segunda-feira, 30 de outubro de 2023

Na revista da Azul, tudo azul no governo Edmilson Rodrigues. Até a destroçada Praça Batista Campos.



A Praça Batista Campos, um dos logradouros mais preciosos de Belém, figura, com justiça e com louvor, entre as dez praças mais charmosas do mundo.
Isto mesmo: não da Região Norte, não do Brasil, não da América Latina, mas do mundo.
Quem faz este juízo?
A revista Azul, da empresa áerea do mesmo nome, em sua edição mais recente, de número 115, deste mês de outubro que vai terminando.
"Oásis Urbanos - Espaços de convivência e de lazer, algumas praças impressionam pela arquitetura e pelas belas paisagens. Selecionamos algumas das mais charmosas do mundo", dizem o título e o olho da matéria que relaciona dez praças, entre elas a nossa.
Vejam, nas imagem acima, a abertura da matéria e a página em que aparece um dos coretos da Batista Campos, com o texto-legente logo abaixo.
Não deixa de ser uma ironia - das mais tormentosas, admita-se - que esse brinde a Belém tenha sido feito pela publicação da Azul justo num momento em que a Praça Batista Campos é submetida a um abandono que deveria nos sensibilizar a todos. E todos estamos, certamente, sensibilizados, menos, ao que tudo indica, a gestão do prefeito Edmilson Rodrigues.
A praça está, como se diz no vulgo, completamente distiorada. Está destroçada. Desprezada. Catingenta. Caindo aos pedaços. Literalmente.
Os buracos, às centenas, multiplicam-se no calçamento, submetendo ao risco de quedas sobretudo os idosos.
Das 110 lixeiras, mais de 100 não existem mais ou estão quebradas ou sem fundos.
Os lagos, totalmente assoreados com lama, reduzem drasticamente o oxigênio para os peixes.
Ferro, gradil e coretos, em péssimo estado.
Os elementos de madeira, bancos e pontes, de um modo geral quebrados.
A iluminação é péssima.
As barraquinhas que vendem cocos, em sua maioria estão sujas e malcuidadas.
Pra completar, o cocô das garças infesta tudo. bem, o doutor Edmilson não tem culpa que as garças estejam dominando o local e despejando cocô em tudo e todos abaixo delas. Mas a sujeira é, sim, uma responsabilidade da prefeitura, que, se continuar ignorando-a, vai contribuir para que essa questão vire um sério problema de saúde pública.
E, para completar, a prefeitura acaba de fechar o posto da Guarda Municipal, que ainda nos permitia ter um mínimo - mínimo mesmo - de segurança no local.
Essa é a Praça Batista Campos de hoje.
A de ontem, a de antanho, a de 400 anos atrás, esta você só vê na revista da Azul.
Aliás, se quiser conferir a edição completa, clique aqui.

sexta-feira, 27 de outubro de 2023

Guedes, Lira e Damares na lata de lixo: a maior obra de arte da história do Brasil. O nosso "O Grito".

O Grito, de Marília Scarabello: exposição da Caixa só durou uma semana. Poxa! Que pena!

Edvard Munch, vocês sabem, estava em outra dimensão espiritual quando pintou O Grito!
Sua obra virou pop.
É uma espécie de Mona Lisa da angústia.
Enquanto a obra de Da Vinci te enternece, com aquele sorrisinho maroto, a de Munch te angustia. Pelo menos, essa é a sensação que tenho todas as vezes em que a vejo.
Em 2012, a obra-prima de Munch tornou-se a pintura mais cara da história, ao ser vendida em um leilão por US$ 119,9 milhões.
Isso, repita-se, foi em 2012.
Acho que, agora, o nosso O Grito deve bater todos os recordes.
Sim, nós também temos O Grito!
Foi assim que a artista plástica Marília Scarabello denominou sua obra, que retrata Paulo Guedes, Arthur Lira e Damares Alves - personagens incomparáveis, emblemas da inteligência, da brasilidade e da integridade moral que enchem de orgulho a nós, patriotas - na lata do lixo.
A obra estava na exposição denominada "O Grito!", que a Caixa Cultural abriu para o público, em Brasília, no último dia 17 de outubro, com patrocínio da própria Caixa e do governo federal. Custo: R$ 250 mil.
A exposição deveria continuar até 17 de dezembro.
Mas levou o farelo na última terça-feira, dia 24.
Tudo por causa da repercussão de O Grito!
Puxa.
E eu aqui em Brasília, querendo tanto ver O Grito!.
O nosso O Grito!
Que pena!
Mas fica para a próxima.
Mas já vou mandar imprimir essa imagem numa camiseta e numa caneca.
Para depois soltar um grito de felicidade.

