sábado, 10 de janeiro de 2009

Emoção de chegar aos 100

No AMAZÔNIA:

Alguns se acham velhos por terem andado de bonde em Belém. Pois bem; o paraense Brundízio Damasceno Ferreira pode se orgulhar de ter trabalhado na implantação de trilhos para os bondes no bairro de Nazaré. Esta foi uma de várias profissões que ele já teve durante seus 100 anos de vida, completados na última terça-feira, dia 6. Hoje, ele reunirá quase todos os seus 134 parentes diretos para um coquetel no distrito de Icoaraci, onde boa parte deles mora.
A receita para a longevidade é uma receita para lá de regional: até cinco litros de açaí por dia com farinha, peixe, zero de cigarro, quase nada de álcool (um cálice de vinho por dia) e muita fé em Deus. Assim ele criou seis filhos - dois deles falecidos - e viu crescerem 40 netos, 75 bisnetos e 15 tataranetos.
Pela ausência de doenças, parece que Brundízio ainda viverá bastante tempo. Os únicos problemas de saúde são uma vista embaçada, por causa de uma operação contra catarata, e uma tontura esporádica. Ele está totalmente livre de qualquer pressão alta, diabetes e doenças cardíacas. Pelo menos até agora.
Outra qualidade que orgulha o homem centenário é a boa memória, que impressiona seus descendentes. Brundízio lembra de detalhes de sua infância, vivida na ilha do Marajó, onde ele nasceu. Ele conta que até os 17 anos morou no Camará, em um terreno onde hoje fica o porto de mesmo nome, principal entrada da ilha, trabalhando na roça com seu pai. A partir daí, ele resolveu morar em Belém, para 'aprender o que é patrão e empregado', como ele próprio diz. Na capital, ele foi carregador de caminhão, implantador de trilhos, distribuidor de carne e insiste em dizer que foi funcionário em uma fábrica de tecidos no Igarapé das Armas, antiga nomenclatura da avenida Visconde de Souza Franco, a Doca. Casou no dia 31 de julho de 1931, com a filha de um comandante naval e, daí até a aposentadoria, aos 68 anos, trabalhou em embarcações estaduais.
Sua maior saudade é da ausência de violência em Belém durante sua juventude. 'A convivência era de irmãos. De 17 até 20 anos eu não vi uma morte em Belém. Dos anos 40 para cá que a coisa piorou muito, com muitos assassinatos', conta. 'Não achava que chegaria aos 100. Daqui em diante, o que Deus quiser que eu viva está bom', completa.

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