domingo, 11 de janeiro de 2009

Cuba: 50 anos da Revolução


A chamada Revolução Cubana tem como antecedentes os movimentos que ocorreram desde o final do século XIX, quando um país e seu povo se viram dominados por um poder econômico e militar, ditando suas leis de fora para dentro. Acima das ideologias, Cuba foi governada por sucessivas ditaduras. Com a explosão de um navio americano chamado Maine, em Cuba, em 1898, foi declarada a guerra pelos Estados Unidos contra a Espanha, os territórios espanhóis no Caribe e no Pacífico foram invadidos pelos americanos.
Cuba assim permaneceu ocupada pelos americanos até 1902, sendo liberada depois da aprovação de uma emenda chamada Platt, que era uma lei americana que dava o direito aos norte-americanos de invadir Cuba sempre que seus interesses econômicos fossem ameaçados. A emenda Platt permaneceu mantendo Cuba um protetorado dos EUA até 1933. Nesse ano, um golpe militar encabeçado pelo sargento estenógrafo Fulgêncio Batista derrubou a ditadura de Geraldo Machado.
Batista se tornou chefe do Exército, dominou a situação, usando uma orientação social oposta às ingerências norte-americanas. Eleito presidente da República, promulgou a Constituição Liberal. Em 1952, conduziu novo golpe de Estado, apoiado pelo Partido Comunista Cubano. Cuba progrediu economicamente. Mas havia um grande desequilíbrio entre o campo e a cidade. A corrupção, prostituição e negociatas caracterizaram a era Batista, afastando a classe média do regime.
Depois de fracassadas tentativas armadas lideradas por estudantes e diretórios revolucionários para depor Batista, a de Fidel Castro, que fugiu para o México, só teve êxito ao conhecer o médico argentino Ernesto (Che) Guevara (na foto). Em 7 de novembro de 1958, Che, começou sua marcha para Havana. No dia 1º de janeiro de 1959, Batista põe-se em fuga da ilha caribenha, exilando-se na República Dominicana e Fidel Castro é aclamado pelo povo em Santiago de Cuba, no leste da ilha.

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“A revolução cubana só triunfou porque a classe média (o povão) respaldou o golpe. Conforme o tempo passava a revolução cubana passou a exibir sintomas de desencanto.”
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À época, 1º de janeiro de 1959, Natalia Bolivar y Arostegui pertence à classe de mulheres cubanas que trocaram , nos anos 1950, as comodidades pequeno-burguesas pela revolução. Não tinha pais ricos, mas integrava a elite de Havana. Ela estudava pintura na Academia de San Alejandro e era sócia do Havana Biltmore Yatch and Country Club. Para ela, esse foi o dia mais feliz de sua vida e para "95% da população que estavam contra o governo ditatorial de Batista" e apoiava os revolucionários. "Era preciso uma mudança radical" afirmou.
Cuba, em 1958, estava em situação privilegiada em relação à América Latina. A renda per capita naquele ano foi de US$ 345, a quarta do continente, atrás apenas da Venezuela, Argentina e Uruguai. Mas havia o lado escuro: analfabetismo, desemprego e riqueza desigualmente distribuída.
A revolução cubana só triunfou porque a classe média (o povão) respaldou o golpe. Conforme o tempo passava a revolução cubana passou a exibir sintomas de desencanto. Em 1968, Fidel anunciou a Ofensiva Revolucionária, pelo qual o governo expropriou 50 mil pequenos negócios privados - praticamente todos da ilha. O socialismo à cubana - melhor dizendo, o castrismo - era incompatível com a produtividade. Instalou-se a austeridade e o povo se acostumou com os cupons de racionamento.
O país entra na etapa mais negra da intolerância cultural, entre 1970 e 1975, quando os artistas homossexuais foram perseguidos. No episódio conhecido como a "fuga de Mariel", quando 125 mil cubanos migraram para Miami em poucos meses, onde muitos perderam suas vidas.
Cuba tem 11 milhões de pessoas, 1 milhão têm formação universitária e quase 2 milhões, formação técnica. Saúde e educação para todos são os grandes triunfos da revolução de Fidel. Mas, hoje, os hospitais estão em estado deplorável e a qualidade de ensino decaiu muito. A população cubana sobrevive como pode ao regime que não foi capaz de se renovar.
O salário médio é de US$ 20, e não dá para viver assim. Natalia acha que depois de 50 anos, é hora de os dirigentes cubanos pensarem no bem-estar do povo. "Depois de tanto tempo, já é hora de olharem para nós", diz comovida.
A insatisfação do povo cede lugar à conformação, principalmente no interior da ilha. Os cubanos gostam muito de música e a banda preferida dos jovens da Avenida dos Presidentes é Buena Fe, que numa canção pede: "Deus, por favor, salve o rei, de calar a boca da gente. Porque de iguais, somos diferentes".

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SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com

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