O governo Cláudio Castro é um caso de polícia. Porque o Rio está refém das milícias.

O Globo radiografa as milícias: uma aula de jornalismo. Que todo
estudante de jornalismo deveria ler. Como também o governador Cláudio Castro.

No dia em que as milícias queimaram 35 ônibus e um trem e subjugaram meio-Rio, Cláudio Castro, o governador do estado, apareceu com pompa e circunstância. Disse o seguinte: "O crime organizado que não ouse desafiar o poder do Estado".
Bingo!
Naquele dia, a última segunda-feira, 23 de agosto, o crime organizado já estava desafiando o poder do Estado. Já estava desafiando o governo Cláudio Castro. Mais do que desafiando, a milícia estava humilhando a tudo e a todos.
Por quê?
Porque o governo Cláudio Castro é um caso de polícia.
Seu secretário de Polícia Civil, recentemente nomeado, é um caso de polícia.
Conforme revelou o jornal O Estado de S. Paulo, Marcus Amim já foi condecorado por um deputado que tem ligações com milicianos no Rio. Trata-se do deputado estadual Márcio Canella (União), que lhe concedeu a medalha Tiradentes.
As milícias não nasceram, é claro, no governo Cláudio Castro. Começaram a fincar seus tentáculos há cerca de duas décadas. Mas, sem dúvida, o "poder do Estado" nunca foi tão fraco para contê-las.
O jornal O Globo começou a publicar, desde ontem, uma séria de reportagens que traçam uma radiografia assustadora dessas organizações criminosas.
É jornalismo puro. Na veia.
Todo estudante de jornalismo deveria ler, para jamais render-se aos releases e aos discursos oficiais. Como também Cláudio Castro deveria esmiuçá-las. Para saber que, de fato, um Estado, o das milícias, está triunfando sobre um outro Estado, aquele formal, que o governador imagina representar.
Lendo as reportagens de O Globo, somos condenados, infelizmente, a nutrir a fortíssima sensação de que o Rio, definitivamente, mexicanizou-se (não sei se já li essa expressão por aí, nos últimos dias. Se li, é isto mesmo: mexicanizou-se).
As milícias não poupam ninguém. E, evidentemente, castigam, espezinham, praticam uma crueldade tamanha sobretudo contra os trabalhadores mais pobres, que precisam fazer biscates para sobreviver.
Todos precisam pagar taxas mensais por uma proteção que não existe e nunca existirá. 
Pois vocês sabem os flanelinhas? São extorquidos pelos milicianos.
Os vendedores de bombons nos cruzamentos? Também.
Os mototaxistas? Idem.
Motoristas de táxi com pontos nas áreas dominadas pelas organizações milicianas? Eles, inclusive.
Pequenas empreendedoras, bravas mulheres que trabalham em salões de beleza? Sim, elas também.
Um horror, meus caros.
Um horror.
O Rio está refém das mílicias, de um lado, e dos traficantes, do outro.
Com Cláudio Castro, o durão, pelo meio.

quinta-feira, 19 de outubro de 2023

A Gentil virou um inferno: livrai-nos do mal, doutor Edmilson!

Esta foto, meus caros, é meramente ilustrativa, entenderam?
Não é da Avenida Gentil Bittencourt. Mas bem que poderia ser.
Somos todos Edmilson!
Claro que somos.
Se não o formos, o que restará de nós, né?
O governo Edmilson começou a dar uma guaribada nas principais vias de Belém. Ao que parece, já está pensando na COP 30, em 2025, quando a cidade - temos a mais absoluta, a mais inabalável certeza - estará um brinco. Se já está agora, vocês imaginem, então, em 2025.
Pois é!
Como parte desse esforço heróico, a prefeitura começou a fazer o recapeamento asfáltico da Avenida Gentil Bittencourt.
Nesta quinta-feira (19), de manhã, os trabalhos começaram num trecho da via, entre Doutor Moraes e Benjamin, no bairro de Nazaré.
O trânsito na área está um inferno.
Repita-se: um inferno.
Praticamente apenas um terço da largura da rua está disponível para o tráfego.
É ótimo que o doutor Edmilson nos livre do mal que representam os atropelos na mobilidade urbana, o que inclui deixar vias de grande circulação de veículos em condições ideais de tráfego.
Mas, para livrar-nos do mal da imobilidade urbana, é preciso que o doutor Edmilson nos condene a um outro mal, o da imobilidade urbana, enquanto as obras de recapeamento asfálticos são realizadas?
Não seria possível fazer esse trabalho à noite, de madrugada ou aos domingos, quando o trânsito é menos caótico em Belém?
Para livrar-nos de um mal, é necessário que o governo Edmilson crie um outro mal?
Livrai-nos do mal, doutor Edmilson.
De qualquer mal.

quarta-feira, 18 de outubro de 2023

Na CPI do Golpe, as bocas que expelem o amor são as mesmas que cospem ódio. Vou pra lá!

