domingo, 29 de novembro de 2009

Um comércio imoral nas universidades

Por AVELINA CASTRO, do AMAZÔNIA:

Um estudante universitário de 20 anos de idade, de uma faculdade particular de Belém, pagou R$ 180,00 pela compra de um trabalho acadêmico, na última semana. A prática dele não se trata de um fato isolado, mas de uma constante nas instituições de ensino superior de Belém, que dispõem de uma espécie de 'mercado clandestino' de venda de Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC’s), monografias e trabalhos acadêmicos de rotina. Os preços variam muito e chama a atenção, entre outras coisas, o fato de que professores ofertem o serviço. 'Estava sem tempo, com vários trabalhos para entregar e prazos apertados. Então, eu e os outros três integrantes do meu grupo soubemos que uma professora universitária, de outra instituição, fazia o serviço e a acionamos', disse o estudante, que conseguiu a média máxima pelo trabalho (5,0).
Uma estudante, de 19 anos, contou que já ofereceu um trabalho pesquisado por ela a um colega pelo valor de R$ 100,00. 'Meu colega achou caro porque na minha faculdade a média de preços de trabalho é de R$ 30,00 e, por isso, não aceitou fazer o negócio, mas eu venderia tranquilamente se ele tivesse aceitado o preço', disse a universitária, acrescentando que se tivesse 'fechado o negócio' teria feito outra pesquisa para ela. 'Tem muita gente lá na faculdade que faz esse tipo de serviço. Tem até professores que falam na sala de aula que se nós precisarmos é só falar com eles que eles fazem', acrescentou a aluna, que assim como todos os estudantes entrevistados pediram para ter a identidade preservada na reportagem. Nenhum deles fez qualquer denúncia do esquema porque de alguma forma já utilizaram o 'serviço' ou possuem amigos que fizeram uso.
Uma outra universitária conta que já cobrou R$ 20,00 de um colega para colocar o nome dele na equipe. 'Eu já tinha feito vários trabalhos sozinha, sem nenhuma participação dele. Aí da última vez eu disse a ele que se quisesse seu nome no trabalho teria que pagar e ele aceitou', disse a estudante. A jovem de 20 anos revela que não acha certo que o colega não estude e não participe das pesquisas, mas admite que não questionou a postura dele e nem tentou fazê-lo participar do trabalho. 'Nós marcávamos encontros para reunir a equipe e ele nunca ia. Essa foi uma forma de ele colaborar pelo menos com alguns custos operacionais do trabalho', complementou a aluna.
Nos classificados dos jornais locais é possível ver vários anúncios, ofertando a produção de TCCs, monografias, pré-projetos e artigos dentro do padrão exigido pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Os preços variam entre R$ 500,00 e R$ 700,00.
O advogado criminalista Paulo Barradas esclarece, no entanto, que quem faz o trabalho e vende não está cometendo um crime autônomo, mas está participando do crime de quem compra e apresenta o trabalho como sendo de sua autoria. 'O aluno que usa esse serviço e engana a instituição está incorrendo no crime de estelionato porque está usando da fraude para obter vantagem ilícita', disse o advogado.

2 comentários:

Anônimo disse...

Infelizmente essa situação faz parte do arraigado jeitinho brasileiro. universidades e outras instituições de ensino superior, que deveriam ser centros de criação e difusão do saber, de forma alguma podem ser coniventes e devem expressamente proibir e punir essas atitudes (mesmo que seja difícil de ser feito), assim como treinar seu pessoal para identificar, censurar e punir tais fatos, tanto do seu corpo discente quanto docente.

Anônimo disse...

O ato de ensinar é, acima de tudo, uma demonstração de amor ao próximo e um exercício de ética, no seu mais absoluto sentido.

Quando se abre jornais, revistas, blogs e outros instrumentos da midia, o que se vê são professores e dirigentes desentendendo-se por dinheiro e poder (vide o caso UNAMA).

Pior é que também as instituições públicas não se salvam: ora os professores estão em greve, ora estão participando de conchavos de seus pares ou dos lideres políticos que lá atuam, para garantir uma comissão aqui ou uma gratificação ali. E, tudo para não cumprirem seu dever de ministrarem aulas aos pobres estudantes.

Querer que estudantes comecem a agir diferentemente de como agem seus mestres e seus pais - que só desejam benefícios pessoais, sem qualquer esforço é, no mínimo, desconhecer a natureza humana.

Encerro com um plágio a Rui Barbosa, para tentar ser correto com os estudantes:

De tanto prevalecer a desordem, a desonra, a sordidez, a desfaçatez, o descaramento, o cinismo, a insolência, o desbriamento e a traição descarada,tenho vergonha de me declarar educador.