No AMAZÔNIA:
Por Josiele Sousa
Belém completa 393 anos mais violenta e insegura. Quem vive na cidade é assombrado pela ameaça de ser assaltado ou morto por algum bandido. Mesmo com os anúncios de compra de novas viaturas, armamento e realização de vários concursos públicos para reforçar o policiamento, a população sente que nada impede o avanço da criminalidade e cada vez mais os belenenses e quem ousa visitar a capital paraense se arriscam em perder a vida ao botarem os pés nas ruas da cidade.
Nos bairros periféricos, como Jurunas e Terra Firme, vistos como os mais violentos da cidade, cidadãos tentam se proteger como podem com grades e até deixam de fazer o que gostam, como bater papo em frente de casa ou sair à noite para tomar uma cerveja com amigos. O que prevalece é o medo. Mas isso não se restringe aos bairros mais carentes. Também é realidade nos bairros de classe média e média alta, como o Umarizal, palco de inúmeras tragédias marcadas pelo sangue de vítimas de latrocínios. O caso mais recente foi o do procurador municipal Marcelo Castelo Branco Iudice, assassinado com um tiro na cabeça na noite do dia 7, após um roubo a uma farmácia na travessa 9 de Janeiro, entre as ruas Boaventura da Silva e Domingos Marreiros.
Quem tem mais dinheiro, como os empresários e profissionais liberais bem remunerados, também não pode usufruir o que conquistaram com liberdade. São reféns de assaltantes especializados em 'saidinhas' de banco, uma modalidade de roubo em que as vítimas sacam altas quantias de agências e pagam com a própria vida se decidem reagir. Nas 'saidinhas', a população mais humilde é que mais sofre porque o pouco que é roubado sempre vai fazer falta.
No Jurunas, os comerciantes trabalham atrás das grades para evitar que os bandidos invadam os estabelecimentos. Mas nem sempre a estratégia resolve. A comerciante Maria Mendes, de 48 anos, já foi roubada em sua lanchonete, situada na travessa Honório José dos Santos. Residente há 15 anos na travessa, ela é firme em dizer que a violência chega a ser absurda no Jurunas, de forma que a maioria vive sitiada em suas residências e negócios. 'Estamos péssimos aqui. Temos de viver gradeados. Eu trabalho insegura. Nos finais de semana é bala para tudo quanto é lado. Todo dia tem assalto. Já morreram alguns bandidos, mas continua perigoso', disse a comerciante. Desde a chegada de um grande supermercado ao bairro, os assaltos aumentaram ainda mais, trazendo mais apreensão na vizinhança. 'Os clientes saem de lá e os bandidos levam as sacolas deles', contou.
Morador do Jurunas diz que PMs dormem em base móvel
Um proprietário de uma oficina, que prefere não se identificar, reclama da negligência de alguns policiais militares que trabalham à noite no Complexo da Feira do Jurunas. Segundo o ele, os PMs da Base Móvel de Policiamento Comunitário podem ser encontrados dormindo no trailer a partir das 22 horas, enquanto traficantes e ladrões atacam trabalhadores no retorno do trabalho para casa, principalmente na travessa Honório José dos Santos e avenida Roberto Camelier. 'Está violento demais. A governadora (Ana Júlia Carepa) diz que vai colocar mais policiais nas ruas, mas quando eles chegam, não sabem de nada, não conhecem a bandidagem, não sabem nem onde estão trabalhando. Eles têm de conhecer os bairros', frisou o morador.
Na Terra Firme, roubos e cobranças de pedágios por bandidos
A Terra Firme é de longe visto como o bairro mais inseguro e sitiado de Belém. Em setembro, a Secretaria de Estado de Segurança Pública anunciou o início da operação 'Força pela Paz' para combater a criminalidade na área, que lidera os registros de homicídio e lesão corporal feitos nos dois pronto-socorros da capital (Umarizal e Guamá). Mesmo depois de quatro meses e com alguns policiais ainda circulando pelas ruas, pelo menos durante o dia, as queixas ainda são as mesmas: os roubos e a cobrança de pedágio até mesmo para ter o direito de sair de casa sem ser roubado ou morto com um tiro.
Boa parte dos comércios da Terra Firme só funciona de manhã, para evitar os assaltos. Quem se arrisca a trabalhar em meio à violência confessa o receio de ser mais uma vítima nas mãos de criminosos.
A caixa Camila Gabriele Silva, de 20 anos, trabalha há cinco em um supermercado do Complexo São Domingos, área considerada entre as mais ameaçadoras do bairro.
Ela toma todas as precauções para não ser roubada, inclusive vendo com atenção quem se aproxima e identificando quem pode ser um suspeito. A jovem confirma que quase sempre acontecem roubos na passagem São Domingos, mas ninguém pode fazer nada para impedi-los. Os comerciantes se previnem pagando segurança particular, o que nem sempre garante a segurança total. 'Os ladrões atacam mais açougues', disse a caixa de supermercado.
Perigo é permanente, afirma dona-de-casa
Os moradores da Terra Firme convivem ainda com ameaças diariamente. A dona-de-casa Joycilene Alves dos Santos, 30, garante que o perigo é permanente. Ela mora no bairro há 16 anos e acha inaceitável tantos crimes. 'As ruas Celso Malcher e a passagem São Domingos são muito perigosas. Os bandidos assaltam na frente de casa mesmo. Não querem nem saber'. Ela e o marido assistiram a um roubo feito com muita crueldade por homens armados quando saíam de casa. Um caminhão de aterro estacionou e os bandidos aproveitaram para atacar o motorista, pois ele não teria como escapar pela via estreita.
'Fizeram o motorista se ajoelhar no chão. Ele pedia pelo amor de Deus para não morrer porque tinha família. Nós temos medo de denunciar porque quando sabem que fomos nós que contamos para a polícia, os bandidos querem até tocar fogo nas nossas casas', disse Joycilene. 'Nesse pedaço da Terra Firme (passagens 24 de Dezembro, Lauro Sodré, São Domingos e Ligação e rua Celso Malcher) só mesmo Jesus para nos salvar', lamentou.
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