CPI do Golpe: aprenda com Suas Excelências lições inesquecíveis de amor e ódio.

Desde a manhã, quando acordo, até a noite, quando durmo, procuro inspirar-me nos exemplos dos bons para alcançar, como eles, a salvação eterna.
Todas as vezes em que busco acelerar esse processo, sintonizo ou a TV Senado ou a TV Câmara.
Hoje, não foi diferente.
Desde o início da manhã, acompanho a sessão da CPI do Golpe de 8 de Janeiro que está votando o relatório da senadora Eliziane Gama.
De dezenas de bocas de Suas Excelências, aprendi ensinamento bíblicos - sobre amor, concórdia, tolerância, solidariedade, justiça e verdade - que me levaram à beira das lágrimas. E haverão de tornar-me, certamente, uma pessoa melhor.
Das mesmíssimas bocas de Suas Excelências, aprendi lições e exemplos inesquecíveis - de ódio, preconceito, intolerância, desonestidade intelectual, mentira e injustiça - que me levaram ao torpor da mais incontrolável estupefação. E haverão de tornar-me, certamente, uma pessoa pior.
Agora, eu, um homem prenhe de bondades, estou acionando o meu lado prenhe de maldades (quase todas aprendidas com as lições dos membros da CPI) para sopesá-las.
Não sei o que pode resultar da soma de bondades e maldades.
Se eu não chegar a nenhuma conclusão, já sei o que vou fazer: não vou nem para Pasárgada, onde seria amigo do rei, mas para o Congresso, onde a verdade não é, propriamente, a verdade.
Mas a verdade de cada um.
Dos bons e dos maus.

segunda-feira, 16 de outubro de 2023

Desembargador do TRT8 enfrenta não uma, mas duas reclamações disciplinares no CNJ


O desembargador Georgenor de Sousa Franco Filho, um dos mais antigos do Tribunal Regional do Trabalho e que atualmente preside a 4ª Turma do TRT8, enfrentará não apenas uma, mas duas reclamações disciplinares que pedem seu afastamento cautelar do cargo, após intervenções que ele fez durante reunião do Colegiado, no dia 10 de outubro passado.
Uma reclamação disciplinar, a primeira, foi instaurada pela própria Corregedoria Nacional de Justiça, para apurar se o desembargador violou deveres funcionais da magistratura. É que, durante a sessão da Turma, Georgenor manifestou contrário ao pedido de uma advogada que, na iminência de dar à luz, queria que fosse adiado o julgamento de um processo em que ela faria sustentação oral. “Gravidez não é doença, adquire-se por gosto", reagiu Georgenor, ao rechaçar o pedido.
Na última sexta-feira, dia 13, dois dias após ser instaurada a reclamação disciplinar da Corregedoria, o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil protocou uma outra, demonstrando que Georgenador pode ter incorrido em "violações às prerrogativas das advogadas e advogados e aos deveres funcionais da magistratura, além de comentário ofensivo à democracia".

Hamas
A OAB junta à sua reclamação um vídeo em que o presidente da Turma, "de maneira abrupta e desrespeitosa", cortou a palavra do advogado que estava na tribuna, Lafayette Bentes da Costa Nunes, "e fez menção - em um contexto que demonstra ofensa à democracia - ao grupo Hamas que recentemente atacou civis em Israel".
“É. Democracia faz parte. Antes a democracia daqui do que a do Hamas. Mas se quiser a gente adota a do Hamas também”, diz Georgenor, conforme reforça a reclamação formulada pela OAB ao Conselho Nacinal de Justiça (CNJ).
Para os reclamantes, "as atitudes do desembargador, concernentes à maneira abrupta de calar o advogado que estava na tribuna, bem como ao comentário ofensivo à democracia ao citar um cenário de guerra, acarretaram em descumprimento de seu dever de tratamento urbano entre as partes e de cumprir com serenidade os seus atos de ofício", conforme previsto em vários dispositivos do Código de Ética da Magistratura Nacional e da Lei n. 8.906/94, que dispõe sobre o Estatuto da Advocacia e a OAB.
Assista, acima, ao vídeo em que o Espaço Aberto compilou as duas intervenções do magistrado que ensejaram as reclamações em curso perante o CNJ.

