Olha esse tio aí...

Jornalista quarentão – mas jeito e formas de noventão -, com raízes fincadas na região nordeste do Pará, não quer repetir neste domingo o que se passou com ele no domingo passado, no Parque dos Igarapés, o aprazível recanto ao qual se tem acesso ali pelas bandas do Rodovia Augusto Montenegro.

Tudo por causa sua pele clara, muitíssimo clara, quase esbranquiçada, quase sem cor. E também por causa de seus contornos musculares, carentes dos tônicos naturais que o avançar dos anos fez desaparecer.

Ao lado de companhia bem mais jovem, o jornalista chegou ao Parque dos Igarapés, envergou a sunga comprada poucos dias antes nos tabuleiros aí da periferia de Nova Déli (licença aí, Quinta), passou o bronzeador, fez um rápido aquecimento, apalpou os peitoris, sentiu saudades dos tempos em que tinha 15 anos e partiu, todo empertigado, rumo à tirolesa, que, segundo dizem, é como se chama aquela cordinha em que a pessoa se pendura e vai cair no meio do igarapé. Brincadeira mais para crianças, como se vê.

O jornalista esbranquiçado era o primeiro da fila para se atirar n'água. Atrás dele, estavam uns cinco garotinhos. Ao verem aquilo à frente, ao terem aquela visão a um palmo do nariz, não se contiveram. E um disse para o outro, com a irreverência que só as crianças têm.

- Égua, olha aí esse tio aí. Olha só como ele é transparente.

O restante da molecada caiu na gargalhada, enquanto o jornalista não apenas desistiu de mostrar suas habilidades na tirolesa como vestiu-se rapidamente e voltou para casa, onde passou quatro dias, entre enclausurado e amuado.

Saiu de casa apenas hoje, porque sexta é dia de trabalho em dobro nas redações.

Criança diz cada uma...

Criança diz cada verdade...