No ESTADO DE S.PAULO:
O governo avalia que as denúncias sobre a venda da Varig feitas pela ex-diretora da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) Denise Abreu têm potencial para provocar uma crise maior do que o escândalo do dossiê preparado na Casa Civil com gastos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Apesar das declarações de ministros que tentam jogar água na fervura, o clima no Palácio do Planalto é de preocupação.
Todo o esforço do governo é para blindar a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff - a favorita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para sua própria sucessão, em 2010 -, que, mais uma vez, está na linha de tiro.
Depois de conseguir escapar ilesa da CPI dos Cartões Corporativos, enterrada pelo Congresso, Dilma agora se prepara para a batalha com Denise Abreu. O Planalto procura carimbar a ex-diretora da Anac como uma pessoa "ressentida" e evitar que as acusações atinjam o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Além de apontar a metralhadora para Dilma, Denise provocou a ira de Lula, ao afirmar que o advogado Roberto Teixeira pressionou os diretores da Anac para aprovar a venda da VarigLog ao fundo americano Matlin Patterson e três sócios brasileiros.
Teixeira é amigo e compadre de Lula. Sempre que é citado como homem que faz tráfico de influência, o presidente demonstra profunda contrariedade.
"Não podemos acusar quem entra no Palácio de estar fazendo tráfico de influência", rebateu o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo.
Lula foi informado sobre o teor explosivo das denúncias em reuniões realizadas desde quarta-feira. A partir de então, os ministros da coordenação política do governo foram orientados a destacar, em entrevistas, a importância das declarações do juiz Luiz Roberto Ayoub, coordenador do processo de recuperação judicial da Varig. Motivo: Ayoub qualificou as negociações para a venda da Varig e da VarigLog como "atos jurídicos perfeitos e acabados".
O discurso oficial é o de que o governo está "tranqüilo" em relação ao episódio porque não houve pressão da Casa Civil sobre ninguém nem injeção de dinheiro público na operação. No Planalto, Denise é vista como uma pessoa que cria problemas e age movida por interesses particulares.
Amigos de Dilma juram que ela foi indicada para o cargo pelo ex-chefe da Casa Civil José Dirceu. Ele nega, mas afirma que aprovou a indicação por conhecê-la há muito tempo.
Um auxiliar do presidente Lula disse ao Estado que a relação com a advogada "nunca foi boa". Em conversas reservadas, interlocutores do presidente garantem que é impossível fazer acordo com Denise Abreu como foi feito com José Aparecido Nunes Ferreira, o ex-secretário de Controle Interno acusado de vazar o dossiê produzido na Casa Civil com despesas de Fernano Henrique.
José Aparecido foi à CPI e assumiu sozinho a responsabilidade pela crise, inocentando Dilma e a secretária-executiva, Erenice Guerra.
Em troca, obteve a garantia de que sua punição na Casa Civil não passará de infração administrativa e retomou suas atividades no Tribunal de Contas da União (TCU). O governo considera, porém, que a crise pode se prolongar com Denise em seu encalço.
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