terça-feira, 10 de outubro de 2023

A cegueira ideológica impede que, mesmo numa guerra cruel, perceba-se a crueldade da guerra


Qualquer julgamento configura um processo muito delicado, porque a predisposição natural das capacidades humanas de fazer certos juízos não se limita apenas a constatar os fatos, mas a valorá-los. E a valoração de fatos pode levar a que se ache, por exemplo, que A na verdade é B. Ou vice-versa. Independentemente dos fatos, reforce-se.
Os ataques do Hamas, deflagradores da nova guerra entre Israel e palestinos, dão ensejo a uma nova onda de leituras ideológicas reducionistas, tendentes a achar que a luta trava-se entre esquerda x direita, entre imperialismo x anti-imperialismo, entre sionistas x antissionistas. Como essa leitura também despreza os fatos, configura-se um tragédia de outro viés: ignora-se a crueldade. E isso é muito, mas muito cruel.
Assim, quando o ardor ideológico se sobrepõe a tudo o mais, danem-se os fatos, dane-se a realidade. E viva as verdades de cada um!
Ignoram-se que as crueldades não são de esquerda ou de direita. São crueldades.
E ignoram-se que violações legais não são de esquerda ou de direita. São violações legais.
Simples assim.

A crueldade israelense
Israel foi atacado pelo Hamas e tem o direito de retaliar. Como em qualquer guerra, é evidente que a retaliação inevitavelmente haverá de atingir civis, mesmo que eles não sejam o alvo primordial da retaliação. Como é uma guerra, Israel tem o mais legítimo direito de defender não apenas os judeus, mas todos os que se encontram em território israelense, inclusive, diga-se, palestinos, muçulmanos de outras etnias e cristãos (entre eles católicos, lembrem-se).
No seu dever, assegurado pelas leis internacionais, de retaliar uma agressão, Israel tem o direito de cercar a Faixa de Gaza (o que chega a ser uma redundância, note-se, porque Gaza vive permanentemente cercada), sobretudo se estiver mesmo nos preparativos para uma incursão terrestre, como analistas preveem que vai acontecer.
Mas o direito de se defender e retorquir uma agressão não permite a Israel bloquear o envio de medicamentos, alimentos e água para os palestinos.
Alguém será capaz de defender o bloqueio - não o cerco, repita-se - a Gaza?
Alguém acredita que deixar com fome e com sede contingentes populacionais que já vivem na miséria é expediente acolhido pelas leis internacionais?
Alguém acha que privar idosos, doentes e crianças de comida, água e remédios, condenando-os a essa privação justamente neste momento trágico, é uma estratégia de guerra aceitável?
Alguém acha que o bloqueio a Gaza vai castigar apenas integrantes do Hamas (se é que eles estão sendo mesmo castigados) por privação de suprimentos de primeira necessidade?
Não é crível que alguém chancele essa crueldade, a menos, é claro, que esteja contaminado de fervores ideológicos insuperáveis.

A crueldade do Hamas
E o Hamas?
O Hamas é um grupo terrorista.
É fato que o Hamas é um grupo ultra-radical, opressor, obscurantista e fanático. É um grupo que, dentre os 2 milhões de residentes na Faixa de Gaza, tem apoio apenas de uma minoria e, portanto, não representa os anseios legítimos do povo palestino por um Estado.
O Hamas, não se esqueçam os esquerdistas, é um grupo fanático que oprime mulheres de forma animalesca. Repita-se: animalesca. Bem entendido?
O Hamas, não se esqueçam os esquerdistas, mantém no interior de Gaza uma ditadura das mais cruéis, das mais sangrentas, das mais tenebrosas. Uma ditadura top, entenderam bem?
Ainda que se faça a concessão ao Hamas, reconhecendo-lhe o direito de lutar por um Estado palestino, será possível alguém achar que o Hamas tem o direito de tornar civis como "escudos humanos"?
Será possível achar que o Hamas tem o direito de tomar inocentes como reféns?
Será possível alguém achar legítimo que um grupo armado anteponha inocentes às armas adversárias, como garantia de proteção da vida de militantes extremistas que não reconhecem outras leis quaisquer, que não as suas próprias?
Alguém acha que o Hamas teria o direito de deflagar um ataque e, em meio a isso, ingressar em território inimigo e executar, literalmente executar, inapelavelmente e sangue-frio, dezenas de civis, como os que estavam numa rave em área próxima a Gaza?
A crueldade desta guerra exibe, igualmente, as violações legais mais flagrantes de um lado e de outro.
A crueldade desta guerra exibe, igualmente, a crueldade dos fervores ideológicos.
A cegueira ideológica impede que, mesmo numa guerra cruel, perceba-se a crueldade da guerra e a crueldade que representa essa complexa e trágica questão envolvendo Israel e palestinos.

