Bispos, sacerdotes e religiosos de um modo geral são criticados volta e meia por meterem o bedelho com vontade em questões sociais. A crítica provém daquele segmento que elege a contemplação como único elemento norteador de condutas, muito embora São Tiago tenha pontuado com todas as letras que a “fé sem obras é morta”.
Bispos, sacerdotes e religiosos só devem evitar de pronunciar-se sobre certas questões no púlpito das igrejas, durante as celebrações litúrgicas. Porque ali eles detêm o monopólio da fala, da palavra. Ali, naqueles momentos, ninguém além deles pode falar, contestar, reclamar e contradizer exposições contra as quais eventualmente não concorde. Fora isso, é salutar que os representantes da Igreja falem, sob o risco de incorrerem em omissão.
E religiosos, sacerdotes e bispos não podem, sob qualquer hipótese, omitir-se. Porque omissão, pela lei dos homens, pode eventualmente configurar-se criminosa. E pelas leis de Deus, é conduta igualmente reprovável porque reveladora de covardia e acomodação diante de situações vergonhosas e degradantes. “Eu acuso as nossas autoridades de conivência por omissão”, bradou o bispo a certa altura.
Pois dom José Luiz Azcona, 68 anos, bispo do Marajó, não se omitiu. Veio para Belém, o centro do poder no Estado, convocou a Imprensa e fez até agora uma das mais desabridas e contundentes alocuções contra uma parte, apenas uma parte, das chagas sociais que vêm ultimamente se ampliando de forma assustadora no Pará.
E o que o bispo falou é a pura verdade. Porque também é preciso registrar isso: bispos, religiosos e sacerdotes, mais do que ninguém, não podem e nem devem mentir. Se mentem, resvalam para deslize que lhes tira toda a credibilidade e os relega a plano secundário. E não poderão ser tomados a sério por outros interlocutores a quem eventualmente possa competir tomar decisões efetivas para reverter situações sociais desfavoráveis.
É preciso que se ouça dom Luiz Azcona. É preciso que lhe dêem crédito. É preciso que os Poderes Públicos – cada um com sua parcela de culpa na ampliação de quadros execráveis de degradação humana – saiam do discurso, da demagogia, da politicagem e das promessas para ingressaram no terreno das ações práticas e urgentes. Porque é urgente o combate a situações como as descritas por dom Luiz Azcona.
Disse o bispo do Marajá, por exemplo:
* Que o município de Breve Breves “é um antro de perversão” e de “difícil convivência, por causa de crimes e falta de respeito com a mulher e o menor”.
* Que “todo o Estado está tomado por essa execração que é a exploração sexual de menores.”
* Que num dos rios da região de Breves e Melgaço meninos e meninas de 12 a 16 anos aproveitam o percurso das balsas para subir nas embarcações e se prostituir em troca de carne ou óleo de cozinha.
* Que “os prefeitos de Melgaço e Breves, o Ministério Público, todos conhecem (essa realidade). Ninguém mexeu um só dedo para arrancar essa abominação.”
* Que em dezembro do ano passado a delegacia de Portel tinha 61 presos num espaço onde só caberiam 11. Desses, 17 haviam sido acusados de envolvimento com o narcotráfico. Na carceragem feminina, das seis mulheres, cinco vinham do narcotráfico.
* Que “o tecido social do Marajó está se esfacelando cada vez mais”.
* Que ouviu de dois prefeitos o vaticínio de “que, dentro de alguns anos, o narcotráfico iria eleger todos os prefeitos do Marajó”, afirma o bispo.
* Que o Marajó está sendo refúgio de pessoas degeneradas.”
É o que diz o bispo. É o que ele conta.
É preciso que o ouçam. É preciso que ninguém se omita. Porque omissão é crime. E nas circunstâncias dos casos descritos, crime de uma hediondez sem limites, eis que afeta inclusive crianças, “o bem mais precioso que Deus pôs no mundo”, como descreveu o bispo.
É preciso que se ouça dom Luiz Azcona. É preciso que ele seja ouvido e que se faça alguma coisa, agora e já, para mitigar - pelo menos isso – situações escandalosas e que, por incrível, ainda poderão ser manipuladas em eleições para produzir votos e eleger pessoas que vão se encarregar de ampliação a degeneração no Marajó.
Que se ouça o bispo. E que se aja.
Um comentário:
O Marajó, há anos, é foco do narcotráfico. Narcotráfico gera exclusão social por controle pleno do poder e alienação do Estado, vide favelas do Rio. Há anos foi preso um oficial da aeronáutica em Belém, coincidentemente após o assassinato de um cambista oriundo da oligarquia marajoara. Ou seja, foi mais uma punição dos envolvidos do que uma ação de justiça.
Se for observado o recente relatório da Aeronáutica, sobre o acidente da GOL, não há menção ao CORREDOR DO NARCOTRÁFICO, que existe por que a alta cúpula está envolvida.
Porém se entrevistarem os centenas de pilotos privados atuantes na região, todos conhecem a trajetória que fica "escura" aos radares e liga as fronteiras brasileiras de sudoeste (bolívia) com o norte (marajó)
Mudando o foco para a Marinha, apesar da maior bacia hidrográfica do mundo (Amazônica) estar a mais de 4.000 km de distância do Rio de Janeiro, é no Rio que ficam 75% dos navios de nossa marinha. O que cria um corredor "as the river flows" entre a Colômbia e o Marajó, totalmente tranquilo e calmo para qualquer tráfico.
O exército é uma das presenças mais atuantes na Amazônia por um aspecto inusitado: Servir na Amazônia, quente, inóspita e cheia de malárias, conta o DOBRO DO TEMPO DE SERVIÇO PARA IR PARA A RESERVA e ganha-se adicional no soldo. Mas só para quem não é natural do norte, claro. Nortista é o preto do Séc. XXI no Brasil.
E em paralelo a isso tudo, vem as ONGs, principalmente as religiosas, tentando manter as fronteiras um território livre, por causa dos índios, coitadinhos. Coitados dos que estão nas castas baixas da tribo, estes ficam na merda pra atender aos documentários e manter o custeio da FUNAI e a ininputância judicial, enquanto as castas mais altas passeiam de HILUX, lancha EVINRUDE, Jet Skis, e tem as suas antenas SKY em qq canto de suas ocas-mansões, mantidas também pelo contrabando de combustível em Roraima e de diamantes em Rondônia_Ah, Rondon, pq levastes lá o Mr. Roosevelt?
Enfim, o mesmo Bispo que denuncia, precisa olhar pro próprio umbigo, e ver a parte do dano causada pelas Dorotys da vida. Ou HÁ ESTADO ou NÃO HÁ. O meio termo, a indecisão, a impunidade e a falta de educação e informação, vão afundar não apenas o Marajó, mas toda a Amazônia.
E parte da política da não educação para manutenção do poder ao estado privativo de pequenos grupos, vem historicamente da própria igreja católica....durma-se agora....como?
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