sábado, 21 de junho de 2008

China – a nova superpotência

Na ÉPOCA:

Quando as gêmeas nasceram, há 18 anos, na província de Liaoning, no nordeste chinês, seus pais se sentiram abençoados. Era como tirar a sorte num país que proíbe mais de um filho. Ter gêmeos era uma forma de driblar legalmente o decreto governamental que criou na China uma geração de 90 milhões de filhos únicos – estudiosos, trabalhadores, competitivos, patriotas e orgulhosos de ser chineses. Num país de mais de 5 mil anos, regido mais pela superstição que pela religião, os pais deram às filhas os nomes de Chen Huizi e Chen Liangzi. Chen é o sobrenome das gêmeas (na China, o nome de família vem em primeiro lugar). Huizi significa “filha inteligente”, e Liangzi “filha de bom coração”.
Elas tinham 17 meses quando seus pais se divorciaram. O divórcio ainda é um tabu tão forte na China que as duas mentiram para mim num primeiro momento: disseram que o pai havia morrido. Como os jovens do interior, de família pobre com alguma posse, Huizi e Liangzi foram enviadas a Pequim para estudar na universidade. Dormem com mais quatro estudantes. Não usam celular porque a mãe acha caras as tarifas. São exceção. Há mais de 540 milhões de celulares na China. As gêmeas querem ser aeromoças. “Para aprender etiqueta, saber comer com garfo e faca e voar no céu”, diz Huizi, cinco minutos mais velha que Liangzi. Não sonham casar tão cedo. Acham a vida de casada um tédio.
Sua diversão maior é cantar nos karaokês, numa das centenas de salas fechadas e computadorizadas, em prédios da rede Party World, onde imitam suas cantoras favoritas: a coreana Cai Yan ou a banda S.H.E, de Taiwan. As duas irmãs acham o presidente, Hu Jintao, e o primeiro-ministro, Wen Jiabao, “boas pessoas, que se preocupam com os pobres e os velhos”. Sabem que a internet é filtrada por dezenas de milhares de censores, mas não se importam. “A internet é proibida”, diz a “filha inteligente”. Elas não têm televisão. Devem assistir às Olimpíadas na TV comum da universidade. Não imaginavam que os Jogos já custaram ao país US$ 34 bilhões, nem avaliam quanto isso significa, porque recebem 600 iuanes de mesada (US$ 90). Sabem que a festa olímpica vai começar no dia 8 do mês 8 de 2008, porque o número oito tem o som de “prosperidade” no mandarim, idioma chinês.
Encontrei Huizi, a “inteligente”, ao lado de uma escola de wushu, conjunto das artes marciais chinesas, à espera do namorado. Estava vestida como posou para a foto ao lado, um visual pop. Sua irmã foi produzida num longo de seda vermelho da estilista Gu Lin. Nos trajes, a convivência entre o novo e o antigo na China borbulhante de hoje. O calor era tão intenso em Pequim que cobrou um preço sobre a magreza etérea das moças. Liangzi, a “de bom coração”, desmaiou na sessão de fotos na rua.
Para as gêmeas, que vivem num país onde filmes com sexo, livros políticos e shows de rock americano são proibidos, o Ocidente é sinônimo de “mistério”. Para nós, ocidentais, a China é exatamente o mesmo. Um mistério. Na China, um carro é registrado a cada seis segundos. Cidades brotam como cogumelos. Arranha-céus sobem como aspargos no horizonte. A China é um caleidoscópio que confunde, irrita e fascina. Tudo impressiona pela magnitude. São quase 10 milhões de quilômetros quadrados, 1,3 bilhão de habitantes, um quinto da população mundial. São 56 etnias, mas 92% pertencem à etnia Han. O idioma oficial, o mandarim, tem 80 mil caracteres.

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