segunda-feira, 9 de outubro de 2023

O que tem uma senhorinha indefesa e desatenta a ver com a vulnerabilidade de Israel diante do Hamas

Prédio é bombardeado por Israel na Faixa de Gaza, em retaliação ao ataque do Hamas

Estive em Israel em 2016.
Em Jerusalém, visitei, é claro, o Muro das Lamentações, um momento de emoção indescritível.
À entrada do Muro, que tem um dos controles de segurança mais rigorosos de Jerusalém, em decorrência do risco de atentados, presenciei cena chocante.
Todos os turistas são avisados, à exaustão, de quem não podem fotografar os ambientes na área de entrada do Muro. Por motivos de segurança, é óbvio.
Eis que eu me encontrava um pouco atrás de uma senhorinha. Sabe-se lá por que, ela resolveu passar a mão no celular e comeou a tirar fotos. Acho que fez até selfies.
Um dos seguranças, posicionado próximo à catraca, reagiu de forma incontrolavelmente furiosa.
Além de berrar impropérios - e ninguém precisa entender o hebraico para ter certeza de que eram impropérios -, a impressão que se tinha era que o homem estava na iminência de agredir fisicamente a mulher ou mesmo prendê-la.
Felizmente, ele não fez nem uma coisa, nem outra, mas obrigou-a a apagar, na mesma hora, as fotos que ela fizera no celular e mostrar-lhe o aparelho, para confirmar se tinha mesmo apagado todas as imagens.
A senhorinha, em prantos e à beira do pânico, obedeceu às ordens e só então pôde entrar no recinto do muro, não sem antes, acredito, festejar três coisas: não ter sido estapeada, não ter sido presa e não ter perdido o celular, que poderia muito bem ter sido confiscado pelo segurança.

Motos e parapentes
Lembrei-me muito desta cena desde o último sábado, quando extremistas do Hamas começaram a atacar Israel - Jerusalém, inclusive - com uma chuva de foguetes, ao mesmo tempo em que, de forma inédita, inesperada e inexplicável, conseguiram vencer os controles de segurança israelentes, inscritos entre os mais seguros do mundo, e fazer uma incursão terrestre ao território do Estado judaico.
O ataque foi a partir da Faixa de Gaza, um enclave de apenas 360 km quadrados, mais ou menos equivalente ao município de Colares e cerca de duas vezes maior do que Benevides, aqui perto de Belém.
Drones, sensores de altíssima potência, satélites e outros meios tecnológicos avançadíssimos monitoram, as 24 horas do dia, toda a extensão fronteiriça entre Gaza e o território israelense.
Mesmo assim, algumas dezenas de extremistas, usando motos e parapentes - sim, meus caros, não tanques, mas motos e parapentes - para ingressar em Israel por terra, driblando todo o sistema de inteligência israelense, também invejando como dos mais eficientes e eficazes do planeta.
Mas, à entrada do Muro das Lamentações, uma senhora indefesa foi reprimida violentamente por sua desatenção. E foi desatenção mesmo, porque ninguém haverá de convir que uma pessoa, deliberada e ostensivamente, será capaz de desafiar, bem na frente de seguranças fortemente armados, os protocolos de segurança de um país como Israel. 
A falha gigantesca, inexplicável e intolerável, representada pela "invasão" de uma pequenísima parte do território judaico por terra, não pode levar, no entanto, à ilusão de que estaria comprovada uma suposta paridade de forças em mais este confronto entre o Hamas e Israel.

A extinção do Hamas?
Não há, evidentemente, comparação entre o poderio bélico israelense e do Hamas. Daí não se imaginar a quantas pode ir a afirmação do governo de Israel de que este conflito representará uma mudança de patamar na forma como o Estado judaico tem tratado o grupo extremista. Mas dez, entre dez analistas, apostam que a retaliação terá como objetivo esmagar o Hamas a ponto de extingui-lo.
Independentemente, todavia, do alcance da resposta bélica de Israel e da resistência a ser oposta pelo Hamas, é trágico, é terrível, é horroroso o sacrifício de milhares de vidas civis - sejam isralenses, sejam palestinos, sejam de que nacionalidade ou confissão religiosa forem - decorrentes de um conflito iniciado em meados do Século XX e sustentado ao longo dos tempos por ódios alimentados dia a dia, agravados pela incapacidade da diplomacia em fazer com que o bom senso prevaleça acima de todas as diferenças.