terça-feira, 22 de setembro de 2009

“Vamos escrever nossos textos em linguagem de gente”

No Blog do Alencar, de José Maria Quadros de Alencar, que é desembargador – ou seria mesmo juiz a denominação, doutor Alencar? – do Tribunal Regional do Trabalho da 8ª Região. O título da postagem dele é simplesmente “Juridiquês”.

-----------------------------------------

O juridiquês caiu na vida e ninguém mais - nem nós juristas - aguenta a barra dele, que ficou pesada demais.
Dia desses, li um recurso em que era dito que a sentença claudicava. Claro que só podia ser um recurso manco. Com todo o respeito aos portadores de necessidades especiais.
Nesse mesmo recurso outro ponto alto do juridiquês, agora cruzado com engenheirês: espessura salarial. Espessura salarial, imagino, é a dimensão vertical da pilha de cédulas quando do pagamento do salário em dinheiro, variável conforme o valor de face de cada uma delas. A metáfora é de escassa utilidade para o discurso jurídico e não consegue ser nem mesmo um arabesco agradável de se ler.
Nesse e em tantos outros escritos jurídicos é comum encontrar a expressão fundiário para se referir ao Fundo de Garantia do Tempo de Serviço - FGTS, quando na verdade ela se refere a terreno ou terra. Assim, quando os coleguinhas dizem depósitos fundiários não querem dizer depósitos de terra como pode parecer, mas sim depósitos do FGTS. Aliás, seria muito engraçado se um dia algum office-boy chegasse no banco com um ou alguns sacos de terra para fazer o tal do depósito fundiário.
Proponho um pacto para os coleguinhas operadores do direito de todos os ramos: vamos largar todos juntos - eu inclusive - o juridiquês e começar a escrever nossos textos em linguagem de gente.

5 comentários:

Anônimo disse...

Que me perdoe o sempre correto Alencar, mas escrever depósito fundiário significando depósito do FGTS não é uso do "juridiquês", e sim péssimo uso da língua portuguesa. O autor de tal texto precisa fazer uma reforma agrária no seu linguajar.

Anônimo disse...

Eu, como membro da sociedade civil não relacionado ao meio jurídico mas dele dependente repetidas vezes, apóio!

Franssinete Florenzano disse...

Outro dia dei boas risadas ao ler uma petição da parte contrária a um cliente, em que alinhava com veemência fatos que simplesmente não existem no caso, talvez fruto do famoso Ctrl C / Ctrl V.

JOSE MARIA disse...

Prezado Bemerguy,

Muito obrigado pela repercussão.

O Conselho Nacional de Justiça decidiu que somos juízes e não desembargadores, e assim continuaremos até que a Constituição da República seja alterada pela chamada PEC paralela da Reforma do Judiciário. Mas como quis evitar custos, decidiu também que não precisava mexer nas coisas onde já estava escrito desembargador. No restante, conforme entendo e pratico, tem que voltar a escrever juiz togado mesmo.

Anônimo disse...

Parabéns, Alencar. Na verdade, quanto mais enrolado mais difícil para o pobre do réu.
E parabéns por seu excelente trabalho como voluntário na UFPA, que muito terá a ganhar com seu saber.
Oxalá muitos, que muito devem àquela instituição, façam como você.