No AMAZÔNIA:
Depois de dar à luz o quarto filho, Tatiane Bentes do Rosário, 23 anos, sentiu na pele a dura realidade dos municípios paraenses, cena comum todos os dias na capital, com o vaivém de ambulâncias do interior na porta dos hospitais de pronto-socorro de Belém, onde muitas vezes os pacientes vêm acompanhados apenas dos motoristas das ambulâncias. Essa é a situação de Tatiane, trazida de Santo Antônio do Tauá, nordeste paraense. Depois de ser recusada na Santa Casa de Misericórdia do Pará com seu bebê recém-nascido nos braços, ela deu entrada, na noite de 1º de janeiro, no Hospital Pronto-Socorro Mário Pinotti (14 de Março). Lá, mãe e bebê receberam atendimento, mas a paciente ficou internada no Hospital sem acompanhante e sem idéia de como voltar para casa. Na tarde de ontem, o Departamento de Urgência e Emergência da Secretaria Municipal de Saúde (Sesma) tentava fazer contato com a Prefeitura de Santo Antônio do Tauá para que resgatasse Tatiane e seu bebê, que já podem receber alta.
Origem - O drama de Tatiane começou no último dia do ano, quando deu à luz um menino, em seu município de origem, mas, por complicações no parto, foi mandada para Santa Casa de Misericórdia, onde não obteve o atendimento. 'O quadro da mãe e do bebê não se enquadram no perfil de atendimentos do HPSM Mário Pinotti, mas, mesmo assim, nós recebemos os dois pacientes, que foram internados e recebem os atendimentos necessários para estabilizar o quadro clínico do bebê, que apresentava escoriações no corpo e febre. A mãe também apresentava febre, mas já está estabilizada e devem receber alta em breve. A preocupação agora é o transporte para os dois pacientes até o seu município', informou Kendra Botelho, diretora do Departamento de Assistência à Saúde da Sesma.
Tatiane, a mãe do bebê, também está preoucpada. 'A ambulância simplesmente me largou aqui na porta do pronto-socorro e voltou para Santo Antônio do Tauá. Estou rezando para que a direção do hospital, que já veio falar comigo, consiga viabilizar o meu transporte para casa', contou Tatiane.
Segundo Kendra Botelho, a direção do HPSM da 14 de Março está solicitando à prefeitura de Santo Antonio do Tauá que envie a ambulância de volta para buscar Tatiane com o bebê, mas se não houver o atendimento, vai providenciar, através do serviço de assistência social, o retorno da paciente ao seu município de origem.
Ananindeua - O drama de Tatiane se repete com muita frequência nos hospitais da capital, já que a maioria dos municípios paraenses habilitados na Gestão Plena do Sistema Municipal de Saúde, isto é, que deveriam arcar com seus pacientes desde o nascimento até os problemas mais complexos de saúde, ainda encaminha grande parte do seu atendimento para Belém. Só no primeiro semestre de 2008, oito cidades da Região Metropolitana de Belém (RMB) e do Nordeste paraense foram responsáveis por cerca de dois mil partos em Belém, dos quais Ananindeua, apesar de ser o segundo maior município, lidera a lista, com cerca de 1.400 partos, segundo estatísticas do Departamento de Regulação da Sesma.
O município de Ananindeua ainda é também o que mais envia pacientes para atendimento de urgência e emergência no Pronto-Socorro da14 de Março, a principal referência do Pará nesse tipo de atendimento, com um percentual de 48% dos pacientes que vêm do interior, mas, nas estatísticas, a lista dos outros municípios que enviam muitos pacientes para Belém é muito grande, passa de 100 municípios.
Segundo dados estatísticos do HPSM, de toda a demanda que vem do interior, e que corresponde a quase 50% dos atendimentos.
Os números de 2008 ainda não foram fechados, mas, em 2007, de um total de 110 mil pacientes atendidos pelo HPSM, quase 48 mil pacientes vieram de outras localidades, principalmente de Ananindeua (34%) Marituba (6,16%) e Barcarena (3,7%).
Santa Casa - Em Belém, a Santa Casa, que recusou a paciente Tatiane por superlotação, é referência estadual em Obstetrícia de alto risco e responde por um terço dos leitos para obstetrícia em Belém.
Na capital existem 2.687 leitos disponibilizados para o SUS.
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