem em Belém, não podemos parar em semáforos em Belém, estamos expostos a saidinhas em Belém, amigos e conhecidos sofrem sequestros-relâmpago em Belém, temos medo da violência em Belém.
Precisamos, portanto, de ação eficaz em Belém, de combate ao banditismo em Belém, precisamos andar em paz em Belém, precisamos viver em segurança em Belém.
Da mesma forma, quem mora em Santarém precisa de paz, em Afuá idem, no Pólo Norte, idem idem.
Cada um com o seu cada qual.
Quando o santareno reclama da insegurança, ele não quer saber se a violência é grande em Belém, mas lá mesmo, em Santarém.
Quando o morador de Afuá reclama da violência, ele não quer saber se os índices de violência também são altos em Bombaim, na Índia.
Quando o morador do Pólo Norte toma as suas cautelas em relação aos ursos, ele não faz isso em função dos riscos mortais que as ariranhas representam para alguém que cai num lago de Brasília.
Cada qualquer com o seu cada qual.
Moramos em Belém. Queremos ter paz aqui.
E almejamos que também tenham paz os santarenos, os palestinos, os israelenses, os afuaenses e os moradores do Pólo Norte.
Mas cada qual com o seu cada qual.

As mortes e suas repercussões
“Quando morre um cidadão, ninguém repercurte. Mas quando é alguém da sociedade, a repercussão é grande.”
Doutor Geraldo, com todo o respeito, mas aqui o senhor errou.
Errou mesmo.
É de uma evidência solar, doutor Geraldo, que os crimes têm, sim, repercussões diferentes.
O ato de tirar a vida de outrem é uma barbaridade. Mas o ato de tirar a vida, como barbaridade que é, repercute de forma diferente. É claro que repercute. E por inúmeras razões.
O senhor vai ver.
Não é verdade, doutor Geraldo, que “quando morre um cidadão, ninguém repercute”.
O que é um “cidadão” – conforme sua expressão? Acreditamos que seja um desconhecido, um anônimo, aquele que não é uma celebridade.
Então, vamos lá.
Quem conhecia os meninos emasculados de Altamira?
Quem conhecida Marielma, a garota brutalizada.
Quem conhecia a menor brutalizada a cadeia de Abaetetuba?
Quem conhecida os garotos trucidados nas matas da Ceasa?
Todos os envolvidos nesses crimes são anônimos, doutor Geraldo, são “cidadãos”.
Todos são “cidadãos”, como o senhor diz.
Tanto os autores como as vítimas eram pessoas pobres, sem projeção alguma. Não eram barões. Eram pobres.
E esses crimes foram de enorme repercussão. Uma repercussão nacional, doutor Geral.do.
Por quê?
Por fatores vários: pela brutalidade, pelos meios empregados, pela idade das vítimas, pelas motivações dos autores, por tudo isso.
E “quando é alguém da sociedade”, por que há uma enorme repercusão?
Porque a vítima é alguém da sociedade, doutor Geraldo. Pode ser óbvio, mas é assim.
Doutor Geraldo, “alguém da sociedade” - o sujeito abonado, bem de vida, um indivíduo “de pesses” - tem condições de comprar um carro blindado. Tem condições de morar numa casa cercada de câmeras e com outros mecanismos de segurança. Tem condições eventualmente de contratar seguranças. Tem condições de residir em edifícios cujas entradas são iguais a bunkers.
E muitos desses – bem abonados, ricos, “de posses” – são mortos por assaltantes, doutor Geraldo.
Muitos desses são mortos dentro de casa, doutor Geraldo, como foi o caso do advogado do Grupo Líder.
Muitos desses são alvos das “saidinhas”, doutor Geraldo, como foi o caso do médico Salvador Nahmias.
Muitos desses são mortos na condição de reféns de bandidos, doutor Geraldo, como foi o caso do procurador Marcelo Castelo Branco Iúdice.
Doutor Geraldo, qual o crime que ganharia maior repercussão: o de um pobre homem da periferia de Belém, que mora num casebre de madeira, desprotegido, atirado aos selvagens do banditismo, ou de um ricaço que mora numa mansão cercada por 300 seguranças e dotada de disparador de mísseis para acertar bandidos?
Qual o crime que ganharia maior repercussão? É evidente que ganharia maior repercussão o crime que ceifou a vida do ricaço que vivia na mansão.
A vida do pobre homem da periferia é igualzinha, em valor a ser preservado, à vida do ricaço. Igualzinha.
Um e outro, o pobre e o ricaço, merecem a proteção do Estado. Igual proteção.
Mas o pobre – desprotegido, abandonado – tem 90% a mais de possibilidades de ser vítima de um assaltante do que o ricaço abrigado em seu bunker e que percorre a cidade em carros blindados. E bem blindados.
É por isso, doutor Geraldo, que os crimes, em essência, são os mesmos; a vida, portanto, tem valor idêntico; as repercussões é que mudam.
As repercussões é que são inevitavelmente diferentes.
No mais, não desistir deve ser a palavra de ordem.
Não deve desistir a Secretaria de Segurança de reduzir – pelo menos reduzir – o banditismo.
E nem devemos desistir todos nós, de acreditar que a Secretaria de Segurança tem condições de reduzir – pelo menos reduzir – banditismo.

5 comentários:

Anônimo disse...

Gente, enquanto o governo não pagar a isonomia aos delegados de polícia, nada vai funcionar,para voces terem uma idéia, um Delegado de Polícia com 25 anos de serviço, recebe em média 4,5 mil de remuneração total, enquanto que para um procurador do estado, recentemente foi sugerido pelo executivo, um reajuste para 6.600,00, sem dedicação exclusiva e 8.250,00, com dedicação exclusiva, somente para o seu vencimento básico, trocando em miúdos, um delegado recebe hoje em sua remuneração total, a metade da remuneração básica de um procurador.Eis o xis da questão.

zahlouth disse...

Parabéns pela matéria, com clareza e exposição sobre o tema, bem como retrata com precisão o que queremos falar.

Poster disse...

Anônimo,
A remuneração é essencial, mas, é claro, precisa muito mais.
Abs.

Poster disse...

Dr. Zahlouth,
Obrigado. Tomara que os esforços do dr. Geraldo tenham resultado para melhorar logo essa situação
Abs.

Anônimo disse...

O delegado disse que o barulho iria acabar, mas pelo jeito só foi uma semana de tranquilidade, mas ontem em Campina da Lagoa foi uma tortura com som alto e motos barulhentas,até as 3h da manhã, ninguém conseguiu dormir aqui em Campina da lagoa, pr. Pq é tãi dificil acabar com a baderna do som alto.Acredito que só tem um jeito: apreender as motos barulhentas e as aparelhagem de som e multas. Pq só se doer no bolso, eles aprenderão a respeitar a tranquilidade dos moradores do centro.